Manipulação de jogos e a crise de imagem das apostas
Investigação do Ministério Público de Goiás sobre possíveis manipulações de jogos arranha imagem de casas de aposta e levanta questionamentos sobre regulamentação do segmento
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Valeria Contado
2 de maio de 2023 - 6h00
No último dia 18, o Ministério Público de Goiás (MPGO) realizou uma operação para investigar a suspeita de manipulação de jogos do Campeonato Brasileiro, nas Séries A e B, de 2022. Além disso, os estaduais Paulista, Goiano, Gaúcho e Matogrossense também estavam sob suspeita das investigações.
Sob o comando do promotor Fernando Cesconetto que iniciou a averiguação do caso em fevereiro desse ano por meio de uma denúncia contra o Vila Nova, em três jogos da Série B. A suspeita é que o grupo tenha cooptado jogadores para cometer penalidades, ou realizar outras ações, como levar cartões amarelos ou vermelhos (em casos de outras partidas), podendo receber uma oferta de valores entre R$ 50 e R$ 100 mil reais.
O promotor responsável pelo caso explicou, em uma coletiva, quais foram os alvos da primeira fase. “Neste momento, (a investigação) se centrou em cinco partidas da Série A do ano passado (2022), ocorridas em novembro. (…) Nessa data, com o cumprimento dos mandados, um dos alvos investigados (um dos atletas), confessou a participação em outro jogo que ocorreu no dia 10 de setembro, também na série A, entre Juventude e Palmeiras”.
Desses, Cesconetto detalhou quais partidas foram avaliadas. Santos e Avaí, tentativa de cooptação para cartão amarelo; Red Bull Bragantino contra o América Mineiro, pelo aliciamento para que o atleta do RB Bragantino fosse punido com um cartão amarelo; Goiás x Juventude, para dois atletas do Juventude tomarem cartão amarelo; Cuiabá e Palmeiras, onde um jogador do Cuiabá foi punido com cartão amarelo; e jogo do Santos contra o Botafogo, com um atleta cooptado com punição de cartão vermelho. O promotor reforça que, a tentativa de cooptação não significa, necessariamente, que o atleta tenha, de fato, realizado a ação.
O MPGO anunciou que, entre as partidas investigadas, seis jogos são da Série A. Nesses, nove jogadores foram alvos de mandados de busca e apreensão. O ge, site da Globo voltado para notícias esportivas, identificou seis desses atletas. São eles: Victor Ramos (Chapecoense), Kevin Lomónaco (Bragantin), Eduardo Bauermann (Santos), Igor Cariús (do Sport), Moraes (Atlético-GO), e Gabriel Tota (ex-Juventude e atualmente no Ypiranga-RS).
Apesar de não haver indícios ou qualquer acusação que os casos tenham a ver, diretamente, com casas de apostas, as suspeitas de manipulação de partidas levantam importantes debates a respeito do tema.
De certa forma, essas acusações colocam em dúvida o sistema, o que gera uma insegurança no mercado. “Se essas notícias de manipulação de resultados, que são negativas para a indústria, começarem a ser uma constante, isso prejudicará a indústria de apostas como um todo. Obviamente, as empresas e as marcas passam a ficar receosas de investir em um negócio que pode acabar prejudicando ou afetando a imagem delas de alguma forma”, explica Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports.
Com isso, a possibilidade de haver consequências para as marcas fica cada vez mais tangível. Além disso, a necessidade de ser feito um fortalecimento de imagem fica mais evidente. Nasce a exigência de políticas para tratar as futuras crises de imagem que isso possa gerar.
Beto Almeida, CEO da Interbrand, explica que as casas de aposta estão trabalhando na evolução do segmento. Ele acredita que é importante que elas entendam como usar o seu próprio algoritmo e tecnologia para mapear as atividades ilegais. “Como em qualquer processo evolutivo, algumas marcas vão perseverar enquanto outras ficarão pelo caminho. O que vai fazer sempre a diferença é a força de cada marca e sua capacidade de atender as mudanças comportamentais de seus públicos”, diz.
Para as empresas de aposta, as discussões devem ser amplificadas acerca de assuntos que se tornam pertinentes para sua proteção no Brasil. Um desses pontos tem a ver com a própria regulamentação do segmento.
O CEO da Heatmap, Renê Salviano, defende que para que as empresas consigam fazer o trabalho de forma correta e séria, é preciso regulamentar. “Assim como em todos os ramos, existem empresas que trabalham de forma séria e outras podem não se preocupar tanto com este tipo de responsabilidade”, diz.
E isso demonstra que se torna impossível fiscalizar e até mesmo se proteger sem que esses sansões sejam feitas no âmbito de premissas públicas. Além disso, existe a necessidade de que sejam traçados marcos legais que tornem mais claros os meios de fiscalização.
Esse processo garantirá clareza dentro do mercado e auxiliará as empresas relacionadas a apostas a inspecionar qualquer atividade ilegal, como explica Marcos Sabiá, CEO do Galera.Bet. “É imprescindível que o mercado de apostas esportivas no Brasil seja definido sob esses princípios para que possamos afastar definitivamente qualquer tipo de suspeita”.
Por fim, as empresas acreditam que, elas mesmas também podem auxiliar na fiscalização de movimentos suspeitos ou não justificáveis. Elas podem observar, por exemplo, volumes em apostas secundárias, ou em jogos que não justificariam, em condições normais, aquela movimentação.
“Ao identificar esses padrões, devemos reportar às federações responsáveis esses movimentos e rastrear as contas que se utilizaram dessa ‘informação’, na tentativa de obter lucros e repassar aos órgãos competentes para que as diligências investigativas possam ser iniciadas”, avalia Darwin Filho, CEO do Esportes da Sorte.
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