Roseani Rocha
11 de dezembro de 2023 - 14h40
João Marcello Bôscoli, Carlos Pitchu e André Barcinski: o trio que quer tornar Paraty sede do melhor “festival-conceito” (Foto: Divulgação)
Ingressos caríssimos, taxas de “conveniência” abusivas, lotações, problemas de infraestrutura e logística, além de mau atendimento ao público. Tudo isso fez parte de alguns dos mega eventos musicais realizados no Brasil nos últimos anos. O ápice e exemplo mais recente foi a morte de Ana Clara Benevides, jovem fã de Taylor Swift, antes mesmo do início da primeira apresentação da cantora norte-americana, no Rio de Janeiro, em novembro – ocasião em que outras mil pessoas passaram mal, sob a forte onda de calor atravessada pela cidade.
Já pensando em um festival que fosse o oposto disso tudo, ou seja, com música, mas também uma infraestrutura de qualidade , o jornalista André Barcinski, ao lado do produtor musical João Marcello Bôscoli e de Carlos Pitchu (ex-Natura), este na área comercial e criativa, com apoio da agência Galeria, conceberam o Maraty.
O festival fará sua estreia na cidade histórica de Paraty, de 14 a 16 de junho de 2024, com programação totalmente gratuita. A proposta do evento é oferecer, para os visitantes, três dias de música de qualidade, em diferentes gêneros, e com uma experiência tranquila. Por isso, inclusive, não haverá atrações simultâneas. Os shows acontecerão na Praia do Pontal – com expectativa de público entre cinco mil e dez mil pessoas – e em um palco-balsa, que percorrerá as ilhas da região, surpreendendo os habitantes locais.
Já para os moradores da cidade o objetivo é fomentar um turismo familiar e que deixe um legado construtivo e perene. Além dos shows, haverá debates, exibição de filmes sobre música e workshops que receberão estudantes da rede pública local, já que a ideia é, também, formação de público. Além disso, 80% da mão-de-obra será da cidade.
Segundo Barcinski, curador junto com Bôscoli, o Maraty reunirá artistas brasileiros e internacionais. Neste caso, também haverá apresentação dos músicos estrangeiros na cidade de São Paulo, na mesma semana do evento, e em outra capital, a ser definida.
“Sempre tive vontade de fazer um festival-conceito, ao estilo de alguns que vemos nos Estados Unidos e na Europa, como o Ypsigrock, na cidade italiana da Sicília, e o Levitation, na França, que promovem, além de música, uma imersão na cultura local”, afirma André Barcinski, que frequenta Paraty há mais de 40 anos e se mudou de vez para a cidade há 13 anos.
Para ele, Paraty tem a vantagem de ser mais bonita que qualquer uma das cidades que já visitou para curtir esse tipo de festival e é mais simples, do ponto de vista de produção, por ser plana, além de ter uma rede de pousadas e restaurantes locais já bem consolidada. Outro ponto positivo ressaltado é a localização geográfica: por estar equidistante entre os municípios de São Paulo e Rio de Janeiro, mas longe o suficiente de cada uma para desestimular o famoso “bate-e-volta”, e assim incentivar que as pessoas se hospedem, de fato, e curtam os três dias de evento e a cidade.
“Queremos substituir o algoritmo pela curadoria”, diz o produtor. E curadoria vai ser o ponto central do Maraty. Os shows, por exemplo, não devem acontecer pela manhã, para respeitar os passeios de escuna que os moradores do local costumam fazer com os turistas. Já a escolha do lineup terá de atingir o ponto de equilíbrio entre qualidade, mas com talentos que não sejam excessivamente midiáticos, para não atrair uma multidão e, assim, atrapalhar a proposta de ser um evento culturalmente rico, mas tranquilo.
Abertura comercial
Para viabilizar o projeto, há duas cotas de patrocínio Legacy, para chamados “founding partners”, orçadas inicialmente em R$ 3 milhões. Uma vez que além da parte comercial, Carlos Pitchu, com apoio da agência Galeria, está desenhando uma plataforma de conteúdo perene do festival na internet, essas marcas estarão sempre associadas ao evento, além de serem coautoras dos compromissos de sustentabilidade que estão sendo desenhados.
Outras três cotas “Branding”, de R$ 500 mil cada, podem ser comercializadas, caso surjam marcas adequadas às propostas do festival. Também estão sendo negociados o apoio de parceiros de streaming / mídia / Pay TV.
No caso das cotas Legacy, as negociações com duas grandes companhias já estão avançadas. Elas e todas as demais marcas envolvidas no projeto devem ser anunciadas no início de janeiro.
André Barcinski conta ter começado a pensar no projeto do Maraty há cerca de sete anos, mas a chegada da pandemia fez tudo fica de novo em suspensão. Agora, o sonho – para ele e para o público que deseje curtir música de qualidade, sem perrengues – vai virar realidade e já faz parte do calendário de eventos oficial da cidade, anunciado pela prefeitura de Paraty, no último final de semana.