Para diminuir descarte, marcas investem em ecodesign
Empresas experimentam novos formatos de embalagem e entrega de produtos, apostando em materiais orgânicos e itens retornáveis
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Karina Balan Julio
22 de julho de 2019 - 7h00
Canudos de metal e copos reutilizáveis estão na moda e representam o esforço de parte dos consumidores para reduzir o descarte de plástico em seu dia a dia. Nas últimas semanas, diversas empresas e entidades governamentais divulgaram iniciativas para diminuir a produção e o descarte de plástico, inspiradas pelo movimento Julho Sem Plástico. A Pepsico anunciou nos Estados Unidos que venderá água potável em latinhas de alumínio, em vez de em garrafinhas de plástico — cuja cadeia de reciclagem ainda não é tão desenvolvida. A P&G, por sua vez, anunciou que está trabalhando para extrair materiais de fraldas usadas para reciclagem. No Brasil, a Prefeitura de São Paulo sancionou ao final de junho uma lei que proíbe o fornecimento de canudos plásticos nos estabelecimentos da cidade. Outras marcas, como Starbucks, AccorHotels, Omo e McDonald’s também vêm diminuindo o uso de plástico em sua cadeia de produção e fornecimento.
Cerca de 42% dos brasileiros estão mudando seus hábitos de consumo para reduzir seu impacto no meio ambiente – Nielsen
O esforço de grandes empresas em adaptar seus produtos e embalagens, de forma a diminuir o uso e descarte de plástico, se enquadra no conceito de “ecodesign” – ou design sustentável.
No início de julho, a Coca-Cola divulgou um programa de inovação aberta, o Beyond Packaging, com o objetivo de encontrar soluções de sustentabilidade e diminuição de resíduos junto a pesquisadores, estudantes e startups. Em outra iniciativa, a empresa desenvolveu uma “garrafa retornável universal”, lançada no ano passado, em um formato único que funciona para várias de suas bebidas e portanto é mais fácil de ser separada e reciclada. Até 2030, a empresa quer que 100% de suas embalagens sejam recicladas globalmente.
A melhor embalagem, contudo, talvez seja aquela que “nem precisa existir” ou que está inteiramente intregada ao produto, na avaliação do designer Barão Di Sarno, sócio da empresa de design Questtonó. “As questões da atualidade exigem mais do que inovação incremental. É claro que mudar materiais é importante, mas não vai dar conta do problema ambiental. O mundo da embalagem precisa ser entendido como parte do produto”, avalia.
No Brasil, algumas empresas têm aproveitado matérias-primas típicas do País para produzir as chamada bioembalagens – aquelas feitas de material orgânico. Uma delas é a Oka Bioembalagens, de Botucatu (SP), que usa fécula de mandioca, fibras de frutas e sementes para produzir recipientes para empresas do setor alimentício, eletrônicos, cosméticos e brindes.
“Acertamos a melhor formulação e design que funcionam bem para este tipo de material. Sempre existirão novos desafios, como a impermeabilização adequada, novas opções comestíveis e biodegradáveis. O transporte também deve ser pensado, motivo pelo qual desenhamos um modelo de licenciamento local, ou seja, com unidades produtivas em todas as regiões do Brasil, já que a mandioca é uma matéria prima tropical, pouco exigente, de baixo custo e alta eficiência”, conta a fundadora e ecodesigner Érika Cezarini Cardoso. Outras empresas, como a Ecovative, têm testado embalagens a partir de cogumelos e outros materiais orgânicos.
O Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico no mundo, produzindo 11,3 milhões de toneladas de lixo por ano. Desse total, 91% é coletado, mas apenas 1,2% é efetivamente reciclado – Banco Mundial
Este tipo de inovação engloba o conceito de “design sistêmico”, conforme explica Barão Di Sarno. “Nesta lógica, o produto é apenas um dos objetos dentro de um grande sistema integrado, que também inclui a embalagem”, explica. Entre os produtos que a Questtonó ajudou a conceber foi o Natura Sou, linha de sabonetes e shampoos da Natura que utiliza pelo menos 70% menos plástico em relação a embalagens tradicionais.
Estratégia circular
Para a Coca-Cola, a aposta para reduzir o descarte de plástico não está somente no design, mas na “logística reversa” e no resgate de embalagens retornáveis. “A partir dos anos 80 e 90, itens descartáveis se tornaram mais convenientes e começaram a pautar toda a nossa vida moderna. O desafio agora é estimular o consumidor a mudar seu hábito novamente”, explica Thais Vojvodic, gerente de sustentabilidade da marca no Brasil, falando sobre o resgate da cultura dos retornáveis.
Já a TetraPak, uma das maiores fornecedoras de embalagens para a indústria, lançou recentemente uma iniciativa para escalar canudos de papel recicláveis. “Há testes de campo em andamento para um modelo de canudo de papel reto, que a empresa espera começar a fornecer ainda este ano para clientes”, conta Valéria Michel, diretora de Economia Circular da TetraPak para as Américas.
Barão Di Sarno também aponta para a tendência da desmaterialização dos produtos. Um dos exemplos disso é o consumo à granel, onde consumidores levam seus próprios recipientes aos pontos de venda para comprar alimentos e produtos de limpeza. “Chamo de ‘tecnotopia’ a ideia de que só a tecnologia vai resolver questões de sustentabilidade, embora ela possa ajudar. Indústrias precisam fomentar novos comportamentos e maneiras de consumir”, diz.
Loop quer reinventar o futuro da embalagem
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