Na guerra das IAs, qual será o impacto para os usuários?
Especialistas acreditam que a alternativa apresentada pelo DeepSeek abre a possibilidade de criação de ferramentas de inteligência artificial mais baratas e acessíveis
Na guerra das IAs, qual será o impacto para os usuários?
BuscarNa guerra das IAs, qual será o impacto para os usuários?
BuscarEspecialistas acreditam que a alternativa apresentada pelo DeepSeek abre a possibilidade de criação de ferramentas de inteligência artificial mais baratas e acessíveis
Bárbara Sacchitiello
31 de janeiro de 2025 - 7h37
Um concorrente ao ChatGPT, que aparentemente consegue entregar respostas e conteúdos com performance igual ao rival, mas que foi construído de forma bem mais rápida e a um custo significativamente menor do que o Vale do Silício imaginou que fosse possível.
Esse pode ser um resumo do DeepSeek, chatbot apresentado neste mês ao mercado pela startup chinesa homônima, que aparentemente apresentou ao Vale do Silício – e ao mundo – uma possibilidade de solução mais barata de inteligência artificial. As reações ao feito foram proporcionais à sua dimensão para o universo tecnológico: recorde de downloads nas lojas de aplicativos, quedas bilionárias em ações nas bolsas de valores, desconfianças a respeito da segurança e das estratégias utilizadas e, principalmente, expectativas de como irá se reconfigurar o cenário das gigantes de tecnologia a partir de agora.
A DeepSeek foi fundada em 2023, na China, pelo empresário Liang Wenfeng, dono do fundo de investimentos High-Flyer. Pessoalmente interessado por inteligência artificial, Wenfeng, segundo a imprensa internacional, teria comprado milhares de chips da Nvidia desde 2021 para, a partir deles, estudar e testar novos modelos de linguagem de IA. Foi a partir desses testes que o empresário fundou a DeepSeek e, em janeiro, apresentou o modelo de código aberto LLM DeepSeek-R1.
O grande diferencial da plataforma chinesa está no seu custo. Segundo a startup, o desenvolvimento e treinamento de seu modelo de linguagem de IA demandou um investimento de US$ 6 milhões. Para efeito comparativo, a OpenAI teria investido US$100 milhões para o desenvolvimento do modelo do ChatGPT.
A maior parte das pessoas provavelmente nunca tinha ouvido falar no DeepSeek até o nome do chatbot ganhar as manchetes internacionais nos últimos dias. Porém, quem acompanha mais de perto o cenário da inteligência artificial e procura conhecer e testar as novas ferramentas que são disponibilizadas no mercado, o fato de uma empresa chinesa ter conseguido criar um modelo eficiente e, aparentemente, a um custo bem mais baixo está longe de ser uma empresa.
O que os engenheiros da DeepSeek fizeram é algo sem precedentes, mas não causou espanto em Paulo Aguiar, creator e cofundador da CR_IA, empresa de inteligência artificial. “Para mim, era questão de tempo que a China lançasse um competidor à altura do ChatGPT. Quem acompanha e usa as ferramentas de IA sabe o nível de trabalho que as startups chinesas estão entregando. Mas, claro, o grande impacto da DeepSeek é ter conseguido entregar o modelo com uma fração do custo investido pelas grandes empresas dos Estados Unidos”, pontua o especialista.
Assim como Aguiar, Domenico Massareto, fundador da Rain A.I, não ficou surpreso de tamanha inovação ter vindo da China. O publicitário relembra que o país asiático forma cerca de 10 mil engenheiros especialistas em inteligência artificial por ano, o que torna o país um expoente em desenvolvimento tecnológico.
“A China se orgulha muito de sua qualificação em inteligência artificial e já era de conhecimento que eles estavam trabalhando no desenvolvimento de modelos e soluções”, explica.
O fato de a aparente solução mais rápida e mais barata ter vindo na China vem causando algumas controversas entre os líderes das gigantes de tecnologia. Após ter elogiado o DeepSeek em um primeiro momento, Sam Altman, CEO da OpenAI, parece ter mudado o olhar em relação à concorrente. Nesta semana, o Financial Times publicou que a fundadora do ChatGPT teria indícios de que a startup chinesa copiou modelos próprios do ChatGPT para o desenvolvimento de seu chatbot. Oficialmente, nenhuma das duas empresas comentou o assunto.
Na visão de Massareto, além da questão de mercado e valorização de empresas – a popularização do DeepSeek já provocou perdas bilionárias para a Nvidia e outras companhias do setor – a disputa do cenário de IAs também apimentam a guerra comercial entre Estados Unidos e China.
“O fato de ter sido uma criação chinesa é um tempero nessa história. Acredito que, por exemplo, se o DeepSeek tivesse sido criado por uma empresa sueca, não veríamos tantas teorias sobre as estratégias, possíveis cópias ou sobre o custo real da criação. Como China e Estados Unidos vem se colocando globalmente cada vez mais como potências antagônicas, isso acaba sendo mais um elemento para acirrar essa competitividade”, analisa Domenico.
Um ponto que os dois especialistas em utilização de IA na criação reforçam é a mudança que o DeepSeek aponta para o patamar dos usuários e das empresas que utilizam inteligência artificial. A oferta de uma tecnologia mais barata pode abrir caminhos para a aceleração das soluções, que resultarão em mais opções para quem está na ponta do mercado de IA: os usuários.
Paulo Aguiar acredita que, justamente pelo DeepSeek ter o modelo de código-fonte aberto, as empresas como OpenAi, Apple, Microsoft e outras certamente deslocaram desenvolvedores para estudar a estrutura do modelo da China e entender o que eles fizeram.
“Esse tipo de lançamento pressiona a indústria a fazer mais, melhor, e mais rápido. No médio prazo, nós, os usuários finais, seremos muito beneficiados por isso. É natural que um formato open source possibilite a criação de modelos personalizados. Claro, ainda é preciso ver como o mercado vai lidar com as questões de segurança. Acredito que veremos mais isso nas próximas semanas”, aposta Aguiar.
Para as empresas que atuam tanto na área de hardware, como a Nvidia, como as que desenvolvem os chatbots para uso dos usuários finais, a guerra pela disputa de mercado deve seguir de forma pesada, na visão de Massareto. Porém, ele concorda que, em termos de ofertas de chatbots e soluções, o cenário é promissor.
“Para o usuário, que não sabe exatamente todos os bastidores dessas disputas, o cenário é incrível, pois cada dia aparece uma ferramenta e tecnologia nova. E as empresas que trabalham na criação de soluções a partir de IA ganham a possibilidade de produzir de forma melhor e com custo mais barato”, acredita o fundador da Rain I.A.
Compartilhe
Veja também
Como o QuintoAndar está utilizando a IA no mercado imobiliário
Plataforma de busca de imóveis linveste em ferramentas de tecnologia que visam tornar a jornada do cliente mais fluída e precisa
Cif convoca Belo para entrar nas conversas do BBB 25
A marca escolheu o cantor para uma ação bem-humorada nas redes sociais e na TV, criada pela Droga5 São Paulo