O papel dos perfumistas na criação de fragrâncias e identidade das marcas
Empresas como Boticário e Natura investem na nomeação de profissionais para liderar o desenvolvimento de produtos exclusivos
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Renan Honorato
13 de janeiro de 2023 - 6h01
César Veiga, perfumista d’O Boticário, fez parte da criação de Lily, Malbec e Egeo Doce (Crédito: Divulgação)
O Grupo Boticário anunciou em dezembro de 2022 que suas fragrâncias e produtos seriam elaborados por um perfumista exclusivo. César Veiga, que há mais de 20 anos trabalha no grupo, foi o nome escolhido para legislar sobre as próximas tendências que a empresa passaria a seguir a partir de 2023.
O perfumista garante que a marca continuará trabalhando com as casas de perfume ao redor do mundo, o que, para ele, gera maior diversidade de produtos. “Um perfumista dentro do grupo fornece um olhar interno para a companhia, conseguindo traduzir as necessidades que o marketing está colocando no briefing e, desse modo, passar adiante essas demandas”, comenta.
Veiga esteve à frente da elaboração de perfumes populares no catálogo d’O Boticário, como o Malbec, Egeo Dolce e Lily. Além disso, foi um dos fundadores do Centro de Pesquisa do Olfato. “O olfato é extremamente importante na nossa vida, vide quando paramos de sentir cheiros devido à Covid. Então, nós criamos o CPO para contribuir na pesquisa médica e sensorial do olfato para contribuir no bem estar das pessoas”, explica.
“Eu não era aquela criança que ficava misturando flores no jardim, isso é lenda urbana. A perfumaria, pra mim, é a fusão entre ciência e arte”, diz César Veiga (Crédito: Divulgação)
Enquanto no Grupo Boticário a criação do cargo é um movimento mais recente, a Natura integra em sua equipe desde 2005 a perfumista Verônica Kato, que lidera a Casa de Perfumaria do Brasil. “Tenho à minha disposição mais de 8 mil ingredientes da perfumaria nacional e internacional, vindos das maiores casas de fragrâncias do mundo e de toda a nossa biodiversidade”, comenta ela.
A Natura é uma das únicas empresas na América Latina a ter um laboratório com ingredientes das casas de fragrância em seu núcleo olfativo, ou seja, a produzir seus próprios ingredientes e matérias-primas. “Com o acesso a toda a paleta exclusiva da Natura, somos permitidos a criar a assinatura de cada marca Natura, o que contribuem com um DNA olfativo único”, comenta Verônica Kato, perfumista da empresa Para Verônica, a parceria entre a Natura com as casas de fragrância gera rapidez, diversidade olfativa e criativa.
“Além disso, essa relação garante o alcance às tendências olfativas e às inovações globais de cada categoria, garantindo a qualidade de excelência que temos em nossas fragrâncias”, cometa ela.
A perfumista, inclusive, apareceu para o grande público em uma ação de merchandising feita pela Natura na novela Todas As Flores, do Globoplay. A trama conta com um núcleo de perfumistas com deficiência visual e a protagonista Maíra (interpretada pela atriz Sophie Charlotte) visitou o centro de inovação da Natura para conversar com Verônica sobre a elaboração de novos perfumes.
A média para o desenvolvimento de fragrâncias inéditas pode várias de 12 meses até três anos a depender da complexidade dos aromas e o tempo de maturação de cada ingrediente. “Quando recebo o briefing para desenvolver uma fragrância, preciso transmitir, por meio do olfato, sensações e desejos, como conforto, bem-estar ou relaxamento. Isso tudo conectado à assinatura da marca para que o consumidor”, comenta Verônica.
“O Brasil é muito rico, grande e diverso em fragrâncias e isso chama muito atenção do mercado estrangeiro. As empresas brasileiras são referência lá fora”, comenta César Veiga. Segundo dados da Euromonior, o Brasil é o 4º maior mercado consumidor do mundo de cosméticos e fragrâncias, produtos masculinos e desodorantes. Além disso, em 2021, as exportações de cosméticos para 173 países.
A sustentabilidade têm sido preocupação constante para os desenvolvedores de cosméticos. Por isso, Veiga ressalta que O Boticário irá dobrar seus esforços na elaboração fragrâncias únicas que tenham essa pauta priorizada.
Na Natura, os projetos passam pela bioprospecção de novos ingredientes. Bioprospecção é o nome de uma área de pesquisa e desenvolvimento que envolve a busca sistemática por compostos, enzimas e materiais genéticos oriundos de seres vivos
“A partir dessas expedições, que duram anos de pesquisa, investimento e reúnem uma grande equipe de especialistas, a Casa de Perfumaria do Brasil descobriu ingredientes da biodiversidade brasileira que, até então, nunca haviam sido utilizados na perfumaria mundial, como a priprioca, o breu branco e a Vanilla baiana”, ressalta a perfumista da Natura.
O trabalho de pesquisa tem início com a ida ao campo, em busca de novos aromas. Após a conclusão da primeira etapa e seleção dos ingredientes, inicia-se o processo de domesticação e o cultivo das espécies em cativeiro para que o ecossistema local não seja violado e explorado. Por fim, são feitas pesquisas com o consumidor e adaptação de teores e odores antes do produto ser embalado e vendido nas prateleiras.
Verônica Kato, perfumista da Natura (Crédito: Divulgação)
Após a pandemia, Veiga avalia que as pessoas passaram a ter maior interesse em aromas que remetam à natureza e liberdade. “Vivemos dois anos confinados, nesse tempo, as pessoas procuraram fragrâncias que gerassem maior conforto, mas agora elas estão atrás de perfumes que tenham maior relação com espaços abertos e gerem impacto na espaço social”, examina ele.
Com 26 anos de Grupo Boticário, César Veiga é formado em Farmácia Industrial. Ele entrou como estagiário no Boticário – antes da criação da holding e a criação do grupo em 2010 – no setor de perfumaria e desenvolvimento de produto. O profissional era responsável pela parte técnica do desenvolvimento da formulação, por exemplo, se os reagentes se encontravam em estabilidade e nas diretrizes de segurança. “Eu não era aquela criança que ficava misturando flores no jardim, isso é lenda urbana”, diz e acrescenta “A perfumaria, pra mim, é a fusão entre ciência e arte”.
No Brasil, existem poucas instituições que lecionam cursos de perfumaria. O Grupo Osvaldo Cruz, por exemplo, fornece o curso de pós-graduação na área de saúde com carga de 440 horas e com duração de um ano. Devido as poucas opções em território nacional, César fez especializações em vários países, entre França, Nova York e Alemanha. “Entender as fórmulas, as cadeias aromáticas, os aldeídos e afins sempre foi muito fácil pra mim. Eu me interessava mais por essa parte química”, conta.
Antes de ser o perfumista d’O Boticário, César foi avaliador de fragrâncias no Grupo. Também conhecido como avaliador olfativo, o cargo é responsável por fazer a ligação entre mercado, clientes e o desenvolvedor de aromas, ou seja, o perfumista. Enquanto o avaliador é a mão que guia, o pincel é o perfumista. “Os avaliadores servem para mediar a criação do produto com o contexto local para o qual está sendo feito aquela fragrância”, comenta.
Em 2019, O Boticário lançou o primeiro perfume – “On you” e “On me” na linha Egeo – feito com a ajuda de inteligência artificial (IA). Apesar das ferramentas de avaliação e do uso crescente de inteligência artificial para testagem de possibilidade, a profissão ainda guarda muito da ação sensorial da pessoa que busca e produz as fragrâncias. “Todo mundo tem medo que a IA roube nossas profissões, mas ela é apenas mais uma ferramenta que pode ser usada para testagem de combinações, por exemplo”, finaliza o perfumista d’O Boticário.
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