Pink Money: a importância de reconhecer o potencial da comunidade LGBT+
Empresas evoluem na abordagem e inclusão desse grupo em suas ações, mas é preciso consistência para evitar imagem de oportunismo
Pink Money: a importância de reconhecer o potencial da comunidade LGBT+
BuscarPink Money: a importância de reconhecer o potencial da comunidade LGBT+
BuscarEmpresas evoluem na abordagem e inclusão desse grupo em suas ações, mas é preciso consistência para evitar imagem de oportunismo
Meio & Mensagem
6 de junho de 2023 - 9h30
O termo diversidade vem, há algum tempo, tendo sua importância mais difundida não apenas no âmbito social mas também no mundo corporativo. E, em meio a essas novas avaliações, expressões como pink money vem ganhando novos contextos e sentidos.
Criado com a proposta de ilustrar o consumo da comunidade LGBT+, o termo pink money foi, com o passar do tempo, utilizado para explicar a própria evolução das empresas em relação às pautas de diversidade.
Durante o mês de junho, que acabou recebendo a alcunha de Mês do Orgulho da comunidade LGBT+, são bem comuns as campanhas e ações de marketing de empresas a favor desse grupo, com posicionamentos de inclusão e contra o preconceito.
Entretanto, conforme os debates sobre diversidade vão sendo ampliados, sobretudo nas redes sociais, cresce também a percepção do público a respeito do que é uma ação genuína e do que é efeito apenas para tentar atrair o pink money, ou seja, os consumidores da comunidade LGBTQIAP+, sem vínculo direto com sua causa.
Leia também:
A comunidade LGBT+ e o consumo de marcas
Como impulsionar os empreendedores LGBTQIAP+?
As melhores empresas para pessoas LGBTQIA+ trabalharem
A maior parte das publicações atribuem a origem do termo pink money à cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, conhecida pelo alto grau de militância e luta da comunidade LGBTQIAP+.
Por volta da década de 1960, quando a cidade estava em pleno desenvolvimento, a população gay local também evoluiu, em termos econômicos.
Com isso, os empresários e comerciantes locais começaram a notar a necessidade de atrair esse público e tê-los como consumidores.
Dessa forma, passaram a direcionar sua comunicação e até mesmo produtos e serviços a essa comunidade, em busca de seu poder aquisitivo, o que acabou sendo caracterizado como pink money (em tradução livre, algo como “dinheiro rosa”), que pode ser compreendido como o poder financeiro do público LGBTQIAP+.
Com o passar dos anos, o termo pink money ganhou projeção internacional e passou a ser utilizado para descrever o conjunto de produtos e serviços voltados à comunidade LGBTQIAP+.
E foi de olho nesse poder de compra que muitas marcas passaram a olhar a comunidade gay com mais atenção e a esse público direcionar parte – ou, muitas vezes, a totalidade de seus produtos e serviços.
De acordo com a Pesquisa do Orgulho, realizada no ano passado pela Datafolha sob encomenda da Havaianas, 9% da população do Brasil (o equivalente a mais de 15 milhões de pessoas) se considera LGBTQIAP+.
Esse imenso grupo, portanto, não pode ser desprezado pelas empresas em termos de consumo, tanto por seu potencial financeiro como por seu poder de influência e de engajamento.
Embora o termo pink money tenha suas origens na década de 1960, a consideração da comunidade LGBT+ como um forte grupo de consumo, bem como sua representatividade na publicidade e na comunicação das marcas, começou a fazer parte das discussões da indústria publicitária de maneira recente.
Essa maior consideração da diversidade sexual na publicidade e, consequentemente, no consumo, é um movimento que começou há menos de dez anos, na opinião de Ricardo Sales, fundador e CEO da consultoria Mais Diversidade.
As marcas têm avançado em termos de representatividade, mas raramente vão além do superficial, segundo ele.
“É preciso aproximar-se da comunidade, conhecer suas demandas e, sobretudo, utilizar as plataformas de marcas e empresas para incentivar mensagens de respeito e estimular o desenvolvimento da população LGBTI+ em nossa sociedade”, explica Sales.
Ainda, o CEO da Mais Diversidade acredita que seja preciso celebrar os avanços das marcas em relação à pauta da diversidade, ao mesmo tempo em que se reconheça que eles são incompletos e estejam longe de contemplar todo mundo.
“Marcas ainda não têm uma visão interseccional, ou seja, raramente são espaço para a diversidade existente dentro da própria comunidade LGBTI+. Não basta mostrar apenas gays brancos e jovens. Falta maior viabilidade a pessoas trans, mais velhas, negras e outros grupos que enfrentam o preconceito de forma mais acentuada”, diz o especialista.
Já há alguns anos, a cantora e compositora Raquel Virgínia encontrou uma lacuna de atuação no ambiente da publicidade e comunicação e fundou a Nhaí, uma empresa que se dedica a auxiliar marcas a se comunicarem de forma genuína com a comunidade LGBTQIAP+, aproveitando seu potencial de consumo.
Desse trabalho, a executiva já enxerga uma evolução e acredita que, de forma geral, as empresas já entenderam o potencial de consumo dessa comunidade.
Porém, Raquel destaca que o mundo corporativo ainda não sabe como fazer a gestão de todo esse potencial e de como fazer com que essa comunidade fique cada vez mais potente.
“Se olharmos as campanhas, de forma geral, estão sendo muito parecidas. Talvez, os anunciantes possam evoluir mudando as perspectivas e trazendo uma postura inovadora como caminhos alternativos para sua comunicação”, destaca a CEO da Nhaí.
Ainda sobre o tema, Raquel Virgínia diz que vê a comunidade LGBTQIAP+ não só como uma casa, mas como uma oportunidade de negócios.
A causa, segundo ela, é o movimento social desse grupo de pessoas, mas elas são bem mais do que isso. “É uma oportunidade de negócios e as marcas que visam apenas ampliar suas vendas, sem comprometimento, estão perdendo oportunidades de serem mais relevantes para a sociedade e mercado”, critica.
E, nesse sentido, o CEO da Mais Diversidade destaca dois aspectos aos quais os anunciantes precisam se atentar pra não serem vistos como oportunistas na questão do pink money:
É preciso, segundo ele, que a comunicação seja um reflexo dos movimentos que acontecem na empresa.
Por isso, não adianta, por exemplo, uma marca fazer posts sobre o Mês do Orgulho e inclusão de comunidades se em seu quadro de funcionários, sobretudo entre as lideranças, não conta com nenhum profissional LBTQIAP+.
Sobre esse aspecto, Sales destaca que quando uma marca fala com esse público apenas em datas específicas, como o Mês do Orgulho, acaba soando como oportunismo.
“Em junho, surgem arco-íris por toda a parte, mas logo depois o tempo fecha e a população LGBTQI+ volta a enfrentar problemas de todo o tipo. Marcas precisam se mostrar parceiras, mas infelizmente são poucas que conseguem ir além do discurso”, opina.
Contudo, algumas empresas vêm, de fato, dando mais importância ao pilar da diversidade em seus negócios e realizando trabalhos consistentes direcionados à comunidade LGBTQIAP+.
Veja, abaixo, alguns exemplos de marcas que procuraram se engajar à comunidade e inserindo esses consumidores em seus projetos e estratégias:
A comunidade LGBTQIAP+ está no radar da Doritos, marca de snacks da PepsiCo, há alguns anos.
Em 2015, a empresa criou uma edição especial de seu salgadinho nas cores do arco-íris, em apoio à comunidade. O Doritos Rainbow foi comercializado em vários países.
A marca também se tornou patrocinadora oficial da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, a maior do Brasil.
Também patrocinadora da Parada de São Paulo desde 2019, a Amstel vem construindo não apenas um canal de comunicação com a comunidade LGBTQIAP+ como também vem procurando prestar serviços a esse público.
Em 2022, a marca levou um cartório nas ruas de São Paulo, no Mês do Orgulho, para ajudar a retificar os documentos com o nome social de pessoas trans.
No mundo, a marca passou a trabalhar o conceito “I Am What I Am”, que destaca a importância de exaltar e destacar a essência de cada um.
Há mais de cinco anos o Itaú promove, junto à consultoria Mais Diversidade, o edital LGBT+ Orgulho, que visa incentivar o desenvolvimento de iniciativas que estimulem e auxiliem a visibilidade, segurança e respeito às pessoas da comunidade.
A Avon vem usando sua própria área de atuação – o mercado de beleza – para difundir a mensagem de inclusão e de que seus produtos podem ser utilizados por todos os gêneros.
A marca, há anos, vem colocando personalidades LGBTQIA+ em suas campanhas publicitárias e também patrocina a Parada LGBT de São Paulo.
A comunidade LGBTQIAP+ tem demandado bastante atenção do Mercado Livre. Além da Parada de São Paulo, a empresa vem desenvolvendo campanhas com foco em derrubar o preconceito e celebrar as diversas formas de amor.
Em 2022, a empresa recriou beijos icônicos da história, dando a eles uma imagem mais diversa.
E, em 2020, quando a Parada do Orgulho foi cancelada por conta da pandemia de Covid-19, a empresa fez a Parada do Feed, uma celebração virtual, com direito a clipe musical. A campanha conquistou o Grand Prix, o troféu mais importante do Cannes Lions.
Compartilhe
Veja também
Aposta Ganha nomeia Luva de Pedreiro como embaixador
Influenciador irá estrelar campanha de Black Friday da empresa de apostas, além de interagir com outros influenciadores parceiros, como Marcelinho Carioca
Cosméticos à mesa: marcas apostam no segmento de alimentos
Carmed, Quem disse, Berenice? O Boticário, Dailus e Herbíssimo mergulharam na tendência para ampliar público por meio da nostalgia e mistura de sensações