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Demitidos do Twitter

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Ponto de vista

Demitidos do Twitter


26 de maio de 2011 - 11h06

 Consta que dois jornalistas da Folha de São Paulo foram demitidos da redação por terem feito críticas à cobertura do jornal quando da morte do Vice-Presidente José Alencar, através de seus respectivos twiters.

Não consigo perceber o que poderia ter gerado a crítica dos jornalistas, visto que coberturas de enterros não se caracterizam por motivar grandes arroubos jornalísticos, quanto muito a trajetória de vida do agora falecido, seus feitos e realizações e algumas aspas de repercussão.

Lamento o motivo e não as demissões, afinal adoraria ler que o prestigiado jornal desligou seus profissionais por escreverem besteiras, mesmo que com essa decisão arriscasse ficar com sua redação vazia, tamanho o número de asneiras produzidas diariamente pelos periódicos brasileiros.

Mas restou aos dois jornalistas a porta da rua pela crítica pública que fizeram ao seu empregador e, cá entre nós, o motivo é pouco nobre, mas absolutamente justo. E mais. Demonstra o despreparo desse circo de focas em que se transformaram as redações dos meia dúzias de grandes jornais nacionais.

Para os não iniciados, foca é o nome que se dá aos jornalistas em início de carreira. Não sei o porque, mas arriscaria afirmar que deve ser por causa da felicidade do animal motivada por uma singela sardinha ou bolinhas coloridas.

Sardinhas e bolinhas são prêmios merecidos para os que povoam o jornalismo tupiniquim, incapaz de produzir uma opinião embasada ou uma profunda apuração dos fatos. Não raramente vemos pautas transformadas em manchetes, manchetes travestidas de denúncias e aspas com poder de confissões.

Há um grande jornal paulistano que todo dia faz menção a uma suposta censura que estaria sofrendo por não poder publicar matérias sobre um determinado assunto. Detalhe, o assunto está superado e em mais nada diz respeito ao leitor do jornal, mas a companhia insiste no assunto ressentida por não ter mais contra quem brigar ao ponto de inventar batalhas e inimigos.

O twiter, seja lá o que significa isso, é uma forma de comunicação primária inserida em um universo de alta tecnologia. Algo comparável ao fogão a lenha em uma moderna cozinha. Faz a mesma comida, mas todos insistem em decifrar um sabor diferente. Escrever em 140 caracteres está mais para limitação intelectual do que para poder de síntese. Se propor a seguir (SIC) alguém e ler os seus 140 caracteres é, no mínimo, pobreza de espírito. Gostaria de saber o que leva alguém a "seguir" uma empresa de pasta de dentes e o que motiva a empresa de pasta de dentes considerar a possibilidade de ser "seguida" por alguém.

Desde o advento do twiter nada ocorreu de relevante provocado pela ferramenta. O máximo que é divulgado são números que,convenhamos, não significam nada. Fulano de tal é seguido por tantas pessoas e a mensagem tal ficou nos top trends da semana. Essa história de top trends me lembra o ditado sobre pretensão e água benta, todo mundo tem o que quer.

Os ex-funcionários do jornal Folha de São Paulo se queimaram no fogão a lenha pelo simples fato de não saberem cozinhar. Duvido que queiram aprender e aposto que continuarão se queimando encantados pela forma e não pelo conteúdo.

* André Porto Alegre é sócio-diretor da Mobz

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