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Eu, Steve Wozniak e meu TK85

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Ponto de vista

Eu, Steve Wozniak e meu TK85

Steve Wozniak faz parte dos grandes nomes que transformaram a sociedade


5 de agosto de 2014 - 9h32

Em junho eu tive a chance única de assistir uma palestra ao vivo e tirar uma foto com Steve Wozniak. Foi no CIAB.

Steve Wozniak teve grande influência na minha adolescência. Eu acompanhava tudo que ele fazia no final da década de 1970 e no início da década de 1980. Tenho até hoje recortes de jornais daquela época. Tive, e ainda tenho, um TK85 por conta da minha paixão pelos computadores pessoais. Ele foi o culpado pelo início da minha vida profissional como analista de sistemas.

Por ser graduado em eletrotécnica, comecei a me interessar por algumas coisas. Lembro, nos anos 1970, de ter lido no jornal que nos Estados Unidos era vendido uma espécie de kit com componentes para qualquer um montar seu próprio computador em casa. Era o Altair 8800, que usava um microprocessador 8080 da Intel e tinha apenas 256 bytes de memória.

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Fiquei louco ao ler essa notícia porque até então computadores para mim eram caixas que pesavam toneladas, inalcançáveis e que só grandes empresas possuíam. Lembro que o preço do Altair girava ao redor de 400 dólares. Acho que o Altair foi verdadeiramente o primeiro computador pessoal vendido em escala para o público, porém ainda era algo incipiente e voltado para os nerds da época, hobbystas e aficionados por eletrônica.

Ainda na década de 1970, a famosa revista norte-americana Popular Electronics publicou uma longa matéria sobre o projeto do Altair. Em pouco tempo ele virou uma febre. A partir do Altair alguns fenômenos aconteceram, como o surgimento de um bando de empreendedores e garotos querendo fazer coisas diferentes. Nos jornais brasileiros, que eu lia na época, surgiam alguns nomes que futuramente se tornariam ícones.

Bill Gates se juntou a Paul Allen (que era programador na Honeywell) para desenvolver uma versão da linguagem Basic para o Altair, nascendo aí o embrião da Microsoft. No final da década apareceram projetos e nomes mágicos de computadores como Commodore, Radio Shack TRS-80, Atari e outros. Em paralelo, uma dupla de Steves – Steve Jobs e Steve Wozniak – criavam a Apple e tiravam do papel um dos projetos mais importantes da história da tecnologia que foi o Apple II, projeto de hardware plenamente concebido por Steve Wozniak. Eu ficava enlouquecido com todas as notícias que pipocavam nos cantinhos dos jornais impressos, já que estas notícias eram importantes, mas não suficientemente entendidas pelo povo.

Em 1979, já formado em eletrotécnica, eu entrava na IBM como técnico de hardware. Parecia um sonho. Eu entrava na maior empresa de informática do mundo (na época a gente usava o termo "informática" e não "tecnologia da informação"). Meu trabalho me permitia "navegar" nos grandes CPDs, fazendo manutenção nas máquinas leitoras e perfuradoras de cartão de papel, terminais de vídeo e impressoras. Eu adorava, mas continuava com a cabeça nos tais microcomputadores. Sonhava em ter um destes na minha casa.

Na minha visão, o microcomputador só se transformou em um negócio de proporções mundiais quando quatro fatos aconteceram.
O primeiro foi quando um inglês chamado Clive Sinclair criou um microcomputador super barato, nomeado ZX80, com 1 Kb de RAM, 4 Kb de ROM e um Basic bem simples. O ZX80 vendeu bem, mas a explosão aconteceu com o ZX81, que era uma evolução do anterior e com o preço mais barato. Mais de um milhão de equipamentos foram vendidos, um verdadeiro fenômeno.

No período, o Brasil vivia a época da reserva de mercado de informática que impedia as empresas estrangeiras de comercializarem seus computadores no País. Por isso, a Sinclair não entrou no mercado brasileiro e começaram a surgir empresas no País criando máquinas baseadas nos equipamentos ZX80 e ZX81. Todos os brasileiros que sonhavam em ter um Sinclair, como eu, tinham como única opção partir para uma cópia nacional.

O mercado era dominado em primeira instância pela Microdigital (TK80, TK82, TK82-C, TK83 e TK85) e pela Prológica (NE-Z80, CP-200 e CP-500). Em menor escala haviam a Engebrás (AS-1000) e Ritas do Brasil (Ringo). Lembro que eu passei um tempão entre comprar um Ringo e um TK, mas no final acabei optando pelo TK pois o nome Microdigital me parecia um nome mais forte no mercado.

O segundo fato foi a criação do Apple II. É bem verdade que a história da Apple começa com o Apple I, lançado em 1976, que já tinha um monitor gráfico para interagir com o usuário. O sucesso da máquina foi significativo, e, em 1979, a empresa lançou o Apple II, projeto ousado da imaginação de Steve Jobs e da incrível capacidade de engenharia de Steve Wozniak. O Apple II tinha um padrão próprio, usava uma unidade de disco flexível bem econômica e introduzia a primeira planilha eletrônica: o VisiCalc. De repente surgiu um propósito e um valor real para o uso do computador pessoal pelas empresas e pelos homens de negócio. A Apple avançou e outros equipamentos foram lançados, como o Lisa (1983) e o Macintosh (1984), os primeiros a usar mouse e interface gráfica como conhecemos hoje.

O terceiro fato foi a decisão da IBM de entrar no mercado de microcomputadores. Uma das decisões mais importantes foi utilizar componentes básicos e um sistema operacional de fontes externas. A empresa, tradicional fabricante de grandes computadores, vislumbrou uma oportunidade única e então se enfiou no desenvolvimento de uma máquina revolucionária. Optou pelo processador Intel 8088, incríveis 64Kb de RAM e uma unidade de disco flexível de 160KB. No dia 12 de agosto de 1981, quase um ano após o início do projeto, a IBM apresentou o IBM Personal Computer, mas conhecido como IBM PC. Inicialmente, ele foi comercializado nos EUA pelas lojas Computerland e Sears, mas depois invadiu as lojas de departamento, ficando próximo dos eletrodomésticos.

A empresa carimbou o termo PC que virou sinônimo de microcomputador a partir daquele dia. Em pouco tempo, as máquinas invadiam os lares e as empresas americanas. Pela primeira vez um microcomputador tinha a retaguarda de uma grande empresa de alcance mundial, sinônimo de excepcional prestação de serviço e bom atendimento ao cliente. Foi o passo para o mercado explodir e virar algo realmente sério. A partir daí novos modelos foram lançados e o IBM PC virou padrão de mercado.

O quarto importante fato foi a Microsoft e Bill Gates. O software como conhecemos hoje, fácil de usar e programável, veio das mãos de Gates e seu time. Ele foi o criador do MS-DOS que era o sistema operacional nativo do IBM PC. Depois surgiu o Windows com suas janelas. O software da Microsoft não foi adotado apenas pelo IBM PC, mas por todos os outros fabricantes de microcomputadores, tornando-se padrão mundial. De repente, o centro das atenções passava a ser o software e não o hardware. Começou a surgir um número incalculável de desenvolvedores de aplicativos para rodar no Windows, transformando a Microsoft no gigante de software que conhecemos hoje.

Steve Wozniak faz parte dos grandes nomes que transformaram a sociedade. Ele faz parte de uma lista seleta de nomes que permitiram saltos quânticos na tecnologia e que mudaram a forma como vivemos hoje. Thomas Watson pai e Thomas Watson Jr foram os fundadores da IBM e criaram os computadores como os conhecemos hoje em dia. Bill Gates criou a Microsoft e com o Windows transformou o PC numa ferramenta de trabalho de todos nós. Steve Wozniak e Steve Jobs criaram a Apple. Esses são nomes ícones, verdadeiros gênios e empreendedores.

Enfim, esse é o cara! Tinha que ter uma foto com ele. 

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Mauro Segura é líder de marketing e comunicação na IBM Brasil

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