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Ponto de vista

Rede social e big data: o internauta nu


12 de setembro de 2013 - 11h47

Recentemente publiquei um post comentando sobre a relação da geração Y com as marcas. O estudo da Pew Internet chamado "Teens, Social Media, and Privacy" coloca mais molho nessa discussão e traz um tema carregado de controvérsia que é o conceito de privacidade que as gerações têm com as redes sociais. Por que isso se relaciona com as marcas?

A resposta é simples. Vivemos a era do big data e as marcas começam a descobrir a riqueza dos dados e informações que os consumidores deixam registrados pela rede. Existe um tesouro escondido dentro das redes sociais sobre o que os consumidores gostam, querem e aspiram. Saber garimpar e trabalhar com esses rastros deixados espontaneamente pelas pessoas pode trazer informações valiosas para as empresas, não apenas para seus atuais clientes, mas também para a identificação de potenciais novos clientes.

É aí que entramos num ponto sensível: a privacidade. Você se sentiria invadido se uma empresa conseguisse mapear as suas informações deixadas nas redes sociais para conhecer você melhor e, eventualmente, até tentasse uma abordagem de relacionamento com você?

O estudo da Pew Internet, feita em parceria com a Universidade de Harvard, entrevistou 802 adolescentes (de 12 a 17 anos) e 802 pais de adolescentes nos Estados Unidos. Vasculhar o material é muito interessante, pois traz dados valiosos e responde curiosidades, como o número médio de amigos que os jovens têm no Facebook e a média de seguidores no Twitter.

Um conclusão surpreendente é que os adolescentes se mostram preocupados com a sua privacidade. Isso vai contra a crendice de que a juventude é aberta e "facinha". Os jovens concordam que compartilham muita informação sobre eles próprios, mas eles também afirmam que procuram saber, por diversas formas, como controlar e gerenciar o que publicam.

Na outra ponta, 81% dos pais disseram estar preocupados com o que as empresas podem aprender a partir do comportamento e hábitos online de seus filhos. Já 72% deles se preocupam com o fato dos filhos estarem interagindo com pessoas que eles não conhecem e 69% afiram que estão atentos à reputação online de seus filhos. Por outro lado, a pesquisa concluiu que apenas 9% dos adolescentes se mostram muito preocupados com as empresas e os marqueteiros acessarem suas informações.

Comparando os resultados da mesma pesquisa feita em 2006 com os desta última pesquisa, fica evidente que os jovens estão compartilhando muito mais informação pessoal do que antes. Os adolescentes estão postando mais fotos de si mesmos e informações importantes na rede: 53% postaram o seu endereço de email e 20% postaram o número do celular.

Apesar dessa aparente transparência exagerada, 70% dos jovens pesquisados já ofereceram conselhos sobre a forma de gerir sua privacidade online. A maioria dos jovens alega que sabem usar as configurações de privacidade do Facebook.

Nessa questão de aconselhamento, pais e amigos aparecem quase com o mesmo peso: 42% dos adolescentes pesquisados pediram conselho para um amigo ou colega sobre privacidade nas redes, e 41% pediram a mesma ajuda aos pais.

Uma pesquisa recente da Cisco confirma a “despreocupação” dos jovens com as empresas coletarem suas informações pessoais. Aliás, esta pesquisa vai mais longe, pois afirma que os consumidores, independentemente da idade, não têm receio de compartilhar suas informações quando se trata de compras na web.

Mundialmente, quase metade (49%) dos consumidores pesquisados diz não existir problema com o fato das empresas coletarem informações pessoais quando fazem compras online em troca de recomendações e serviços mais personalizados. O percentual no Brasil chega a 60% (Fonte: Converge.com).

Em resumo, a pesquisa da Pew Internet aponta que:

1- Não é verdade aquela história de que os jovens usam as redes sociais com displicência e sem controle. Eles não se sentem assim. Os adolescentes afirmam que estão no controle e que têm consciência do que fazem nas redes sociais.

2- Pais são muito mais preocupados do que os jovens em relação às empresas (e seus marqueteiros) acessarem os dados pessoais para fins de marketing. Os adolescentes não demonstram grande preocupação.

3- Jovens estão compartilhando cada vez mais informações pessoais, como fotos, endereços e telefones. Mas dizem que têm consciência do que estão fazendo.

4- Jovens não se sentem inibidos para pedir conselhos para amigos e pais de como gerir sua privacidade.

A questão dos rastros pessoais deixados na web vai além da privacidade e do uso de tais informações pelas empresas. Tem muito mais coisas aí. Não acho que vamos chegar no ponto do que foi dito pela Cora Ronai em sua coluna no O Globo recentemente, quando ela disse que "um dia, todos os pais e mães terão uma conversa muito séria com os filhos a respeito da vida online. Essa conversa ainda é mais importante do aquela clássica conversa sobre sexo da qual todos querem fugir".

Tenho dúvidas em relação a esta afirmação. Mas a real questão é que a internet não esquece. Tudo que você escreve fica ali guardado, de alguma forma. Uma busca na internet sobre alguém pode denunciar seus hábitos, preferências, relacionamentos, insatisfações e, até, aspirações. Deixamos nossos rastros cada vez que acessamos a internet. E, pior, muitas vezes sem a consciência do que estamos fazendo.

O futuro de uma pessoa pode ser influenciado pelos rastros que ela deixou na internet ao longo de sua adolescência, tanto para o bem quanto para o mal. Uma bobagem ou um comentário inconsequente, ou até um vídeo despretencioso, pode causar um prejuízo para sua carreira ou pretensões profissionais. A maioria das empresas já vasculha a vida dos candidatos na web a procura de indícios de suas aptidões, competências e comportamento. Portanto, a discussão da privacidade nas redes sociais vai muito além do próprio conceito, pois estamos falando de futuro e consequências.

wraps

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