Ricardo Piquet, do IDG: qual o futuro dos museus no Brasil?
Diretor-geral da organização responsável por projetos como o Museu do Amanhã defende a intersecção com a natureza e os museus como ferramentas de diálogo
Ricardo Piquet, do IDG: qual o futuro dos museus no Brasil?
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Taís Farias
7 de março de 2025 - 6h14
Ricardo Piquet (Crédito: Divulgação)
Neste ano, o Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG) o grupo iniciou um processo de reposicionamento, adotando o propósito “Esperançar futuros possíveis”. Há pouco mais de uma década a organização privada sem fins lucrativos uniu profissionais de gestão e desenvolvimento de conteúdo para promover a gestão de projetos de interesse público.
O primeiro projeto foi o do Paço do Frevo, em Pernambuco, que segue sob gestão do IDG. Atualmente, são dez projetos em curso, incluindo o Museu das Favelas, em São Paulo, e o maior projeto do Instituto, o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.
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Diretor-geral do IDG, Ricardo Piquet aposta nos espaços culturais como ferramenta para construção de diálogo e divide caminhos para a construção de contrapartidas customizadas juntos às empresas patrocinadoras. Confira na entrevista:
Meio & Mensagem – Como estimular parcerias entre empresas e instituições culturais? Quais os principais desafios e oportunidades para ambos os lados?
Ricardo Piquet – Temos aprendido a nos relacionar com os diversos interesses. Não só de governo, mas principalmente de empresas privadas. De construir equações de contrapartidas feitas para cada um, de acordo com as necessidades ou com os valores que eles têm. Na hora que construímos uma primeira ponte, é fundamental um alinhamento de propósitos. Se encontrarmos um parceiro, uma empresa privada, que pense parecido conosco no propósito, é meio caminho andado. Depois, vamos construir de que forma o exercício daquele propósito se dá em uma relação entre a empresa patrocinadora e a instituição que vai gerir esse projeto cultural. Essa percepção de propósito comum e da customização da contrapartida são fundamentais para que possamos abrigar o desejo do parceiro em um determinado projeto. Não é mais a prática do dia a dia, hoje, que as empresas procurem oportunidades de investimento única e exclusivamente para assinar o projeto, para colocar sua logomarca ali dentro. Hoje, é muito comum encontrar bons executivos. Aliás, os melhores são aqueles que se apresentam interessados no propósito, no impacto.
M&M – Como você enxerga o papel da tecnologia na preservação e difusão da cultura? Qual o papel da IA, por exemplo?
Ricardo – Principalmente nesses espaços culturais e museais você oferece a experiência a partir da percepção dos públicos que imagina que estarão ali. O melhor caminho é você pensar sempre na acessibilidade. Como você dá acesso para maior variedade de públicos? Como é que você transforma um ambiente desse agradável para um turista, para uma pessoa trans ou para um autista se sentir acolhido? Eu acho que a tecnologia vem a serviço dessa entrega. A tecnologia pode melhorar o seu entendimento, o seu conforto. A tecnologia faz uma tradução de libras automática, que pode ser estabelecida como padrão de acessibilidade. Depois, a tecnologia pode dar uma experiência, uma sensação, um prazer, que simplesmente olhar um objeto de um museu com a placa embaixo não dá. E, por fim, o mais difícil, mas o mais legal. É você provocar na pessoa que teve aquela experiência orgulho de ter participado daquilo. Quando nós montamos o Museu da Língua Portuguesa, o objetivo era que todo brasileiro entrasse ali e saísse orgulhoso de falar português. Esse era o grande objetivo. É, você entrar no Museu do Futebol e sair com orgulho de que o futebol é parte da identidade cultural brasileira e não é só aquele jogo entre quatro linhas.
M&M – O Museu do Amanhã é reconhecido por sua abordagem sustentável. Qual a importância e como trabalhar essa conexão entre cultura e sustentabilidade?
Ricardo – A relação do cidadão com a natureza é o princípio básico que fomentou a criação do Museu do Amanhã. Mas acho que ele foi além. Falar de amanhã é inédito, porque nunca ninguém disse que museu foi criado para falar do futuro. O museu foi criado para falar do passado. Tanto que eu fui apresentar o Museu do Amanhã em um congresso na China, convidado pela Unesco. E um grupo disse assim: “Você apresentou um museu que não existe porque não tem coleção fixa”. Olha, se esse museu não existe na sua visão, é porque não existe mesmo. Ele só existe para quem percebeu que aquilo é uma maneira de contar histórias. E, para contar histórias, não preciso de peça. Imagina um museu da língua portuguesa, que é um bem intangível, precisar de peça para falar da língua. O Museu do Amanhã também não precisa. No ano passado, eu fui chamado pelo ICOM para falar sobre sustentabilidade, natureza e cultura. Eles colocaram na pauta do ICOM a necessidade de todos os museus fazerem a correlação dos hábitos culturais e a relação com o planeta, que sempre estiveram muito juntos. Nós que descolamos. O padrão de consumo, os hábitos culturais e a preservação da natureza a partir dos seus saberes ancestrais sempre existiram. Mas o mundo dos museus nunca tratou assim. Acho que essa é uma relação que, agora, parece estar ficando mais clara.
M&M- De que forma as instituições culturais podem ampliar o seu impacto educacional nas comunidades onde estão inseridas?
Ricardo – A instituições culturais têm a oportunidade de fazer a mediação. Elas precisam exercitar esse diverso, aceitar críticas, ampliar a escuta e ser um espaço de diálogo, de todos os lados. A única dificuldade que você tem é quando se tem extremistas dos dois lados e eles não querem conversar. Aí, não adianta. Mas eu acho que os espaços culturais estão habilitados e prontos. Eles têm os valores adequados para ampliar o debate e trazer as pessoas para um ambiente comum, em que se respeita o diverso, o contraditório. Cada vez mais, vamos contar com as instituições culturais a partir dos seus próprios valores intrínsecos como ferramenta desses diálogos que não estão existindo. É nisso que eu acredito e isso pode ser uma ferramenta importante para sociedade, claro. Mas também para as empresas e os governos. Empresas que queiram investir e associar esse investimento nos seus relatórios de ESG.
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