Santander: 1,5% de PIB em 2022 e risco de recessão em 2023
Para Ana Paula Vescovi, economista-chefe do banco, que participou do MNB 2021, saída para as empresas é estarem atentas e fazer leituras corretas de cenários
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Roseani Rocha
22 de outubro de 2021 - 17h28
Um câmbio mais estável e a desinflação de alguns itens, em consequência de processos de normalização de atividades pós-pandemia, mas, de outro lado, um PIB de apenas 1,5%, uma taxa de juros próxima de 10% (o que, entre outras coisas, eleva custos de financiamentos), um quadro social “aquecido” por conta das eleições e o cenário polarizado, um quadro fiscal deteriorado e uma dívida pública altíssima. Esse é o resumo do Brasil para 2022, segundo Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander, que participou da edição 2021 do Marketing Network Brasil (MNB), no Costão do Santinho, em Florianópolis, nesta sexta-feira, 22.
A executiva também não descartou que o agravamento de algumas ou várias dessas questões e de outras ligadas à dinâmica global de negócios – como os problemas nas cadeias de fornecimento de alguns itens, como os chips para o mercado automotivo – possam levar a um 2023 recessivo. De toda forma, para as empresas, a melhor saída diante de um quadro pintado com cores tão sombrias será estar atento aos cenários, porque somente assim será possível reagir da melhor forma, de acordo com cada setor.
Sempre com questões e números macro preocupantes, mas tentando dar algum ponto positivo em meio a eles, Ana Paula começou sua palestra exaltando o fato de o Brasil ter uma vantagem diante de muitos países, inclusive desenvolvidos, que é um processo rápido e efetivo de vacinação. “As pessoas ‘querem’ se vacinar no Brasil e isso não acontece em todos os países, mesmo em alguns desenvolvidos”, disse, acrescentando que muitos economistas colocaram a vacinação como a primeira condição e melhor política para retomada da economia e normalização do consumo das famílias.
Ela ressaltou, ainda, o fato de durante a pandemia ter havido uma renda extra que movimentou as duas pontas da pirâmide social: os mais pobres recebendo o Auxílio Emergencial e direcionando em sua maioria o recurso para itens essenciais, como alimentação e, de outro, as camadas mais abastadas, impedidas de viajar e outras formas de lazer, investindo em reforma e decoração da casa, aquisição de eletrônicos etc. Mas pelo lado da indústria, houve problemas nas cadeias produtivas, por uma quebra global de logística, sendo que algumas demandas não conseguirão ser estabilizadas antes de 2023. Isso, segundo a economista, tem feito alguns países passarem a olhar mais para a internalização de cadeias.
Outra consequência do mercado internacional afetando o local foi a explosão dos preços de commodities como o petróleo e o Brasil, que para Ana Paula vinha fazendo um ajuste fiscal, acabou “importando” uma inflação alta, que começa com bens e acaba indo para os serviços. Isso acrescido a questões locais, como a escassez hídrica. “Quando se chega a núcleos inflacionários, começa o que chamamos de inércia inflacionária, que é mais difícil de combater, mas esse pode ser um processo temporário”, disse.
Apesar de citar a crise hídrica deste ano, Ana Paula diz que a expectativa para 2022 é de “um ano fantástico” no agro. E também brincou que amantes de churrasco terão uma janela de oportunidade, com a deflação da carne que deve ocorrer, uma vez que a China andou suspendendo as importações do Brasil, o que fez o abate por aqui também cessar e o gado acumulado pode voltar a abastecer o mercado interno.
Já em suas considerações finais, ao pensar sobre o País no longo prazo, Ana Paula Vescovi destacou que há quatro décadas o Brasil não consegue elevar a “renda por trabalhador”, ou seja, seus índices de produtividade, embora tenha avançado em outras áreas. Portanto, ela defende que é preciso ao País melhorar a educação, a segurança jurídica para os negócios, ter uma reforma tributária que simplifique o emaranhado que é o sistema atual e que haja reformas “no RH do setor público”, para que mais foco seja colocado em desempenho e menos em corporativismos. Apenas 2,5% de crescimento, mas na constância de 20 anos, disse Ana Paula, levariam o Brasil a um outro patamar.
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