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Tóquio 2020: a espera dos patrocinadores

Em meio a uma neblina de especulações, os organizadores das Olimpíadas de Tóquio insistem que a epidemia de coronavírus não cancelará os Jogos de Verão


28 de fevereiro de 2020 - 6h00

Comitê organizador de Tóquio não tem intenção de cancelar ou adiar os Jogos de Verão (Crédito: Tomohiro Ohsumi/GettyImages)

*Por Anthony Crupi, do AdAge

Um dia após um membro sênior do Comitê Olímpico Internacional (COI) – Dick Pound – ter declarado que a epidemia de Coronavírus poderia resultar no cancelamento definitivo dos Jogos Olímpicos de Verão de 2020, os organizadores das Olimpíadas de Tóquio colocaram em quarentena os comentários do funcionário.

No momento em que o CEO do comitê organizador de Tóquio, Toshiro Muto, discursou em uma coletiva de imprensa na tarde desta quarta-feira, 26, a afirmação de Pound já havia infectado as notícias. Membro do COI por 42 anos, Dick Pound disse na terça-feira, 25, à Associated Press que a disseminação descontrolada do coronavírus, ou COVID-19, provavelmente forçaria o governo do Japão a acabar com os Jogos de Verão, avaliação que praticamente esmagou qualquer expectativa de que o evento fosse realocado ou adiado.

Pound fez suas observações 150 dias antes de a tocha olímpica ser acesa no Novo Estádio Nacional de Tóquio. O funcionário do COI revelou à AP que uma decisão final sobre o assunto teria que ser tomada até o final de maio, se não antes.

Na quarta-feira, Muto tentou recuperar o controle da narrativa, afirmando aos repórteres que o prazo citado por Pound era completamente arbitrário. “Que o final de maio é o limite de tempo, nunca pensamos nisso ou ouvimos falar desse comentário”, disse Muto. “Quando perguntamos sobre isso, recebemos uma resposta afirmando que essa não é a posição do COI”, acrescentou. Em outras palavras, Pound falou em off ou sem a sanção do COI, e sua interpretação da situação não reflete necessariamente as opiniões do comitê e de seus outros 100 membros eleitos.

“Nosso pensamento básico é que iremos adiante com os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, conforme programado”, comentou Muto. Ele ainda acrescentou que, relativamente, pouco se sabe sobre o vírus e que os organizadores de Tóquio “tomariam medidas [para] que tenhamos Jogos Olímpicos e Paralímpicos seguros”.

A resposta de Muto à análise de Pound ocorreu duas semanas depois que outro membro do Comitê Olímpico tentou acabar com os temores de uma interrupção por conta do COVID-19. “Gostaria de deixar claro que não estamos considerando o cancelamento ou adiamento dos Jogos”, afirmou o presidente do comitê organizador, Yoshiro Mori, em 13 de fevereiro. “Deixe-me esclarecer.” Mori continuou dizendo que sua equipe estava coordenando o Instituto Nacional de Doenças Infecciosas e o governo japonês, a fim de garantir que os Jogos de Verão continuassem conforme o planejado.

Roleta Russa

É sob essa nuvem de informações erradas que qualquer conversa sobre o status das Olimpíadas deve ser avaliada. Mesmo antes de Pound dar sua opinião sobre o que está por vir, muitos compradores e anunciantes de mídia haviam se resignado a uma boa e longa ambiguidade, período em que seus investimentos nas Olimpíadas seriam encobertos por uma névoa de incógnitas.

“Vamos assumir que tudo ocorrerá como planejado, a menos que não aconteça”, afirmou um comprador de TV nacional no início de fevereiro. “Há alguma ansiedade, com certeza. É uma situação de ‘esperança para o melhor, mas prepare-se para o pior’, e tudo o que podemos fazer é esperar e ver. ”

Embora o COI não tenha discordado da avaliação de Pound sobre a situação em Tóquio, na quarta-feira, 26, um porta-voz comentou que o comitê continua envolvido em um diálogo contínuo com a Organização Mundial da Saúde e outros consultores médicos. “Temos plena confiança de que as autoridades relevantes […] tomarão todas as medidas necessárias para resolver a situação”, disse o porta-voz. “O resto é especulação”.

Por sua vez, a NBC Sports disse nesta semana que o status dos Jogos de Verão não mudou. “A segurança de nossos funcionários é sempre nossa principal prioridade, mas não há impacto em nossos preparativos no momento”, afirmou um porta-voz.

Embora alguns anunciantes tenham traçado um paralelo com as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016 – no qual o surto do Zika vírus provou não ter impacto material nos Jogos de Verão daquele ano – aqueles que buscam uma comparação mais adequada voltaram um pouco mais no tempo. Em 1980, em um esforço para penalizar a União Soviética pela invasão do Afeganistão, o presidente Carter pediu um boicote dos Jogos de Moscou pelos EUA, o primeiro a ser realizado em um país comunista.

A decisão de Carter custou caro à NBC. Faltando cerca de 90 dias para o início dos Jogos, a rede havia reservado cerca de US$ 170 milhões em receita de publicidade, ou cerca de US$ 532 milhões na moeda de hoje. Naturalmente, há muito mais dinheiro rolando nos Jogos de 2020; em dezembro, a NBC Sports disse que havia conseguido US$ 1 bilhão em vendas de anúncios nas Olimpíadas, colocando-o em ritmo de superar o recorde de US $ 1,2 bilhão angariado durante os Jogos do Rio.

Por outro lado, a NBC em 1980 direcionou cerca de US$ 85 milhões para a taxa de direitos e despesas de construção/produção, grande parte reservada para a construção de um centro de transmissão de alta tecnologia em Moscou. Embora o investimento da NBC tenha sido assegurado pelo Lloyd’s de Londres, que cobria 90% dos gastos da rede em Moscou, os dólares em publicidade não eram protegidos. Na época, o Ad Age estimou que a programação de substituição da NBC o deixou com um déficit de US$ 30 milhões.

É o fim do mundo como o conhecemos

Se há pouco consolo na história antiga – os anunciantes que criaram seus planos de marketing com base nas Olimpíadas de Moscou quase não tiveram chance de replicar esses pontos de classificação em qualquer outro lugar; com apenas três redes em funcionamento, os clientes frustrados tiveram que se contentar com duas semanas de filmes de desastre e clones – as lições de 1980 valem a pena serem internalizadas.

“Falamos muito sobre os piores cenários, como um cliente saindo ou você faz alguns investimentos ruins e seus KPIs são destruídos”, afirmou um comprador de TV. “Se isso é tão ruim que eles precisam cancelar as Olimpíadas, confie em mim quando digo que todos teremos muito mais com o que nos preocupar do que impressões perdidas”.

Na ausência de qualquer informação sobre a patologia do COVID-19 e como o vírus se sairá no calor do verão, os economistas estão limitando suas projeções de impacto ao futuro imediato. De acordo com uma análise recente da Capital Economics, a interrupção do coronavírus está a caminho de custar à economia global US$ 280 bilhões no primeiro trimestre deste ano, encerrando assim uma série de crescimento desde 2009.

“Assumimos que o vírus será contido em breve e que a produção perdida será compensada nos trimestres seguintes”, escreveu Simon MacAdam, da Capital Economics. “Por enquanto, nossas previsões assumem que as medidas de contenção serão bem-sucedidas o suficiente para que elas sejam relaxadas nas próximas semanas.” No geral, os economistas acreditam que é mais provável que o surto adie a atividade econômica do que ela descarrilhe completamente, embora esse otimismo se incline fortemente sobre uma variável indefinida.

O índice Dow Jones perdeu quase 2.000 pontos desde a abertura de segunda-feira até o fechamento de terça-feira, antes de cair outros 124 pontos na quarta-feira. O setor de tecnologia foi um dos mais atingidos pelas vendas desta semana. 

Enquanto isso, a NBC continua a se preparar para 24 de julho, a data prevista para a cerimônia de abertura dos Jogos. A expectativa é que a rede sedie uma reunião de imprensa para iniciar a contagem regressiva de 100 dias para Tóquio durante a semana de 13 de abril, e uma atualização no registro de vendas de anúncios das Olimpíadas seja divulgada no próximo mês.

Para manter o status quo, o CEO do comitê organizador de Tóquio, Muto, comentou que o revezamento cerimonial da tocha continuará conforme o planejado. Um símbolo que une os jogos antigos com os da era moderna, a tocha é acesa em Olímpia, na Grécia e depois transportada para o país anfitrião. Ao chegar a Fukushima em 26 de março, a chama viajará pelo país pelos 121 dias seguintes. Muto afirmou que os organizadores de Tóquio nem sequer consideraram cancelar o revezamento, embora a rota possa ser alterada para minimizar qualquer risco de propagação do vírus.

Como não se sabe como o coronavírus evoluirá nas próximas semanas e meses, os anunciantes dos Jogos Olímpicos de Verão não respirarão com calma novamente até que a tocha atinja seu destino final. Daqui em diante, é um jogo de espera.

**Tradução: Amanda Schnaider

***Crédito da imagem no topo: Koki Nagahama/Getty Images

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