Vinicius Jr.: como o racismo impacta os patrocinadores e o futebol
Marcas ligadas à La Liga são cobradas nas redes sociais e governo brasileiro interfere; Santander já havia decidido, no ano passado, a não renovar patrocínio ao campeonato
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Bárbara Sacchitiello
22 de maio de 2023 - 12h45
Atualizada às 13h36
O mundo do futebol amanheceu nesta segunda-feira, 22, repercutindo o episódio de racismo envolvendo o brasileiro Vinicius Jr, jogador do Real Madrid.
Em jogo disputado pelo campeonato espanhol nesse domingo, 21, o brasileiro ouvir gritos e ofensas racistas por parte da torcida do Valencia, que venceu a partida contra o Real Madrid. Vídeos publicados nas redes sociais mostram que os gritos racistas teriam começado ainda antes do jogo, do lado de fora do estádio de Mestella, na Espanha.
Vinicius Jr chegou a reclamar para o juiz, ainda durante o jogo, sobre as ofensas. Mesmo assim, a torcida subiu o tom e continuou os xingamentos. Ao reagir, no fim da partida, o brasileiro acabou sendo expulso.
Foi após o jogo, contudo, que a repercussão a respeito do episódio ganhou força. Não foi a primeira vez que o atacante brasileiro ouviu ofensas racistas em estádios na Espanha. Desta vez, porém, o jogador usou suas redes sociais para criticar diretamente La Liga, o campeonato espanhol, pela falta de atitude diante de atos criminosos dos torcedores.
Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na La Liga. A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas. Uma nação…
— Vini Jr. (@vinijr) May 21, 2023
A manifestação de Vinicius Jr ganhou apoio de outros jogadores e de entidades de futebol do Brasil e de outros países.
Logo após o episódio, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) usou as redes sociais para manifestar seu repudio em relação ao episódio. “Até quando a humanidade ainda será apenas espectadora e cúmplice de atos cruéis de racismo?”, questionou a CBF, na postagem.
Diante da repercussão do episódio, La Liga emitiu um comunicado oficial ainda no domingo, 21, dizendo que já solicitou todas as imagens disponíveis para investigar o ocorrido.
“Uma vez concluída a investigação, em caso de detectar algum crime de ódio, LaLiga tomará as medidas cabíveis. LaLiga também investigará as imagens em que insultos racistas foram supostamente dirigidos a Vinicius Jr. fora do Estádio Mestalla.”
Bastante criticada nas redes sociais pela omissão diante dos recorrentes episódios de racismo que aconteceram com o jogador brasileiro, a organização do campeonato espanhol se defendeu dizendo, no comunicado, que tem atuado nos episódios de racismo.
“LaLiga tem sido proativa diante de todos os incidentes racistas contra Vinicius Jr, jogador do Real Madrid CF. Assim, apresentou uma queixa nove vezes nas últimas 2 temporadas perante o Comitê de Competições da RFEF, Comissão Estadual contra a Violência, Racismo, Xenofobia e Intolerância no Esporte e Ministério Público do Ódio e Tribunais” diz a Liga, listando as datas das nove partidas das quais estaria investigando as queixas.
O assunto chegou a esferas políticas. Em entrevista coletiva concedida em Hiroshima, no Japão – de onde participa do encontro do G7 – o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, pediu providências à Liga espanhola. “A Fifa, a Liga Espanhola, têm que tomar sérias providências. Não podemos permitir que o fascismo e o racismo tomem os estádios de futebol”, disse o presidente.
De acordo com o colunista Jamil Chade, do UOL, o Itamaraty irá convocar a embaixadora da Espanha para reforçar que tais atos são descabíveis e pedir providências diretas.
Já o Real Madrid, clube de Vinicius Jr, encaminhou queixa crime junto à justiça da Espanha por conta das ofensas raciais sofridas pelo jogador. Nas redes sociais, o clube também manifestou, publicamente, seu apoio ao atacante.
El presidente del Real Madrid se ha reunido con @ViniJr para mostrarle su apoyo y su cariño, para informarle de todos los pasos que se están realizando en su defensa y para confirmarle que el club llegará hasta las últimas consecuencias ante una situación tan repugnante de odio. pic.twitter.com/vu18Lf0nif
— Real Madrid C.F. (@realmadrid) May 22, 2023
“Esse episódio gerou uma crise no futebol internacional. Não é mais um assunto somente do Brasil e da Espanha”, define Ricardo Fort, fundador da Sport By Ford Consulting, e especialista em marketing esportivo, em conversa com a reportagem.
De fato, desde o episódio, as empresas patrocinadoras da liga espanhola – sobretudo o Santander, que dá nome ao campeonato – vêm sendo cobradas nas redes sociais a respeito de um posicionamento sobre o fato. Além de Santander, patrocinam La Liga as empresas Puma, EA Sports, Microsoft, Mahou, Sorare e BKT.
À reportagem de Meio & Mensagem, o Santander enviou o seguinte posicionamento: “O Santander repudia veementemente qualquer manifestação de preconceito ou racismo”.
Nas redes sociais, contudo, o banco ainda não publicou nenhum posicionamento oficial sobre o episódio.
No ano passado, contudo, o Santander já havia declarado que não renovaria o acordo de naming rights e o patrocínio a La Liga a partir da temporada 2023-24. O banco seguirá atrelado à competição até o fim da atual temporada. Ainda restam três rodadas para a conclusão do campeonato espanhol.
Também procurada pela reportagem, a Puma, patrocinadora de La Liga, emitiu a seguinte declaração:
“Na Puma, não toleramos racismo e condenamos qualquer forma de discriminação. Nos solidarizamos com Vinícius Júnior e toda a comunidade do futebol ao condenar os eventos de ontem.”, escreveu a empresa.
Na opinião de Ricardo Fort, a situação dos patrocinadores da competição é delicada, porém, não é algo inédito. Sempre que uma situação extrapola o ambiente esportivo e atinge questões sociais, as marcas atreladas àquela competição acabam sendo cobradas, como aconteceu na Copa do Mundo do Catar.
O especialista acredita que os patrocinadores da liga espanhola façam publicações para dar uma resposta ao público a respeito dos episódios de racismo. “De forma privada, contudo, eles já devem estar conversando e pressionando a Liga por uma atitude. Essa é uma situação péssima para os patrocinadores, que investem em um produto para ter retornos financeiros e acabam enfrentando essa pressão. Na minha opinião, o fato de a Liga não ter tomado uma atitude firme até agora em relação a esses casos ou é por incompetência ou por conivência. E não sei qual das duas alternativas é pior”, confessa Fort.
Um caso como esse acaba manchando não apenas a imagem de La Liga como da própria Espanha que, como lembra o especialista, é uma das candidatas a sediar a Copa do Mundo de 2030, ao lado de Portugal e Marrocos. Ciente da importância de considerar as questões sociais, Fifa certamente deve considerar a postura da liga espanhola em suas próximas decisões, acredita Fort.
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