Como a tecnologia e o e-mail podem salvar o jornalismo
Startup de jornalismo Axios comenta estratégias para entregar informações na medida certa para o consumidor diante de desconfiança, grande quantidade de informações e pouco tempo
Como a tecnologia e o e-mail podem salvar o jornalismo
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Thaís Monteiro
5 de outubro de 2022 - 10h49
Vinte e quatro newsletters, três milhões de assinantes, dois podcasts, um programa na HBO e eventos proprietários. Essa é a realidade dos produtos e audiência da Axios, startup norte-americana criada em 2017 por ex-fundadores do jornal Político, dos EUA, e focada na entrega de newsletters especializadas por grandes assuntos, segmentos de mercado e noticiário local.
Em cinco anos, a Axios já recebeu aportes financeiros de grandes empresas tradicionais de mídia e, em agosto deste ano, foi adquirida no valor de US$ 525 milhões pela Cox Enterprises, conglomerado de empresas de mídia, comunicação e do setor automotivo. Até o final do ano, a Axios visa atingir uma receita de mais de US$ 100 milhões.
A Axios foi criada para solucionar um problema específico: ajudar o leitor a saber mais coisas sobre mais tópicos diante de um grande volume de informações, desconfiança sobre a finalidade real das informações e informações falsas. O caminho foi a curadoria de diferentes fontes de notícias e produção de conteúdo local.
De acordo com Fabrício Drumond, Chief Revenue Office, que esteve no MaxiMídia deste ano, o modelo que encontraram de entregar as informações é pelo que chamam de “smart brevity” (“breviedade inteligente”, em tradução livre), um modo de apresentação de conteúdo rápido, mas profundo para que o leitor possa absorver o máximo de um tema em pouco tempo. As newsletters são confeccionadas em tópicos e links para caso o leitor queira se aprofundar em certos assuntos.
Tudo isso, é claro, englobado por alto investimento em tecnologia, que auxilia a empresa a conhecer a audiência, estabelecer uma relação de dados primários — hoje tão caro aos veículos de mídia e anunciantes –, oferecer anúncios relevantes e trabalhar na experiência de consumo. “Estamos muito focados na experiência do usuário no consumo do conteúdo. Brincamos que talvez sejamos a empresa que mais estudou cada pixel da tela de um celular pra conseguir colocar dentro dela o máximo de conteúdo possível e, ao mesmo tempo, entregar uma experiência elegante, que seja prazerosa e que o usuário saia do consumo da informação querendo voltar novamente”, descreveu Drumond.
A tecnologia é comercializada. O produto Axios HQ é uma plataforma de software através da qual outras empresas podem importar o modelo da Axios para auxiliar na sua comunicação interna e externa.
Por outro lado, a Axios é expressiva contra o uso de tecnologia na produção de conteúdo, mesmo que seja uma tendência entre alguns veículos seja usar inteligência artificial justamente para a confecção de newsletters com base nos interesses do leitor. “Todo conteúdo gerado na Axios tem nome e sobrenome. Nós levamos isso muito a fundo. Temos relação de confiança com o leitor, mas não queremos colocar nada em risco nessa confiança”, afirmou. São, ao todo, 200 jornalistas na equipe.
De início, as newsletters eram focadas em grandes temas, como política, economia, saúde e outros. Em 2019, a empresa iniciou pesquisas sobre o jornalismo local. Nos Estados Unidos, os veículos jornalísticos estão vendo suas assinaturas, receitas publicitárias e vagas de redação caírem desde a metade dos anos 2000. O executivo atribui isso ao crescimento das plataformas sociais que assumiram parte do investimento publicitário antes direcionado a tais veículos. “Eles perderam grande parte das receitas, mas ficou o custo”, pontuou.
Apesar disso, em 2021, a Axios lançou o braço Axios Local, que hoje tem 1,3 milhões de assinantes e com meta de chegar a 2 milhões até o final do ano. “Nós estamos tentando pensar com mentalidade de futuro: mobile first — cerca de 80% do conteúdo que o consumidor consome está no celular — e com estrutura de custos mais enxuta. Ao invés de criarmos redações gigantescas, elas são formadas por dois a quatro repórteres especializados em assuntos caros ao público local. O custo de suporte é centralizado na sede em DC”, explicou.
A relação da Axios com a Cox começou em 2021, quando o conglomerado se tornou investidor da startup em sua série de investimentos D. A partir disso, ambas as lideranças começaram a discutir a qualidade, importância e futuro do jornalismo. A Cox Enterprises já teve televisões estatais, que vendeu para outros grupos. Porém, Drumond garantiu que o interesse da família fundadora no jornalismo ainda é intenso. Assim, ao notar um alinhamento entre as partes, as conversas se dirigiram para a aquisição. Com o investimento, a Axios visa acelerar seu crescimento para tornar a empresa uma grande plataforma de notícias.
Na relação com os anunciantes, a Axios visa garantir credibilidade, relação sólida de confiança com a audiência, ambiente seguro e a qualificação de seus leitores como moeda de troca para atrair investimentos de profissionais de marketing. O anúncio deve estar alinhado com a experiência de consumo das informações, sem vieses e que ofereça aprendizados à audiência. “Toda campanha passa pela avaliação do time de branded journalism pq somos focados na experiência da Axios com o leitor”, detalhou.
A empresa lida com ambos anunciantes nacionais e locais. O anunciante nacional viu a chegada da Axios em diferentes cidades uma porta de entrada a novos mercados. Por outro lado, lembrou Drumond, o mercado de anunciantes locais nos Estados Unidos equivale a investimentos de US$ 100 milhões anuais.
“O que aconteceu nos últimos anos é que esses anunciantes migraram para fora das mídias locais e para as redes sociais. Só que agora tem quase um pêndulo acontecendo. As redes sociais estão difíceis de engajar o usuário e a oportunidade que temos agora com essa nova proposta criou um novo elo com essa audiência que temos um dialogado todos os dias”, explicou.
Mesmo com o encontro de um modelo sustentável, Drumond vê alguns obstáculos na replicação do mesmo para outros mercados, como o brasileiro. O primeiro deles é a escala, tendo em vista que os Estados Unidos é maior do que o país latino-americano. A equação de custo e monetização teria de ser adaptada. “É muito mais rentável focar e ser dono de um tema ou público-alvo e respeitar bem os limites do que você está gerando ali para você criar uma relação de confiança, para conhecer bem a audiência e para monetizar”, opinou.
O desafio de futuro da Axios é manter o crescimento de forma sustentável, alcançar 100 cidades no Axios Local, começando com 50 cidades em 2023, continuar em busca dos melhores talentos, manter o time engajado, expandir a sua plataforma de software e o serviço premium Axios Pro.
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