Sustentabilidade, crescimento e serviços: os rumos da economia em 2025
Daniela Carbinato e Silvio Campos apontam os caminhos e tendências para o cenário econômico brasileiro do próximo ano
Sustentabilidade, crescimento e serviços: os rumos da economia em 2025
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Valeria Contado
3 de outubro de 2024 - 8h07
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 3,3% se comparado ao segundo trimestre do ano passado.
O IBGE aponta, ainda, que esse crescimento é uma consequência nas altas em segmentos como Serviços (1%) e Indústria (1,8%). Além disso, a taxa de desemprego no país caiu a 6,6% em agosto deste ano, o que segundo a entidade se torna a menor taxa para o mês em toda a série histórica.
Apesar desses dados, que são positivos e que afetam diretamente a percepção econômica do País, o cenário econômico para grande parte da população ainda não é percebido como positivo, além de ser tido como desafiador, levantando dúvidas em relação a continuidade do ritmo de crescimento nacional. Esse foi o assunto da conversa entre Daniela Carbinato, sócia da Bain & Company e Silvio Campos, sócio da consultoria Tendências no palco do Maximídia nesta quarta-feira, 2.
Esses cenários foram apresentados para contextualizar a questão central a respeito dos pontos-chave que devem levar um segmento econômico ao sucesso no próximo ano. Pelo olhar do consumidor, o brasileiro não tem a percepção de que as coisas melhoraram, pois ainda se sente preocupado com o valor dos elementos considerados essenciais na cesta de consumo.
Segundo dados da pesquisa Consumer Pulse, da Bain & Company, apresentados por Daniela, 40% dos 2.500 respondentes ainda não conseguem poupar porque gastam com o consumo dos itens considerados por eles como necessários. “Então, apesar das coisas irem melhorando de forma macroeconômica, na conta do mês as contas ainda são muito apertadas”, afirmou a executiva.
O segmento de serviços foi um dos apontados pelo IBGE como fonte de crescimento para o PIB este ano. Esse aporte representa, atualmente, 70% do produto do País e foi um dos mais afetados pela pandemia, que ainda é um dos fantasmas que assolam a economia brasileira. Por isso, ao apresentar dados de crescimento nesse setor, sendo ele beneficiado, os indicadores de retomada se tornam positivos para os próximos anos, como explicou Silvio Campos.
Para o executivo, essa é uma das consequências do aquecimento do mercado de trabalho, já que, conforme a renda das pessoas vai aumentando, o consumo cresce junto. “Ainda existem dificuldades e as pessoas seguem com o aperto financeiro, mas conforme a renda evoluí, os consumidores tendem a usar uma parte maior dos seus recursos com serviços do que propriamente com bens”, afirmou Campos.
Como consequência de o aporte financeiro das famílias melhorar, parte dos consumidores consegue começar a incluir outros produtos em suas cestas de consumo e até mesmo premiunizar alguns desses desejos de consumo de acordo com aspectos de discussões de rentabilidade e oferta. “Eu trabalho muito com o Moda e Cosmético, que são dois setores cujas projeções de crescimento são muito positivas para os próximos dois ou três anos. Essa premiumização abre espaço para algumas alavancas de valor para as organizações”, avaliou Daniela.
Outro ponto importante para a análise econômica do brasileiro é o lazer. Acesso a programas culturais, como cinema e teatro, viagens e outras atividades ainda são algo distante para parte da população. Os 40%, mencionados na pesquisa da Bain Company, não conseguem acesso fácil a esses recursos. Esse valor cresce ainda mais quando o recorte leva em consideração os respondentes da classe C, em que 60% afirmam não conseguir nem planejar viagens.
Isso gera uma preocupação em relação ao tempo e qualidade de vida que a população gostaria de investir em lazer. “A partir do momento que você tem um destravamento, um emprego formal mais estável, as pessoas deveriam conseguir acessar economia do lazer, viagens e cultura. Esses respondentes verbalizam que gostariam de investir mais tempo e mais dinheiro em bem-estar e saúde”, explicou Daniela.
Em meio a essas discussões, surge um dado relevante sobre a relação dos brasileiros com as casas de apostas, empresas vinculadas ao segmento de lazer. Segundo dados de um estudo realizado pelo Banco Central (BC), o mercado de jogos de apostas online faz girar entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões ao mês.
Ainda segundo a instituição, 5 milhões de pessoas de famílias cadastradas no programa Bolsa Família (PBF) enviaram R$ 3 bilhões às empresas de aposta por meio do Pix. Para Silvio, alguns questionamentos, inclusive metodológicos em relação a esses dados apontados pelo BC precisam ser avaliados, mas o executivo afirmou que, de fato, os números preocupam.
“Se pegarmos os últimos anos, as famílias ficaram numa situação de um certo estrangulamento financeiro, isso porque, durante a pandemia, tivemos um pico inflacionário que não tínhamos há muito tempo. Os preços de alimentos, de forma geral, subiram substancialmente, corroeram a renda das famílias e as pessoas se intimidaram muito. Agora eles estão conseguindo ter uma melhora”, afirmou.
É aí que, segundo Silvio, as casas de apostas se encaixam no orçamento. “Recentemente, grandes empresas, por meio das suas divulgações de resultados financeiros trimestrais, colocaram nas bets uma certa responsabilidade na explicação de um desempenho financeiro abaixo do que elas esperavam”, completou.
Uma das grandes preocupações do brasileiro quando se fala em consumo é em relação à sustentabilidade. Isso acontece especialmente porque o consumidor brasileiro tem sentido diretamente os impactos da degradação ambiental.
Apesar de essa ser uma preocupação, ainda não é um fator determinante para a decisão de compra. Isso acontece por conta de dois fatores primordiais. O primeiro é porque o consumidor ainda não encontrou uma forma de traduzir em sua cesta de consumo as preocupações com o meio ambiente.
A Bain produz um relatório global de sustentabilidade que indicou que 80% dos brasileiros se declaram muito preocupados com a sustentabilidade. Desses, 70% adotam hábitos de mudanças. No entanto, apenas 20% declaram que a sustentabilidade é um dos dois principais critérios para fazer uma compra.
Segundo Daniela, os brasileiros adotam, primordialmente, hábitos que contribuam para a redução das mudanças climáticas, mas também focam em hábitos que modificam o próprio custo de vida, como temáticas ligadas ao aproveitamento, circularidade, seja de embalagem, seja de roupas, entre outros.
O segundo ponto é relacionado a oferta realizada pelas empresas. Muitas vezes elas atingem um valor de mercado muito superior ao que as pessoas estão dispostas a pagar, não são de fácil acesso, ou mesmo não tem a mesma variedade que os produtos não sustentáveis.
“O consumidor não tem todas as informações para tomar a decisão de compra com o preço determinado. Por isso, um dos findings mais importantes da pesquisa desse ano foi justamente isso, o papel que as embalagens possuem ainda, esse último momento do consumidor diante da escolha, de dizer, de fato, eu estou consumindo e causando esse impacto”, concluiu Daniela.
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