A reinvenção das bancas de jornal
Apesar de o número desses pontos de venda de publicações impressas terem se reduzido, o mercado tem se reinventado com a diversificação de produtos
Apesar de o número desses pontos de venda de publicações impressas terem se reduzido, o mercado tem se reinventado com a diversificação de produtos
Amanda Schnaider
1 de dezembro de 2021 - 6h03
Em 2009, São Paulo, a maior cidade do Brasil, tinha 3.178 estabelecimentos cadastrados como bancas de jornal na prefeitura. No ano passado, o número havia caído para 2.372. Se, antes, as bancas vendiam até cem exemplares de jornais por dia, com a mudança no consumo de notícias, devido, especialmente, à digitalização, esses estabelecimentos tiveram de diversificar sua oferta de produtos. Porém, isso não necessariamente quer dizer que as bancas estão acabando, e sim que estão se reinventando.
Adriano Duarte, por exemplo, é proprietário da Banca Gazeta, que fica localizada na avenida Paulista, uma das principais de São Paulo. É dono também de mais quatro bancas, duas na mesma avenida e duas na região central da cidade. “O que mudou é que temos que seguir a tendência. Não se vende mais jornais como se vendia antigamente. Algumas publicações, pelo fato de existir online, já não vendem tanto. Por causa da tecnologia, vamos nos reinventando conforme passam os anos”, ressalta.
Essa reinvenção passa pela mudança de foco dos produtos vendidos. Segundo Duarte, se antes todos os assuntos e capas vendiam, agora essa já não é mais a realidade. “Alguns assuntos específicos vendem, algumas capas específicas vendem”, comenta. O proprietário revela que as publicações que mais vendem nas suas bancas são as revistas em quadrinhos e os mangás. Por isso, ficam em parte estratégica da banca. “O colecionador não vai colecionar uma revista online, digital. Ele gosta de ter o papel para guardar”, enfatiza. Duarte diz que as publicações importadas também têm boa saída, assim como as revistas de turismo, que sofreram baixa durante a pandemia, mas que devem voltar a crescer.
A conveniência
Apesar de a venda de revistas na Banca Gazeta representar cerca de 40% do faturamento do estabelecimento, de acordo com Duarte, o que mais vende é a parte de conveniência. Graças à Lei 15.895/2013, cujo projeto foi idealizado pelo então presidente da Câmara Municipal de São Paulo, José Américo (PT), as bancas da capital paulista puderam ampliar sua lista de produtos vendidos desde novembro de 2013. Na justificativa do projeto, Américo afirmou que a iniciativa tentava corrigir uma injustiça, já que as bancas enfrentavam a concorrência de, por exemplo, supermercados e lojas de conveniência, que podem vender jornais e revistas sem restrição. “As bancas não precisam de privilégios, mas de condições iguais para competir”, disse à época.
Com a lei, as bancas passaram a poder comercializar bebidas e comidas; artigos eletrônicos de pequeno porte; artigos de papelaria; cartões de recarga e chips para celulares; transmissão e recepção de fax e e-mail; assinaturas de revistas; e serviços de revelação de fotos. Porém, é importante destacar que não é permitido vender tudo em uma banca de jornal em São Paulo e que a lei diz que é preciso dedicar no mínimo 75% do espaço a produtos editoriais.
“Como as minhas bancas estão em alguns pontos bem estratégicos, pontos movimentados, tento seguir bem o que está na lei. A banca de jornal tem lei específica e você tem que seguir”, comenta Duarte, afirmando, entretanto, que muitas bancas vendem produtos que não seguem essa norma. “O que é para ser feito a gente faz. Agora, não podemos transformar uma banca de jornal em lanchonete. Não podemos descaracterizar a banca”, completa.
As bancas, afirma, não irão acabar, mas continuar se reinventando. Apesar disso, faz um alerta: “Se a revista fosse barata, se tivesse algum incentivo, se as editoras conseguissem um patrocínio – eu sei que o custo de produzir uma revista é alto -, mas, se fosse um preço mais acessível, com certeza venderia mais”. Ricardo Pedreira, diretor-executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), entende que, embora as bancas não tenham mais a mesma relevância que tiveram no passado com a venda de jornais e revistas, ainda são pontos de venda importantes para a mídia impressa. “De toda forma, o essencial é que o bom jornalismo segue cumprindo sua missão de informar aos cidadãos em diferentes plataformas, com grande audiência”, destaca.
“A Gente Banca”
Com o intuito de ajudar os jornaleiros nesse momento, o Santander criou linha de microcrédito para reforma e diversificação de receita das bancas, vinculada à realização de curso profissionalizante online para prestação de serviços e que permite abatimento de um terço do pagamento dos empréstimos em publicidade exclusiva. Criada pela VMLY&R e Suno United Creators, a campanha “A Gente Banca”, que jogou luz ao projeto do banco, ganhou o Grand Effie na 14ª edição do Effie Awards Brasil. “O objetivo do case foi construir um modelo não de mera salvação ou auxílio as bancas, mas uma equação financeiramente sustentável para ambas as partes no longo prazo. Sabemos que a mídia impressa diminui e vai diminuir ainda mais, para isso era importante criar novas fontes de renda para os jornaleiros”, afirma Igor Puga, diretor de Marca e Marketing do Santander.
**Crédito da imagem no topo: Arthur Nobre
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