Sturm: “Público estará ávido pelos cinemas na retomada”
Diretor do Petra Belas Artes e ex-secretário da cultura de São Paulo fala sobre a expectativa de reabertura e sobre a aposta da marca em um cinema drive-in e serviço de streaming
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Karina Balan Julio
3 de julho de 2020 - 8h00
Em meio à crise do setor exibidor de cinemas, com salas fechadas desde março, o cinema de rua Petra Belas Artes, de São Paulo, aposta em uma estratégia multicanal para continuar atendendo aos cinéfilos. Coordenado pelo empresário André Sturm, também ex-secretário de cultura da cidade, o cinema é conhecido pela programação de filmes de arte e por seu valor histórico, já que é um dos últimos cinemas de rua da capital paulista.
A última empreitada do Belas Artes foi a inauguração, no início de junho, de um cinema drive-in em um ponto icônico da cidade, o Memorial da América Latina. “Com a pandemia, me vi com uma equipe de 50 pessoas sem trabalhar e sem perspectiva de receitas, afinal cinema não tem delivery. Precisávamos enfrentar a situação e então veio a ideia do drive-in”, conta o diretor.
Além disso, o cinema está fortalecendo seu streaming próprio, o Belas Artes à la Carte, e atua com uma distribuidora de filmes própria, a Pandora. A atuação em vários formatos faz parte da tentativa de atender o público de cinema em várias frentes e de valorizar a curadoria da marca. A ideia, porém, é voltar a receber o público à medida em que o período mais crítico da pandemia passe e cinemas sejam autorizados a reabrir. “Sinceramente não acredito nessa história de ‘novo normal'”, confessa André.
Em entrevista ao Meio & Mensagem, ele comenta sobre a estratégia complementar entre cinema, streaming e drive-in, e também sobre o impacto da pandemia sobre os exibidores.
M&M – O Belas Artes criou um cinema drive-in a céu aberto para continuar funcionando de alguma forma, apesar da pandemia. Como foi o planejamento para o lançamento do Belas Artes Drive-in?
André Sturm – Fechamos nosso cinema no dia 17 de março, e no começo todo mundo achava que a questão da pandemia se resolveria em torno de um mês. Quando chegamos ao final de abril, ficou evidente que era algo que não se resolveria logo. Me vi com uma equipe de 50 pessoas sem trabalhar e sem perspectiva de receitas, afinal cinema não tem delivery. Precisávamos enfrentar a situação e então veio a ideia do drive-in. Há quatro anos, junto com o empresário Facundo Guerra, já tínhamos feito uma sala drive-in em nosso cinema, um espaço com poltronas de carro e comida onde recriamos o clima dos drive-ins a céu aberto. O projeto foi um sucesso e durou um ano. No contexto da pandemia, pensamos “porque não fazer um drive-in de verdade”?. Surgiu a ideia de fazer um cinema drive-in com a personalidade do Belas Artes, com programação diferenciada e em um lugar charmoso que tivesse ligação com a cultura. Em três semanas colocamos o projeto de pé no Memorial da América Latina. O drive-in é a primeira alternativa das pessoas para sair de casa e se divertirem, além de ser uma experiência muito gostosa.
Como imagina que será o cenário de retomada dos cinemas no pós-pandemia?
Sinceramente não acredito nessa história de “novo normal”. Acho que quando for autorizada a reabertura, as pessoas retornarão ao cinema. É claro, não teremos o mesmo público que tínhamos antes da pandemia, até porque muitas pessoas estão traumatizadas e continuarão preocupadas com a pandemia. Mas não acho que cinemas ficarão vazios. Teremos um público ávido pela experiência de sentar em uma sala com outras pessoas novamente, para gargalhar e chorar junto.
O Belas Artes também criou um serviço de streaming no ano passado, uma estratégia interessante vinda de uma exibidora. Como o Belas Artes a la Carte complementa o negócio do cinema?
As pessoas têm muito carinho pelo Belas Artes porque é um cinema que oferece filmes diferentes. No ano passado notamos um comentário geral de que as plataformas de streaming mais conhecidas ofereciam conteúdo muito similar. Como a marca do nosso cinema é a curadoria, surgiu a ideia de oferecer o Belas Artes em qualquer lugar através do streaming. Começamos o Belas Artes a la Carte em caráter experimental e vimos que há muita vontade das pessoas de ver filmes diferentes. Não gosto nem de chamá-los de alternativos, porque são filmes normais, mas que simplesmente não se enquadram nos mesmos produtos de hollywood que estão em todos os cinemas e plataformas. Houve uma pasteurização dos cinemas e streamings, então a ideia é oferecer algo diferente. Em abril, por conta da pandemia, abrimos a plataforma gratuitamente durante um mês e foi um sucesso incrível. Alcançamos 100 mil inscritos de todos os estados do Brasil nesse período.
A médio prazo, considerando a crise entre os exibidores de cinema, acha que o streaming pode se tornar uma boa opção de negócio complementar?
Não posso falar por outras empresas, mas vejo muita gente dizer que o streaming vai acabar com as salas de cinema, e acho que essa ideia é uma tolice. A experiência de assistir um filme em casa é uma, e a de assistir um filme no cinema é outra. Se fôssemos levar isso a sério, significaria dizer que, agora que há um boom das empresas de delivery, as pessoas não vão mais querer ir a restaurantes. É claro que não, tudo depende de se a pessoa quer sair de casa ou não. Com o cinema é a mesma coisa. No nosso caso, decidimos ir para o streaming para que nossa expertise de curadoria possa ser acessível para mais pessoas. É uma tentativa de atender o público de cinema em todas as frentes.
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