O que está por trás da aquisição do Congresso em Foco pelo Migalhas?
Migalhas irá investir em tecnologia e inovação para ampliar alcance do Congresso em Foco e aprimorar experiência do consumidor
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Thaís Monteiro
20 de dezembro de 2024 - 17h56
Os veículos jornalísticos Congresso em Foco e Migalhas estreitaram sua relação. Veículo focado na cobertura do Poder Judiciário, o Migalhas adquiriu o Congresso em Foco em novembro desse ano. As operações seguem independentes, mas devem aproveitar as sinergias para potencializar o alcance das publicações.
Conforme o CEO do Migalhas, Miguel Matos, a aquisição do Congresso em Foco partiu de uma necessidade de acompanhar uma transformação no consumo de notícias, em que o Poder Legislativo passa a chamar a atenção do público. “A combinação entre notícias jurídicas e políticas será fundamental para acompanhar esse novo cenário. O Migalhas, com sua sólida posição na cobertura jurídica, e o Congresso em Foco, referência no acompanhamento político e legislativo, têm trajetórias de credibilidade”, afirma.
Por enquanto, a intenção do Migalhas é manter a essência do Congresso em Foco, mas ampliar investimentos em inovação e tecnologia para aumentar o alcance editorial e melhorar a experiência do consumidor. “O público pode esperar um Congresso em Foco revitalizado, sem perder o DNA que o trouxe até aqui”, descreve. Porém, cada veículo manterá sua identidade, público e particularidades.
Jornalismo na era 4.0: desafios e saídas
Fundador do Congresso em Foco, Sylvio Costa, compartilha que a intenção de trazer um investidor de maior porte começou com a ampliação da concorrência e da retração de investimentos publicitários no período do governo de Jair Bolsonaro, em que o veículo se posicionou de forma contrária ao então presidente.
“De lá para cá, a realidade do jornalismo digital mudou completamente com a entrada de investidores que começaram a por dinheiro grande nos veículos digitais e nos novos. Durante muitos anos, não tínhamos concorrência. Passamos a ter. Era fundamental trazer investidores para o Congresso em Foco competir em melhores condições, para que ele pudesse se desenvolver com melhor qualidade e equipamento”, divide.
O empresário iniciou tratativas com interessados há dois anos. A escolha do Migalhas se deu por sinergia de valores e pela garantia de que o comprador manteria a equipe atual do Congresso em Foco. Atualmente, o veículo conta com uma redação de 15 pessoas. Enquanto isso, Costa afirma que irá explorar outros projetos no campo do empreendedorismo.
O Congresso em Foco nasceu como uma newsletter da agência Oficina da Palavra, do jornalista Sylvio Costa, em 2004. A newsletter foi batizada Congresso na Tela, mas logo ganhou um site próprio. À época, Costa observava uma lacuna na cobertura aprofundada dos acontecimentos em pauta no Congresso Nacional. Desse crescimento, Costa passou a dividir a sociedade com dois de seus filhos.
Ao longo desses 20 anos, o Congresso em Foco se consolidou como um dos principais veículos nessa esfera, com uma cobertura que incluía furos jornalísticos, como os gastos dos deputados, registros criminais, e outros assuntos de interesse público. Entre os projetos em destaque está o Radar do Congresso, que traça um perfil sobre cada parlamentar, incluindo processos, gastos, votos e índice de governismo.
Junto com o crescimento da audiência, o portal viu sua receita aumentar a partir de publicidade e patrocínios. Há 14 anos, a empresa mantém parceria com o UOL. Outra fonte de receita relevante é o Prêmio Congresso em Foco, que acontece há 17 anos. Além disso, o veículo conta com uma área de pesquisas para material interno, para o público e para as marcas.
O Congresso em Foco também ganhou oito Leões no Cannes Lions em campanhas diversas, como no projeto Cartão da Transparência, desenvolvido pela agência AKQA, em 2023, com o projeto Bolos Antiblock, criada com a Associação de Jornalismo Investigativo (Abraji) e realizado pela agência FCB Brasil, em 2021, e com a ferramenta Trending Botics, criada com a FCB Brasil, em 2019. Para Costa, os prêmios reconhecem o trabalho de impacto do jornalismo.
Diante dos desafios em relação a fragmentação do conteúdo e desinformação, Matos aposta na credibilidade e reputação dos veículos construída ao longo dos anos como uma defesa consistente. “Curiosamente, em meio à tempestade de desinformação, o jornalismo sério e confiável se torna um porto seguro e, portanto, mais valioso. Credibilidade nunca foi tão importante. A tecnologia, por sua vez, não é inimiga, é ferramenta. IA, por exemplo, pode nos ajudar a distribuir melhor o conteúdo e otimizar processos, mas a alma do jornalismo continua sendo humana”, argumenta.
Já Costa mantém uma aposta no jornalismo de nicho, que mantem um diferencial e público fiel, na tecnologia como aliada na produção de conteúdo dinâmico, de qualidade e rápido, e no vídeo como uma tendência no consumo de conteúdo. “A oferta da informação digital vai ter como linguagem predominante o vídeo. Sobre esse aspecto da confiança, as pessoas querem ver ao invés de ler ou ouvir falar sobre um assunto”, coloca.
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