“Atletiba é boa iniciativa que esbarrou em burocracias”
De acordo com Anderson Gurgel, autor do livro Futebol S/A, o caso envolvendo os dois clubes paranaenses indica mudança e desafios na forma de transmitir eventos esportivos
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BuscarDe acordo com Anderson Gurgel, autor do livro Futebol S/A, o caso envolvendo os dois clubes paranaenses indica mudança e desafios na forma de transmitir eventos esportivos
Luiz Gustavo Pacete
21 de fevereiro de 2017 - 8h03
A tentativa fracassada de Atlético – PR e Coritiba transmitirem o clássico do último domingo, 19, via YouTube e Facebook, ainda gera discussões sobre os limites e interesses envolvidos no caso. De um lado, a Federação Paranaense de Futebol (FPF) alega que os profissionais contratados pelos clubes para captar e transmitir a partida não possuíam credenciais. De outro, a Globo, que chegou a ser apontada como corresponsável pelo impedimento da partida, se pronunciou em nota alegando que não possui relação com o ocorrido. “Entendemos que cabe aos clubes dispor livremente dos direitos nos jogos em que se enfrentam, e estávamos cientes inclusive da transmissão via Internet”, disse a emissora, em nota.
Já os clubes haviam informado que, diante de ofertas não satisfatórias em negociações com a Globo, os jogos passariam a ser transmitidos pela internet. Ao Meio & Mensagem, Anderson Gurgel, autor do livro Futebol S/A e professor dos cursos de jornalismo esportivo do Mackenzie, analisa o caso como uma tendência que ainda será alvo de muitas discussões. “O fato de os clubes usarem internet e redes sociais é tendência de outras áreas de conteúdo e começa a chegar com força no futebol”, diz Gurgel, ressaltando que a iniciativa dos clubes foi boa, mas esbarrou em argumentações técnicas. “A alegação da ausência de credenciais foi um argumento técnico que pegou os clubes despreparados”, afirma.
Meio & Mensagem – O que a proibição da transmissão do jogo Atlético Paranaense e Coritiba, no último domingo, representa?
Anderson Gurgel – Esse movimento de levar a transmissão para Facebook, YouTube, ou qualquer outra rede social não é um fato isolado. O fato de os clubes usarem internet e redes sociais é tendência de outras áreas de conteúdo e que começa a chegar com força no futebol. Temos cada vez mais iniciativas de pessoas que estão percebendo que o caminho para atingir o público jovem é outro que não à transmissão tradicional da TV. As novas gerações não possuem relação com a televisão como as outras. Os clubes europeus estão mostrando iniciativas interessantes sobre isso, temos casos de transmissões de Copa do Rey na Espanha e Premier League na Inglaterra.
“A iniciativa dos clubes do Paraná foi boa, mas esbarrou em burocracias e na tentativa daqueles que viram seus interesses prejudicados”
M&M – Houve ilegalidade ou quebra de algum tipo de contrato no episódio?
Gurgel – A iniciativa dos clubes do Paraná foi boa, mas esbarrou em burocracias e na tentativa daqueles que viram seus interesses prejudicados. Eles tentaram, então, retardar e alegar decisões técnicas para que a partida não ocorresse. Usaram como prerrogativa uma regra do jogo. O que faltou, eu diria, era o maior preparo dos clubes, mas quanto a iniciativa, é muito boa.
M&M – O que isso ilustra sobre o atual momento de negociações envolvendo direitos de transmissão esportiva no Brasil?
Gurgel – A iniciativa dos clubes do Paraná é a resposta de partes de uma situação que não está se sentindo beneficiada pelo modelo de distribuição dos direitos de transmissão. Clubes que não estão satisfeitos como a forma em que as negociações se estabeleceram e encontraram uma brecha a ser explorada em um contexto local, o caso de Atlético Paranaense e Coritiba. Fazia todo sentido essa transmissão tendo em vista o potencial regional que ela possuía. O que está em jogo é um embate entre poder instituído e que não está restrito a esse ou outro campeonato local, mas envolve Copa do Mundo, Olimpíadas e outros grandes eventos. Não envolve somente a Globo, mas grandes emissoras também fora do Brasil. É um poder que tenta retardar esse processo que, no longo prazo, ou melhor, no médio prazo vai mudar. A Netflix sempre é usada para ilustrar essas mudanças e eu uso aqui como exemplo também. É um tipo de modelo que começa a ser abalado por outro que chega com força. Na última Olimpíada, observamos formas bem criativas em que o evento apareceu no Facebook, YouTube e no Snapchat.
“A iniciativa dos clubes do Paraná é a resposta de partes de uma situação que não está se sentindo beneficiada pelo modelo de distribuição dos direitos de transmissão”
M&M –Quais novidades sobre o tema ainda podem despontar?
Gurgel – O que vamos ver daqui em diante serão situações cada vez mais parecidas com essas e fissuras na estrutura do modelo de futebol no Brasil. Haja vista a transmissão do Campeonato Brasileiro que, a partir de 2019, incluirá novos players que não aqueles que já estavam estabelecidos. Cada vez mais veremos transmissões esportivas até então consolidadas na TV sendo transmitidas em plataformas alternativas e esportes que eram tipicamente de plataformas digitais, como o surf, tendo entrado na TV aberta. O surf é um exemplo que ilustra bem a mudança em termos de dinâmica. No caso do Brasil, o esporte veio em um crescente com Medina e Mineirinho e isso demandou transmissões e iniciativas muito ligadas às redes sociais.
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