“Atrair os jovens à TV foi meu maior orgulho” diz autor de Malhação
Na reta final de “Viva a Diferença”, Cao Hamburger conta como abordou tabus do universo adolescente
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Bárbara Sacchitiello
9 de fevereiro de 2018 - 16h23
Em maio do ano passado, quando entrou no ar a temporada “Viva a Diferença”, a novela Malhação trazia alguns elementos inéditos dentro e fora do ar. Era a primeira vez que a trama adolescente da Globo, no ar há mais de duas décadas, seria ambientada na cidade de São Paulo. Também era a primeira temporada estrelada por um grupo de protagonistas mulheres. Nos bastidores, também existia uma estreia. Depois de diversos trabalhos em formato de séries e longas, aquela era a primeira novela no currículo de Cao Hamburger.
Prestes a encerrar esse trabalho na televisão – a atual temporada de Malhação está prevista para terminar em março – o autor faz um balanço positivo de sua primeira telenovela. “Conseguimos aliar boa audiência, qualidade artística e conteúdos relevantes. As histórias foram evoluindo ao longo do ano e vamos fechar com chave de ouro”, promete.
O que destacou “Viva a Diferença” entre tantas temporadas de Malhação foi o fato de a trama ter usado a diversidade como fio condutor. Desde a escolha das protagonistas (personagens de diferentes estilos e classes sociais) até a o aprofundamento de questões presentes no cotidiano dos jovens – como gravidez na adolescência, discriminação e novas formas de exploração da sexualidade (com direito a cenas de beijos entre duas jovens) – Cao deixou claro que sua Malhação era uma obra de ficção que procurava, o máximo possível, se aproximar da realidade. “Quis revisitar e entender o universo de perto. Fizemos vasta pesquisa, incluindo encontros com jovens, tanto de escola pública como de escolas particulares, fomos à periferia, conversamos com educadores, com pais. No final das contas, achei jovens não muito diferentes do que foi na essência”, diz o autor.Celebrando a boa repercussão da trama entre os críticos – a novela chegou a ser indicada entre as melhores de 2017 pela Associação Paulista dos Críticos de Arte – Cao Hamburger fez um balanço de seu trabalho ao Meio & Mensagem, comentando sobre os desafios de produzir conteúdo para os jovens em um cenário de grande pluralidade de entretenimento. O autor também acredita que “Viva a Diferença” deixará para a TV aberta a lição de que “televisão de qualidade pode ser popular”.
Meio & Mensagem: Que balanço você faz do trabalho realizado nesta temporada de Malhação? A história terminará de acordo com o que havia planejado?
Cao Hamburger: Sou suspeito, mas meu balanço é bastante positivo. Conseguimos aliar boa audiência, qualidade artística e conteúdos relevantes. As histórias foram evoluindo ao longo do ano e vamos fechar com chave de ouro.
M&M: “Malhação – Viva a Diferença” trouxe inovações para a trama da Globo, sendo uma das principais a escolha de cinco protagonistas mulheres. Que tipo de mensagem você acredita que isso transmitiu aos jovens?
Cao: Provamos que os jovens estão antenados ao que acontece no mundo. A nossa história se propôs a falar de diversidade e respeito às diferenças, à opinião, à posição, à cultura do outro. A boa aceitação mostra que os jovens são inteligentes, estão preocupados em entender e cuidar do mundo a sua volta.
Mexemos com alguns tabus, entre eles a relação afetiva/amorosa entre pessoas do mesmo sexo. Procurei tratar o assunto sempre com muito respeito e sensibilidade. Não procurei chocar ou colocar os incomodados na parede
M&M: O fato da novela se passar em São Paulo também foi um ingrediente novo. Como foi ambientar a história na capital paulista?
Cao: Sou paulistano da gema. Não foi difícil para mim. Das características de São Paulo que contribuíram para a história, destaco o aspecto cosmopolita da cidade, já que estávamos falando de diversidade cultural. Chutaria também, sem qualquer dado científico, que os sotaques e as gírias diferentes podem ter ajudado. O público, penso eu, gostou de ouvir uma outra sonoridade.
M&M: A crítica televisa elogiou muito Malhação pelo fato de abordar diversas questões do mundo dos jovens de forma aprofundada e natural. Que tipo de cuidado você e a equipe tomaram para trabalhar esses diferentes temas?
Cao: Em primeiro lugar, antes de começar a escrever os capítulos, procurei mergulhar no mundo jovem. Quis revisitar e entender o universo de perto. Então fizemos vasta pesquisa, incluindo encontros com jovens, tanto da escola pública como de escolas particulares, fomos à periferia, conversamos com educadores, com pais, pesquisamos em diversas fontes. No final das contas, achei jovens não muito diferentes do que eu fui na essência. Muitas questões parecidas e muitas outras novas. Juntando toda essa pesquisa, às memórias de pai de adolescentes e do adolescente que fui na minha fase de colegial, as histórias foram sendo construídas.
M&M: A novela chegou a receber algumas críticas nas mídias sociais por exibir cenas de beijo entre pessoas do mesmo sexo. Como você recebeu essas reclamações?
Cao: Mexemos com alguns tabus, entre eles a relação afetiva/amorosa entre pessoas do mesmo sexo. Assunto que apareceu com muita força na pesquisa. Os jovens de hoje, na maioria das vezes, se relacionam com essa questão com mais intensidade e mais naturalidade do que na minha época. Mas entendo que grande parte da sociedade ainda se incomoda. E não são necessariamente os homofóbicos. Portanto, procurei tratar o assunto sempre com muito respeito e sensibilidade. Não procurei chocar ou colocar os incomodados na parede. É um assunto que a sociedade como um todo e a televisão, em particular, vem tratando. Espero que consigamos evoluir rápido nesse aspecto. Tratamos também de homofobia e violência homofóbica. Esse é outro assunto e deve ser combatido com energia. É crime.
M&M: A que atribui os bons índices de audiência que a novela conquistou para o horário e a repercussão obtida nas redes sociais?
Cao: À qualidade artística impressa pelo Paulo Silvestrini e sua equipe; ao elenco carismático e talentoso; à qualidade de dramaturgia e diálogo, que divido com minha equipe; ao apoio que tivemos da cúpula da Globo, em especial do Silvio de Abreu, da Monica Albuquerque e sua equipe; à grade da Globo, com produtos fortes… Enfim, o sucesso é sempre a soma de muitos fatores. Muitos planetas e estrelas têm que se alinhar.
M&M: Como foi, para você, o desafio de atrair a audiência jovem para a TV, em um cenário de diversas opções de entretenimento?
Cao: Esse é meu maior orgulho. Conseguimos atrair o jovem mesmo diante da oferta de tantas telas. É mais um exemplo de que televisão de qualidade pode ser popular.
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