Bandersnatch dá novo sentido às narrativas interativas da Netflix
Filme interativo do universo de Black Mirror fez uso da metalinguagem para usar um recurso que já vem sendo testado pela plataforma desde 2017
Bandersnatch dá novo sentido às narrativas interativas da Netflix
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Luiz Gustavo Pacete
3 de janeiro de 2019 - 16h26
Inicialmente inofensivas – qual cereal escolher ou qual música ouvir? – as decisões que os assinantes da Netflix precisam tomar no filme interativo Bandersnatch, de 90 minutos, derivado do universo Black Mirror, vão ficando complexas e decisivas no decorrer da trama. Lançado em 28 de dezembro, o formato interativo da plataforma despertou vários tipos de comentários e foi um dos assuntos mais comentados no final do ano pelos fãs de filmes e séries.
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A narrativa ocorre em 1984 na formação da indústria gamer. Restrito a usuários com o device apropriado – muitos apontaram que a interatividade não funcionou na Apple TV e em modelos de SmarTV mais antigos – o formato também pode ser visto em consoles de videogame, o que deu ainda mais a sensação de um jogo.
Com o uso da metalinguagem, no entanto, a Netflix não deixou claro o que pretende com o formato. Apenas uma peça de marketing para aquecer a quinta temporada que estreia em outubro? Ou o teste de um formato interativo que poderá ser utilizado mais vezes?
“Bandersnatch não é profundo nem surpreendente como os melhores episódios da série, mas é divertido. E vai gerar muito assunto, além de uma questão pertinente: é o público quem controla a narrativa ou o contrário? Como se diz por aí, isto é muito Black Mirror”, escreveu Tony Goes em sua critica na Folha. Além do filme, a Netflix criou uma página para download onde está disponível o jogo retratado no filme.
Victor Azevedo, especialista em cultura digital do Ibmec, afirma que Bandersnatch usa de conceitos dos “livros jogos”, obras literárias que o leitor precisa escolher o que os personagens devem fazer. “O mercado de streaming por assinatura tem crescido vertiginosamente. Estrategicamente a Netflix com esse tipo de conteúdo interativo pode conseguir dois feitos: diferencial competitivo perante aos outros players, forçando-os a desenvolverem novas funcionalidades e narrativas em suas plataformas e maior engajamento do telespectador”.
Ainda de acordo com Victor, essas escolhas e decisões fazem com que o receptor também seja um emissor transformando o telespectador em usuário semelhante aos jogos ou a própria internet. “O interessante agora é ver como a Netflix irá tratar esse formato pois com o conteúdo de Bandersnatch fazendo uma metalinguagem o método fez sentido, mas com outras narrativas ainda é incerto. Talvez esse filme tenha sido um grande tutorial, com conteúdo auto explicativo, que tem o objetivo de nos ensinar como devemos interagir com as futuras produções originais tanto da Netflix quanto dos outros players”, explica.
A Netflix já havia testado formatos interativos anteriormente. Em 2017, “Gato de Botas: Preso num Conto Épico” foi anunciado como a primeira produção interativa da plataforma. Ao usuário era dada a possibilidade de escolher se a história duraria 18 ou 39 minutos, além disso, existem duas possibilidades de desfechos. Em novembro daquele ano, “Buddy Thunderstruck: A Pilha do Talvez” trazia uma proposta parecida. Na ocasião, Engelbrecht Fisher, diretora de inovação da plataforma afirmou, em comunicado, que “o cruzamento dos nossos engenheiros de Silicon Valley com as mentes criativas em Hollywood deu à luz um mundo de infinitas possibilidades de narração na Netflix.”
Matéria da Variety, publicada nesta quarta-feira, 2, assinada por Jennifer Scheurle, avaliou o potencial de interatividade do filme e da Netflix e cogitou a possibilidade de a plataforma expandir sua oferta de conteúdo interativo. “Eu, pelo menos, gostaria de ver a Netflix estabelecer interatividade como parte de sua estratégia, permitindo que desenvolvedores de jogos e cineastas colaborem em arte significativa para as massas – sejam eles jogadores estabelecidos ou novas pessoas que experimentem nosso meio”, escreveu.
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