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Chico Felitti: “Uma história bem contada para de pé”

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Chico Felitti: “Uma história bem contada para de pé”

Jornalista, escritor e podcaster fala sobre seu novo podcast A Coach, em parceria com a Amazon Music, e revela como contar uma boa história neste formato


27 de setembro de 2023 - 6h00

Conhecido por contar histórias intrigantes sobre personalidades da internet, o jornalista e podcaster Chico Felitti estreia mais um podcast nesta quarta-feira, 27, em parceria com a Wondery, estúdio de podcasts da Amazon.

Em nove episódios, o podcast A Coach conta a história de vida da influencer e coach Katiuscia Torres, mais conhecida como Kat Torres, que aguarda julgamento por tráfico humano no presídio de Bangu, no Rio de Janeiro.

Chico Felitti

Novo podcast de Chico Felitti terá episódios antecipados na Amazon Music (Crédito: Divulgação)

Felitti explica que os nove episódios levam o nome das nove profissões e “vidas” que Kat teve até chegar a ser presa. “De fato, ela teve nove profissões completamente desconectas uma da outra e nove recomeços”, salienta, mas reforça: “Não é uma série sobre um crime, mas sobre a vida dessa pessoa muito engenhosa, chamada Kat Torres”.

Os dois primeiros episódios do podcast já estão disponíveis em todos os agregadores de podcast. Os assinantes da Amazon Music já tem acesso aos episódios 3 e 4 a partir desta quarta-feira, 27, e terão acesso ao restante dos episódios de forma antecipada.

Além de A Coach, nos últimos anos, Felitti ficou conhecido por outras produções em formato de áudio, como Além do Meme, A Mulher da Casa Abandonada, o Ateliê, Gente: pessoas comuns em situações extraordinárias, Muitas Vidas e Isso Está Acontecendo.

Apesar de fazer sucesso com seus podcasts, Chico também escreve. Ele é autor de Ricardo e Vânia: o maquiador, a garota de programa, o silicone e uma história de amor (2019), A Casa: A história da seita de João de Deus (2020), Elke: Mulher Maravilha, a biografia da artista Elke Maravilha (2020) e Rainhas da noite: As travestis que tinham São Paulo a seus pés (2022).

Além de comentar os desafios e diferenças da sua nova produção A Coach para as anteriores, em entrevista ao Meio & Mensagem, Felitti opina a que se deve a recente popularidade dos podcasts e revela como contar uma boa história em formato de áudio.

Meio & Mensagem – Quais foram os maiores desafios desse podcast?
Chico Felitti – A Coach foi um podcast muito trabalhoso de investigar, porque ele é muito pulverizado. Ele acontece em muitos lugares. Ao contrário de outras histórias que acontecem só numa cidade ou num canto, tivemos que viajar muito. Tivemos que ir para o interior de Goiás, para o interior do estado de São Paulo, por exemplo, a cidade de Caieiras, para Brasília, para o interior do Texas, para Los Angeles, para a cidade de Nova York, para o norte do estado de Nova York, e para outros tantos lugares, porque é uma história muito cosmopolita e muito global. É uma história de uma pessoa que viveu no mundo inteiro. Ela viveu na Europa, em diferentes lugares dos Estados Unidos, em Hollywood. Então, precisamos sujar bastante os sapatos para conseguir contar essa história inteira.

M&M – E quais são as diferenças do podcast A Coach para os anteriores?
Felitti – O que tem de único nesse podcast é que ele é muito cheio de cambalhotas. Ele é muito cheio de reviravoltas, não tem um episódio que você não fique surpreso. Sabe quando a boca cai e você fala “isso não pode ter acontecido?” Então, quando falaram que ela fazia parte de um grupo que tomava chá de ayahuasca, com estrela de hollywood, eu falei “caô, vou chegar lá e não vai existir nada”. E daí eu chego lá em uma mansão e me recebe o filho de um dos caras mais poderosos de hollywood e fala: “sim, a Kat, a minha irmãzinha” e começa a cantar em português, sendo que ele é um gringo com sotaque. E começa a cantar uma música do Milton Nascimento. E eu falo “isso não está acontecendo”. E, de fato, existia um grupo que tomava ayahuasca em hollywood e ela se infiltrou nesse grupo e virou uma figura central e exerceu muito poder a partir disso.

M&M – Em sua opinião, por que o formato de podcast ganhou tanta popularidade entre o público brasileiro?
Felitti – O velho é o novo novo. É uma coisa que ouvíamos desde antes do Gil Gomes, Rádio Cidade. Sempre ouvimos rádio, sempre gostamos de histórias contadas por áudio. Só uma nova geração que descobriu e uma nova tecnologia ajudou muito. Com o celular conseguimos ouvir uma história de onde quer que estejamos, na hora que quisermos. Ninguém está inventando a roda, só demos uma nova vida para m jeito de consumidor história que já era muito legal e que já ouvíamos desde criança. Eu lembrei que ouvia um quadro que chamava Que saudade de você, que era só carta de gente que perdeu alguém querido, que liam na Rádio Cidade à tarde. É essa mesma sensação que eu tenho.

M&M – Seus podcasts fizeram muito sucesso e contaram com ampla repercussão. A que atribui esse grande interesse das pessoas? São os casos? A forma como você conta?
Felitti – Eu tendo a gostar de casos que são bem malucos. Quanto mais surpreendente melhor para mim também, porque eu gosto de ser surpreendido enquanto eu estou trabalhando. Então, foi uma grande felicidade nesse podcast sobre a Kat Torres, , cada vez que eu ligava pro Fábio da Wondery, eu falava “você não vai acreditar no que aconteceu. Ela apareceu de verdade no Velozes e Furiosos”. Alguém me disse que ela aparecia e eu fui ver e ela estava no Velozes e Furiosos. Isso transmite essa sensação de surpresa.

M&M – Falando sobre linguagem, agora, o que você acredita que é necessário para contar uma boa história em áudio?
Felitti – Tem que ser claro. Precisamos ser muito claros para conseguir chegar em todo mundo. Precisamos ser concisos, então não se alongar muito, deixar a história o mais comprimida possível, com menos palavras o possível. E também investigar bem. Uma história bem contada para de pé. Uma história que não é muito bem investigada vai deixar dúvidas e a pessoa vai ficar atrás, porque ela vai se apegando na dúvida, ao invés de se apegando na história. Cada dúvida que você deixa para trás, a pessoa vai se apegar naquela dúvida e vai criar um peso e ela não vai continuar na história. Então, é um desafio muito grande, por exemplo, explicar como é que ela [Kat Torres] conseguiu se mudar para os Estados Unidos. Eu tive que ir atrás do advogado e descubro que o advogado que conseguiu para ela um documento, e é o advogado da Melania Trump e daí tudo faz sentido. Você responde às perguntas ao invés de semear perguntas. Mas daí é meu trabalho, só meu, e não de mais ninguém.

M&M – Durante a Rio2C deste ano, foi revelado que um de seus podcasts de sucesso será transformado em série no Prime Video. Pode contar um pouco sobre isso?
Felitti – Não caiu nem de estúdio, nem nada, mas não sei nem se vai ser série ou não. Eu sei que vai ter adaptação, mas é igual com meus livros Ricardo e Vânia, a história do Fofão da Augusta, os direitos também foram negociados, mas é um ouro timing, que eu nem sei o que vai virar. Em nenhum desses dois casos não sei se vai ser filme, série, doc. Como funciona comigo é: eu vendo, a pessoa me paga um dinheiro, e eu falo “confio na sua produtora, nesse diretor ou diretora, vai nessa”, mas daí as pessoas somem por anos. O meu livro, por exemplo, saiu faz seis anos e até agora nada. Espero que um dia saia, eu torço muito, mas não é nada dado ainda, não é nada fato.

M&M – Quais os temas e assuntos que você ainda pensa em transformar em podcasts ou que tem vontade de levar para esse formato?
Felitti – O radar está sempre ligado, tem muita coisa. Eu amo internet, eu cresci com internet, fiz um podcast que era só sobre histórias da internet, mas eu amo essas grandes figuras que aparecem na internet. Então, eu amo o João VS, o falso filho do sheik. Fui atrás, fui entrevistar a família dele um dia que eu estava no Rio. Mas é muito raro encontrar uma história que tenha pano para manga igual essa. A história da Kat Torres, realmente, precisava de nove episódios para ser contata, porque tem nove episódios de história, se ficasse um a menos, não parava de pé, ia ficar faltando. Enquanto isso, muita coisa que aparece na internet, que ficamos obcecados no Twitter [agora X] e tal, às vezes, você resolve com dois tweets, não tem mais o que. Essa história, por exemplo, do João VS, fui atrás e, por enquanto, ainda não rende uma coisa grande. Quem sabe se ele tiver uma carreira promissora e se renovar, eu faço votos.

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