Bárbara Sacchitiello
19 de março de 2024 - 7h47
Douglas Tavolaro, líder da operação da CNBC Brasil (Crédito: Divulgação)
“Uma pergunta que, para mim, sempre ficava sem resposta, era como o Brasil, em 2024, não possuía, ainda, um canal de jornalismo de negócios”. Foi a partir desse questionamento de Douglas Tavolaro que nasceu a ideia da versão brasileira da CNBC, novo projeto de mídia anunciado há alguns dias.
Estruturar uma versão nacional de uma marca jornalística norte-americana é algo que Tavolaro já tem certa experiência. Foi ele o idealizador e líder do projeto da CNN Brasil, lançado no mercado em 2020.
No canal de notícias, contudo, ele permaneceu por apenas um ano. Após vender sua participação a Rubens Menin, proprietário da construtora MRV e sócio no projeto da CNN, o jornalista foi morar nos Estados Unidos para estudar a mídia internacional e avaliar qual modelo de negócios seria aplicável no Brasil.
E foi nesse momento que ele conta ter visto na CNBC – e também em concorrentes como Fox Business e Bloomberg
– que o jornalismo de negócios poderia ser um filão a ser explorado.
“Nos Estados Unidos, por exemplo, a CNBC transmite abertura e fechamento da Bolsa de Valores como se fosse a final do futebol americano. Eles fazem também, por exemplo, a cobertura da vida e carreira do Tom Brady (ex-jogador da NFL) como se ele fosse uma marca, porque, na realidade, ele é assim. Como como Ivete Sangalo e Anitta, por exemplo, são empresas aqui no Brasil”, exemplifica Tavolaro.
Em entrevista ao Meio & Mensagem, o jornalista detalhou o projeto do novo canal, que deve estrear na mídia brasileira ainda neste ano. Veja:
Meio & Mensagem: Qual é o cronograma de lançamento da versão brasileira da CNBC? Em que fase está o projeto?
Douglas Tavolaro: A data de lançamento será definida nos próximos meses, mas acontecerá ainda este ano. Demos início à montagem da infraestrutura, definição de sedes, sendo a principal delas em São Paulo, a capital econômica do país. Começamos também a definição de identidade de marca e conteúdo, e também, já escolhemos alguns nomes do time de lideranças (na semana passada, o canal comunicou as contratações de Gilberto Corazza como VP comercial e de Rafael Gomide como COO). Demos início à formação do elenco dos apresentadores, cujos nomes começam a ser divulgados nas próximas semanas. Será um time que mistura ancoras já conhecidos do grande público, porque isso é bem importante, com novos talentos e especialistas do mercado.
M&M: Como surgiu a ideia de trazer ao Brasil uma versão do canal CNBC?
Tavolaro: Vendi minha participação na CNN Brasil em março de 202 e fui morar nos Estados Unidos. Na época, tinham cláusulas contratuais que me impediam de trabalhar em empresas de mídia. Fui para lá para estudar o mercado de comunicação e conversar com executivos de empresas de mídia para entender qual seria uma oportunidade boa ao Brasil. Foi um período de renovação profissional. Respeitei esse período de non compete do contrato e, depois do vencimento, começamos a estudar o projeto com a CNBC, no final do ano passado.
M&M: E por que a CNBC foi a sua escolha?
Tavolaro: Ao estudar o mercado internacional, uma pergunta que, para mim, sempre ficava sem resposta, era como o Brasil, em 2024, sendo uma das dez maiores economias do mundo, uma potência em novos negócios e de empreendedorismo, não possuía, ainda, um canal de jornalismo de negócios. Nos Estados Unidos há canais que seguem um modelo de regionalismo regional e há, também, canais de jornalismo de negócios que existem há décadas e com espaço consolidado entre audiência e anunciantes. E o maior deles, globalmente, é a CNBC, mas também existe a Fox Business e a Bloomberg. O Brasil tem cinco grandes canais de notícias, mas nenhuma marca internacional de jornalismo de negócios, para trazer um novo modelo de informação ao público e que possa sair um pouco da cobertura política, que as vezes se torna cansativa. A ideia é que a CNBC ocupe um espaço que já existe lá fora, mas que ainda não existe e não é explorado no Brasil.
M&M: E quais são as diferenças entre esse tipo de jornalismo e o que já é praticado pelos canais de notícias existentes no Brasil?
Tavolaro: Esse é um modelo de jornalismo com duas frentes de inovação. A primeira é a cobertura do hard news, que, obviamente sempre terá uma visão de negócios, mas não será segmentada. Ela consegue falar de negócios, finanças e também de economia de forma atraente para quem está assistindo. Nos Estados Unidos, a CNBC transmite abertura e fechamento da Bolsa de Valores como se fosse a final do futebol americano. Eles fazem também, por exemplo, a cobertura da vida e carreira do Tom Brady (ex-jogador da NFL) como se ele fosse uma marca, porque, na realidade, ele é. Como como Ivete Sangalo e Anitta, por exemplo, são empresas aqui no Brasil, já que movimentam milhões em negócios. Queremos aplicar esse tipo de jornalismo, com a experiencia que temos com o público brasileiro. E a segunda forma de inovação é em relação à grade de programação, que não é restrita ao jornalismo diário. Queremos colocar no ar atrações de entretenimento, lifestyle, reality shows e até mesmo atrações esportivas, sempre inspiradas em negócios. A programação de um canal de negócios não se limita às notícias. Ela também pode entreter, de forma atraente ao público. Queremos levar informações para contribuir com conhecimento da população e criar, para as marcas, espaços de associação e de conexão com esse público interessado nesses temas. Hoje, os canais de notícias acabam sendo vistos como vinculados a esse ou aquele lado ideológico, com uma cobertura política às vezes aguerrida. Queremos propor um novo território de informação para as marcas estarem presentes.
M&M: Esse projeto da CNBC no Brasil contou com apoio de um grupo internacional. Qual é o papel deles no negócio?
Tavolaro: A Attention Economics é uma empresa com especialização em investimentos em mídia, que estruturaram esse novo negócio conosco. Eles já atuaram em licenciamentos como esse em mais de 12 operações no mundo. Foram responsáveis pela implementação de versões da CNN em vários mercados. A razão de termos procurado, como parceiros, uma empresa de fora do Brasil, pela experiência internacional deles em estruturar negócios em mídia e por compreenderem a importância de construir negócios jornalísticos independentes.
M&M: De que forma você acha possível atrair o interesse do público brasileiro para um novo canal jornalístico nesse momento?
Tavolaro: O segredo está no conteúdo e, para isso, é preciso ter um modelo de jornalismo atraente, com oportunidades às marcas. Por isso que assinamos um contrato com a CNBC, líder global em jornalismo de negócio. Pelo contrato, temos direito ao uso exclusivo do conteúdo que a CNBC produzir em todo o mundo. É o primeiro acordo de conteúdo firmado por eles no Brasil. Eles têm, diariamente, mais de 15 horas de programação ao vivo e tem operações, além dos Estados Unidos, na Europa, Ásia, Oriente Médio, para acompanhar os principais mercados internacionais. Todo esse conteúdo estará disponível em nossa emissora, somado ao jornalismo que faremos no Brasil. Acredito que tudo isso, associado à inovação da grade, com a mistura de programas de entretenimento e esportivos, irá gerar um conteúdo que tende a despertar o interesse do público e das marcas.
M&M: A sua saída da CNN Brasil após somente um ano de existência do veículo causou surpresa no mercado. O que motivou sua saída?
Tavolaro: Sou muito grato a família Menin e ao Rubens (Menin, sócio e CEO da MRV e sócio majoritário da CNN Brasil) por toda a parceria que tivemos. Conseguimos, em pouco tempo, construir uma empresa de mídia relevante, um importante veículo de informação do Brasil e um projeto consolidado na mídia. E, uma das coisas que considero fundamentais para que o projeto da CNBC tenha sido viabilizado é o reconhecimento internacional ao êxito do lançamento da CNN Brasil. Fiquei um ano como presidente e sócio da CNN Brasil e, nesse período, nós ganhamos todos os prêmios de mídia e publicidade, incluindo o Prêmio Caboré. Isso ajudou a dar segurança de que um novo projeto pode ter um caminho de reconhecimento. Mas, mais importante do que os negócios darem certo, é que a nova emissora se consolide como uma fonte de informação ao público, trazendo a inovação do jornalismo de negócios, que é algo que faz parte da vida das pessoas, está no dia a dia.
M&M: Estruturar uma operação de mídia no mercado brasileiro não é uma tarefa simples. Como você vê o desafio de, novamente, estruturar um negócio de mídia e de jornalismo no Brasil, com uma marca nova?
Tavolaro: Acredito na força da inovação. Hoje, os canais de jornalismo que existem na televisão acabam sendo muito parecidos, com erros e acertos de todos os lados. E o que nossa nova emissora, a CNBC, está propondo, é abrir um espaço novo, para oferecer um campo inexplorado tanto para o público como aos anunciantes, que é o jornalismo de negócios. E isso, mais uma vez, está espelhado nas marcas que já existem nos Estados Unidos e na Europa, com canais com audiência consolidada. Essa inovação, associada à marca internacional da NBCUniversal e nossa experiencia de fazer jornalismo no Brasil me dá a segurança de que existe um espaço novo a ser explorado. Essa convicção que me fez acreditar no projeto e que fez o grupo internacional (Attention Economics) acreditar também.