Como é produzir uma série para a Amazon?
O engenheiro brasileiro Jo Rauen deixou o campo de obras para trabalhar com audiovisual nos Estados Unidos e, neste ano, emplacou a série Media Wars no Amazon Prime
O engenheiro brasileiro Jo Rauen deixou o campo de obras para trabalhar com audiovisual nos Estados Unidos e, neste ano, emplacou a série Media Wars no Amazon Prime
Karina Balan Julio
27 de março de 2018 - 7h00
A primeira vista, produzir séries e filmes para plataformas de streaming como Netflix e Amazon Prime pode parecer exclusividade de grandes produtoras e altos orçamentos. Produtoras de pequeno e médio porte, no entanto, têm se mobilizado para estruturar parcerias e cavar oportunidades de exibir seu conteúdo nestas janelas. Uma delas é a Island Bridge Productions, fundada pelo engenheiro brasileiro Jo Rauen, que recentemente conseguiu emplacar uma série no serviço Amazon Prime.
Jo Rauen é de Florianópolis e deixou o trabalho como gerente de projetos e obras no Brasil para se aprofundar no mercado audiovisual. Depois de conversar com amigos que trabalhavam com mídia e entretenimento, foi estudar cinema em Nova York, onde fundou a produtora em 2015.
A série Media Wars, projeto vendido para a Amazon e coproduzido junto à produtora Brooklyn Studios, é uma comédia sobre o mundo contemporâneo na era das fake news. O episódio piloto já está disponível e os próximos devem ser disponibilizados até julho. Meio & Mensagem conversou com Jo Rauen para entender como foi o processo de propor – e emplacar – uma série para a plataforma. O produtor também falou sobre as diferenças entre o mercado audiovisual brasileiro e americano.
Meio & Mensaem – Qual é o seu background profissional e como foi o processo de fundação da Island Bridge Productions?
Jo Rauen – Minha formação é de engenheiro civil. Atuei nesta área por anos como gerente de projetos e obras. Isso me deu uma boa base de gerenciamento de recursos e logística, o que para um produtor é essencial. E como sócio da empresa aprendi muito sobre contratos e negócios. Enfim, em 2013 a sociedade terminou e resolvi tirar seis meses pra não fazer nada. Foi nesse sabático que comecei a me envolver diretamente com mídia, conversando bastante com amigos que atuavam nesta área. Tomei gosto pela coisa, comecei a me matricular em diversos cursos e a trabalhar em produções de colegas que ia conhecendo nesses cursos. Já fui aproveitando pra montar uma rede de contatos e ir ganhando experiência de campo. Vendo como o mercado brasileiro funcionava, fiquei um pouco desanimado com o sistema, e acabei vindo pra Nova York pra fazer um curso e entender melhor o mercado americano. Acabou que algumas oportunidades se abriram por aqui, e pra explorar estas oportunidades mais profissionalmente acabei abrindo uma nova empresa, dessa vez, uma produtora. Todo este processo aconteceu em pouco mais de dois anos.
M&M – Como se deu o processo de aproximação com a Amazon Prime para a produção de Media Wars? O quão acessíveis são as plataformas de conteúdo como Netflix e Amazon às pequenas e novas produtoras?
Jo – Nossa parceira e co-produtora, o Brooklyn Studios, é muito bem posicionada no mercado americano. A nossa negociação com Amazon foi realizada através deles. Essas empresas já tinham alguns projetos em parceria e um bom relacionamento entre si. Quando o Brooklyn Studios entrou no nosso projeto muitas portas se abriram. Plataformas como a Netflix e Amazon ainda não são tão acessíveis para pequenas e novas produtoras. Se nós não tivéssemos o Brooklyn Studios do nosso lado certamente nem teríamos iniciado a conversa para fechar contrato com o Prime. Entretanto, a Amazon tem o sistema de venda direta fora do serviço Prime. Você consegue colocar seu filme ali, acessível para o seu público, e compra quem quer. Só isso já é uma tremenda plataforma. No Brasil, devido às cotas da Lei do Audiovisual, a TV e o cinema continuam sendo mais acessíveis para as pequenas produtoras.
M&M – Na sua opinião, quais são as principais tendências de financiamento e produção audiovisual, levando em conta formatos e canais de distribuição emergentes?
Jo – Todos os grandes canais estão criando os seus serviços de streaming. Para atender esta demanda de conteúdo o mercado vai ter que se abrir, dar oportunidades para novos talentos. Para alguns sortudos, estes gigantes irão financiar algumas produções, e para o resto, a solução está em captar recursos no mercado privado. As leis de incentivo não continuarão para sempre, o mercado vai ter que maturar, aprender a captar e principalmente, a lucrar.
M&M – No Brasil, temos observado o aumento das coproduções e produtoras com modelos de organização cada vez mais enxutos. Em termos operacionais, como você acredita que será a produtora do futuro?
Jo – A produtora do futuro é competitiva, está de olho no público e sabe se relacionar com o mercado investidor. Uma estrutura enxuta dá velocidade, então modelos menores produzem mais rápido e mais barato, o que anima os compradores. Outra questão é que tem muita gente que produz projetos pelos quais está apaixonado, quando na verdade, o nosso trabalho é fazer o público se apaixonar. Se você capturar esse interesse, vai fazer sucesso, vai ter retorno, vai pagar seus investidores, que terão lucro, e, felizes, apoiarão seus próximos projetos.
M&M – Quais gêneros e tipos de produção você está mais interessado em fazer?
Jo – Gostaria de explorar todos os gêneros, inclusive misturando gêneros quando possível. Media Wars por exemplo explora esse momento que vivemos hoje: a polarização política, as “fake news”, os extremismos nas posições . A situação está tão crítica que ficou ridícula, e nosso show acaba explorando o gênero de comédia. Quero explorar o mercado internacional, não apenas o brasileiro e americano. Nosso próximo lançamento é um longa-metragem, um horror com atores britânicos e filmado em Portugal. Atualmente está em pós-produção, com previsão de estreia no primeiro semestre de 2018, no circuito Europeu. No Brasil temos alguns projetos em desenvolvimento com alguns parceiros muito bem posicionados, que espero poder dar início ainda este ano.
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