Despreparo na gestão de dados é destaque entre os riscos digitais
Inteligência artificial e uso político de mídias sociais são outros temas urgentes, diz estudo Bites/ESPM
Despreparo na gestão de dados é destaque entre os riscos digitais
BuscarDespreparo na gestão de dados é destaque entre os riscos digitais
BuscarInteligência artificial e uso político de mídias sociais são outros temas urgentes, diz estudo Bites/ESPM
Taís Farias
21 de fevereiro de 2019 - 13h14
A empresa de análise de dados Bites apresentou nesta quarta-feira,20, seu estudo de Riscos Digitais 2019. O evento aconteceu em parceria com o laboratório Risk Analysis and International Affairs (Raia), vinculado ao curso de Relações Internacionais da universidade ESPM-SP. Com o objetivo de analisar o ambiente digital e prever as principais ameaças e tendências para o ano, a Bites utilizou 37 softwares e tabulou mais 200 mil dados livres em redes sociais, padrões de busca no Google, teses acadêmicas, artigos, reportagens, discursos do congresso nacional e medidas provisórias. Além de bases de instituições como Serasa, Banco Central, IBGE, Banco Mundial e ONU.
O cruzamento dessas informações gera padrões para os algoritmos que podem apontar o crescimento de determinadas discussões. Segundo o diretor executivo da Bites, Kaíke Nanne, é dessa forma que a pesquisa identifica os tópicos que podem impactar a sociedade a longo prazo. Para a terceira edição do relatório, a companhia promoveu um evento voltado para representantes de empresas, formadores de opinião e alunos da universidade. Veja a seguir alguns dos principais destaques do estudo.
O limbo da proteção de dados
A proteção de dados foi um dos temas pautados pela pesquisa. Com pouco mais de um ano para entrar em vigor, a lei que regula a posse e uso de dados no Brasil segue sem uma autoridade nacional. Sancionada em agosto de 2018 pelo então presidente Michel Temer, a LGPD esbarrou em um impedimento jurídico: ela determina a criação deste órgão central, mas essa instituição foi vetada pelo executivo, única autoridade que pode criar órgãos que gerem despesas ao orçamento.
Enquanto a instância ainda está em desenvolvimento, a regulamentação segue sem efetividade no País. Para o gerente de informações sociais, André Eler, esse cenário compromete a adaptação das empresas que têm pouco tempo para adotar as mudanças. Ele chama atenção para as possibilidades de barganha e até mesmo os limites do acesso desses dados pelo poder executivo, já que o órgão será responsável pelo poder regulador. “Precisamos nos questionar o quanto os governos terão acesso a esses dados”, disse André.
Na União Europeia, a GDPR está prestes a completar um ano de implementação e já multou gigantes como o Google. André questionou se as companhias nacionais serão capazes de atender a demanda da legislação. “Na prática ainda falta estrutura dentro das empresas e segurança para evitar as penalizações”. O setor chega a temer um estanque nas inovações com medo das possíveis punições.A tentação da inteligência artificial
Para a strategic planning manager da Bites, Ana Luiza Tetzlaff, a era datacêntrica está mais próxima do que se pode imaginar. O desenvolvimento veloz da área no Brasil pode ser barrado, no entanto, por questões estruturais e de fator humano. Para a pesquisadora, as variáveis econômicas são uma barreira ao investimento em AI e a revolução digital no País. Entre os problemas, está o fato de poucas empresas conseguirem produzir ou ter acesso a base de dados seguras e desenvolver algoritmos eficientes, um processo que demanda mão de obra qualificada e altas aplicações. Além disso, a amostragem realizada pelos bancos de dados segue deficiente, visto que, ignora grupos que não têm acesso à tecnologia por fatores financeiros ou culturais. “A virada digital é muito discrepante. Os líderes em inovação tendem a se manter no topo”, explicou Ana Luiza durante a apresentação.
Facebookização do Instagram
Queridinho das marcas, o Instagram foi alvo das análises do diretor de branding do Bites, João Paulo Silvares. Segundo o especialista, a rede social de compartilhamento de fotos ficará cada vez mais parecida com o Facebook em 2019. Entre os fatores dessa mudança está o grande crescimento da plataforma nos últimos anos. Em junho de 2018, a rede social bateu 1 bilhão de usuários ativos. Parte desse crescimento pode ser atribuído aos investimentos na plataforma que, após a compra pelo Facebook, passou a incorporar características do Snapchat e do YouTube.
Para João Paulo, essa expansão levanta questões típicas de outras mídias, como a polarização política, para o ambiente do Instagram. Além disso, o consumo massivo do público acarreta uma saturação publicitária, que investe cada vez mais no Instagram. Essa logística é nociva para o marketing de nicho, que tem utilizado o caráter mais leve, estético e até escapista da plataforma para se relacionar com o público direcionado.
De acordo com o diretor de branding, as marcas também terão que se preocupar com a imagem da plataforma. João Paulo apresentou um estudo da Royal Society for Public Health do Reino Unido, que colocou o Instagram como a pior rede social para a saúde mental dos jovens. Segundo ele, a rede impulsiona distúrbios como Fomo, ansiedade e depressão. Esse fator pode ser prejudicial para as marcas que não captarem o espírito do momento e alinharem seu conteúdo às necessidades do público.
Governo via Twitter
O uso intenso do Twitter por autoridades públicas foi destacado na pesquisa. Para André Eler, a rede tem conquistado um poder não previsto com a atuação de agentes políticos na plataforma. No governo Bolsonaro, 15 dos 22 ministros foram anunciados diretamente na rede e só depois distribuídos no Diário Oficial. Esse movimento alterou o modo de se fazer comunicação institucional e está se espalhando por outras frentes do governo.
Durante a votação para o presidente do Senado, o senador Kajuru Goiás (PSB-GO) promoveu uma enquete em seu Facebook para que os seguidores pudessem escolher seu voto. Embora esse tipo de medida aumente a interação direta entre as instituições políticas e as pessoas, André chama a atenção para o potencial que essas mídias contém de potencializar crises. Para ele, as mudanças na comunicação podem gerar instabilidade nos órgãos nacionais que ficam expostos a uma pressão da opinião pública nas mídias que podem não refletir a realidade. “A mídia nem sempre representa a maioria”, afirmou o consultor.
*Crédito da foto no topo: Reprodução
Compartilhe
Veja também
Governo dos EUA oficializa pedido de divisão entre Google e Chrome
Após ter expressado sua intenção um dia antes, Governo dos Estados Unidos oficializa pedido de separação do Google, por meio da venda de seu navegador Chrome
WhatsApp lança solução para transcrição de áudios
Em fase de lançamento global, recurso está disponível em inglês, português, espanhol e russo