Marcos Mion: relevância tem que ser tão valiosa quanto a influência
Apresentador divide as mudanças que vive em sua carreira na relação com marcas e opinou sobre a criação de conteúdo jovem.
Marcos Mion: relevância tem que ser tão valiosa quanto a influência
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Thaís Monteiro
14 de dezembro de 2022 - 6h00
Há um ano e três meses, Marcos Mion iniciava uma nova trajetória na TV Globo como apresentador do Caldeirão. O posto era temporário, tendo em vista que a intenção da emissora era substituir o programa por outro projeto. O sucesso comercial e de crítica fez com que a atração fosse renovada, se tornando fixa novamente na grade e que a participação de Mion na Globo crescesse.
Desde então, Marcos Mion apresentou o reality Tunel do Amor, no Globoplay, o Lollapalooza e Rock in Rio, com Multishow e Bis, o Criança Esperança, o Prêmio Miltishow e a premiação Profissionais do Ano. Enquanto isso, ele segue como criador de conteúdo digital e autor de livros.
A ocupação de novos postos no ecossistema Globo também fez com que ele e sua equipe decidissem criar quatro cotas principais para sua figura se relacionar com marcas. Atualmente, essas cotas estão ocupadas por TIM, Itaú, Mercado Livre e Chevrolet.
Com as marcas parceiras, Mion vive um momento de maior sinergia e liberdade de co-criação. A colaboração também se faz presente com o departamento comercial da Globo, como o qual dialoga para tentar manter os anunciantes que demonstram interesse nele também parte do Caldeirão, e vice-versa.
“Trabalhamos junto pra não dar nenhum tipo de problema para as marcas que estão comigo e que estão no programa. Quando eu estou pra fechar um contrato, eu entro automaticamente em contato com a Globo para fecharmos juntos. Então conseguimos fazer um trabalho 360º. O casamento do do departamento comercial”, diz.
Ao Meio & Mensagem, Mion dividiu as mudanças que vive em sua carreira na relação com marcas e opinou sobre a criação de conteúdo jovem.
Meio & Mensagem – Nesse último ano, você firmou parceria com diversas marcas. Na sua perspectiva, esse sucesso está vinculado com a ida para a Globo? Desde então, houve mudanças na sua forma de se relacionar com marcas?
Marcos Mion – O que mudou muito foi a independência criativa para criar para essas marcas. Tenho um time time grande, uma equipe interna de desenvolvimento e criamos junto com as marcas. Ter esse respeito e essa confiança é uma coisa que já vem há algum tempo, mas não tínhamos esses contratos longos para poder falar “ó, confia”. Quando a gente entrou no final de semana da Globo, decretamos que eu ia ter quatro cotas masters, porque temos que nos preservar e fazer um trabalho bem feito. Infelizmente eu tive que falar muitos nãos. Ações pontuais funcionam e são ótimas. Elas conseguem pegar vários nichos diferentes. Um contrato longo, realmente longo, no qual você fala pelo institucional e demais categorias de uma empresa é demais.
M&M – Como você exercita sua criatividade?
Mion – Eu já me dediquei muito mais, porque quando você improvisa você tem que ter um acervo de gavetas gigante com referências. Você tem que ter uma cultura base de praticamente qualquer assunto. Minha profissão exige que eu seja muito curioso, mesmo porque se brota um tema eu tenho que ter a condição básica de transitar nesse tema. O exercício é se informar. Minha equipe manda coisas relevantes. Outro segredo é você se cercar de pessoas que te incentivem e falem não quando acharem que não é esse caminho. Um dos problemas dessa nova geração é que eles são donos da própria criação. Você não passa por nenhum crivo antes de postar e tende a fazer um conteúdo de qualidade inferior. É um exercício de criatividade e resiliência fazer aprovar. É diferente de fazer um vídeo para minha bolha. É necessário ter várias camadas de “não”s para exercitar a criatividade. É diferente de ter alguém que só aplaude. Quando estamos fazendo conteúdo para a massa você tem que ter muita responsabilidade e noção do que você está fazendo.
M&M – Você fez parte da MTV Brasil, que representou uma nova forma de comunicação pelos jovens e para os jovens. De que forma vê o processo de criação de conteúdo pelas novas gerações?
Mion – Não vou conseguir me omitir. A rasura, falta de profundidade, a falta de motivação, a falta de responsabilidade está reinando porque, de certa forma, as pessoas entenderam que basta você chamar atenção, basta você querer ser influente antes de ser relevante. A televisão tem uma certa culpa em relação a isso, porque no momento que a gente botou o show da realidade na tela e isso virou um uma paixão. A pessoa que está sendo observada começou a entender que se ela só estivesse sentada no sofá e levantasse de vez em quando para fazer alguma prova tornaria ela uma pessoa desejada, com o olhar dos outros, relevante e que os outros querem ouvir. Isso aconteceu na TV, mas eu acho que influenciou o comportamento das pessoas que estavam assistindo no momento em que o poder da criação saiu da mão da emissora e se democratizou na mão de qualquer um através do celular e da rede social. Isso deu uma nivelada muito por baixo no quesito criatividade. É uma época muito perigosa, porque essa próxima geração está bem sedimentada no entendimento de que uma dancinha ou um vídeo de segundos já é o que vai colocar ela num patamar de ter contrato publicitário. Eu rezo para que tenha um movimento de buscar o conteúdo que aprofunda. Se a pessoa não lê os clássicos, não sabe a história ela não vai emocionar as pessoas, retratar as gerações, deixar material para ser estudado e vivido. Você tem que se dedicar a fazer conteúdo vertical porque a humanidade está emburrecendo com uma barra muito baixa e eu não sei o que vai te dar outra geração. Novos criadores não tem que se deixar seduzir pelo like. Não tente deixar seduzir pelo número de visualizações. As pessoas têm que entender que ela pode dançar, mas depois abre o espaço da sua rede pra uma causa, para uma minoria que precisa de um megafone para falar. Quebra a expectativa dos seus seguidores que estão esperando a próxima dancinha e manda um texto falando sobre o que você sofre. Chega nas pessoas com empatia.
M&M – Você é muito conectado com redes sociais e tendências no geral. Agora temos visto surgir novas formas de monetização e relacionamento baseados na Web 3.0, como NFTs e metaverso. Você vê possibilidades para a TV dentro desse universo? Qual é a sua opinião sobre essas inovações?
Mion – Tenho uma certa resistência a novidades muito cabulosas como essas. Quando todo mundo saiu correndo para se envolver com o metaverso, me ligaram no escritório querendo fazer minha versão e falei não. Por eu ser pai, eu tenho um de responsabilidade na vida real aqui fora muito grande e eu meu filho menor, o Stefano, ele é muito do videogame. Ele tem um desses óculos da realidade virtual. Se eu não tiro ele, esse moleque passa quinze horas seguidas. Então eu tenho muita consciência e muita preocupação em deixar em todo esse universo de metaverso e imersão bem distante da minha casa. Se algum dia isso for alguma coisa que vá realmente mudar a nossa vida, aí eu vou… Quer saber, provavelmente eu vou ser da resistência cara. Eu não consigo apoiar, não faz parte da minha consciência isso, não faz parte do meu gosto. Eu não vou conseguir apoiar, falar “acho que vai ser legal todo mundo virar um casulo e ficar vivendo num outro mundo”. E você vai na academia do metaverso? Meu, pra mim a coisa mais burra que pode existir é alguém ir na academia do metaverso. Eu até entendo pra você se encontrar com alguém que está morando na Europa como vocês estivessem presentes, agora ver a vida? Porra quando quando ele quando eu li que tinha academia no metaverso eu falei “ah, vai tomar”. Nesse sentido eu sou velha guarda, não tenho muito e não acho que a gente deveria evoluir para este caminho.
M&M – As marcas que trabalham contigo acabam adotando seu modo de falar, se comunicando com os seguidores como Itaúzola ou TIMzeira. Como se dá esse processo?
Mion – É uma demonstração de confiança muito grande, mas em nenhum desses casos partiu de nós. Essas ideias já vieram do parceiro. Quando você chega numa posição na qual as marcas te procuram, começam uma conversa e eles têm a vontade de entrar no seu universo e estado de espírito é aí que as coisas funcionam. Quando eu recebo os roteiros eu tenho até que cortar algumas coisas, porque senão essa mudança de linguagem é em tudo. É muito surreal. São coisas que eu fazia quando eu tinha quinze e dezesseis anos de idade. Ver grandes empresas querendo fazer um filme no estilo Piores Clipes do Mundo [programa da MTV Brasil do qual foi apresentador] eu falo: caraca, o piores venceu!
M&M – Você participou da cobertura do Rock in Rio pelo Multishow. Você tem um histórico de programa de televisão musical. Há planos para que você continue a trabalhar com essa e outras verticais do Grupo Globo?
Mion – Sim, eu percebi que eu era não só o cara do Caldeirão como o cara dos festivais e da música quando no upfront desse ano eu fui ver meu texto e eu vi que eu falava sobre caldeirão e festivais. É minha raiz. Todo início da minha vida como comunicador é música e o próprio Caldeirão é hoje é um grande palco de música ao vivo semanal. Fazemos um mini festival por sábado. É um festival megademocrático com todo tipo de gênero musical e eu gosto de ter isso no meu programa. É uma coisa que eu já fazia na MTV, fiz na Record e estou conseguindo fazer na Globo. Ancorar os festivais é muito legal. Eu continuo fazendo Lollapalooza, The Town e Lollapalooza e Rock in Rio 2024. Eu já trabalho para todas as Globos Eu quero muito encaixar um projeto na Globoplay, tenho falado que o Erick Bretas bastante sobre isso. Eu já tenho um produto pronto e lindo que eu queria muito encaixar na Globoplay. Eu estou na aberta, na PayTV e falta o streaming.
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