Futuro do VOD passa pelo conteúdo de nicho
Em disputa com a grande variedade de streamings disponíveis atualmente, plataformas apostam em segmentação
Em disputa com a grande variedade de streamings disponíveis atualmente, plataformas apostam em segmentação
Thaís Monteiro
9 de julho de 2019 - 6h00
Ainda neste semestre, o mercado de streaming aguarda o lançamento de dois players relevantes de audiovisual, a Apple TV+ e Disney +. Com eles, as opções por serviços sob demanda aumentarão, assim como maior será a seleção do público ao escolher sua assinatura de preferência. Esse cenário, pouco favorável para o bolso do consumidor, pode representar uma oportunidade para streamings segmentados que focam em conteúdo de nicho ou em um gênero específico de filmes e séries.
No Brasil, já existem empresas apostando neste tipo de conteúdo. Mais recentemente, em junho, chegou ao mercado o DarkFlix, um serviço sob demanda com um catálogo formado apenas por filmes do gênero fantástico, que incluem horror, ficção científica, fantasia, mistério e suspense. Mais específico do que ele, há a Mubi, plataforma focada em cinema alternativo, indie, experimental, o Oldflix, de clássicos antigos, o Crunchyroll, de animes, mangás e dramas japoneses além do Spcine Play, que oferece conteúdo brasileiro e hoje está hospedado no Looke e outros.
“A tendência da segmentação perpassa diversos segmentos de mercado, inclusive o audiovisual. Ser nichado, hoje em dia em que grandes players estão surgindo ou então se consolidando, é uma aposta mais certeira. Eles podem ter mais sucesso de crescimento em escala sendo segmentados do que genéricos, porque, ao ser genérico, eles entram em disputa com esses grandes e isso é quase impossível atualmente. Apostar em nicho é atender a um fã de um determinado gênero e, para o fã, ele será melhor atendido com uma curadoria focada no seu conteúdo de desejo”, explica Rodrigo Arnaut, professor na Fundação Armando Álvares Penteado e mentor no Empreenda Faap.
Para Wagner Wanderley, CEO do Oldflix, a segmentação vai em busca de uma mudança comportamental: “o usuário já busca no streaming aquilo que lhe agrada. No mundo de hoje, o tempo é muito curto, a busca por conteúdos específicos tem de ser facilitada”, afirma. Para ele, players como Netflix, Amazon Prime e HBO são vistos como aliados, tendo em vista que, eventualmente, o conteúdo original ou no catálogo desses também será considerado retrô.
O catálogo muito específico também pode ser um obstáculo na fidelização da audiência, diz Arnaut. O público pode cansar e alguns gêneros de filmes são produzidos e distribuídos com menos frequência do que outros. “No Brasil produzimos um filme de terror a quatro anos, por exemplo. Essa negociação e entrada de conteúdo novo pode ser ma barreira”, contextualiza.Pensando nisso, a Mubi trabalha com trinta filmes disponíveis, ou “em exibição”, por dia. A cada dia, um novo filme entra e outro que já estava no catálogo sai. A curadoria, segundo Juliana Barbieri, gerente de marketing da Mubi, é manual e a empresa não aposta em algoritmos. Essa diferenciação é ambos positiva e negativa: “Cada vez mais buscamos novos diretores e obras que jamais chegariam a uma audiência. Isso é importante para o público, mas o desafio é de se sobressair diariamente”, conta. Para os próximos anos, a Mubi quer crescer em escala, receber cada vez mais o público que não tem acesso a essa esse tipo conteúdo alternativo que está fora da linha de filmes “blockbuster” e expandir sua atuação na Ásia e na América Latina.
Para o Oldflix, um dos maiores desafios aflige também grandes players: a pirataria. O estudo Global Internet Phenomena Report, realizado pela Sandvine e divulgado no último trimestre de 2018, mostra que a busca por conteúdo ilegal voltou a crescer no último ano, o que alguns executivos relacionam com o grande número de streamings surgindo. “Encontramos um vasto conteúdo grátis ilegal, principalmente no maior concorrente das plataformas o YouTube”, constata Wanderley. O VOD também quer crescer em público, principalmente entre os mais velhos, acima de 40 anos, que é um dos targets da marca. Atualmente, 78% dos assinantes da plataforma são jovens. Outro investimento da empresa é o desenvolvimento de aplicativos em diversas telas e atingir a quantia de 5 mil títulos disponíveis em seu catálogo.Oportunidade não abraçada
Nem Mubi ou Oldflix têm mídia para anúncios em suas interfaces. Para o CEO da Oldflix, esse campo ainda não é explorado por uma questão de investimentos. Ele espera o serviço estar mais consolidado. Já para Mubi, a publicidade está fora de questão. “O foco é a curadoria e qualquer receita que tenhamos tem que vir da curadoria e do valor que entregamos com títulos especiais e artistas talentosos que apresentamos na plataforma que buscamos por todo o mundo”, explica Barbieri.
Ainda assim, a verba com receita publicitária, para o professor da Faap, é uma frente considerada assertiva pois uma marca disposta a conversar com um determinado público que está representado no espectro de audiência de um streaming segmentado pode se engajar mais e converter mais em vendas do que o público geral. “Se eu sou a Nestlé, por exemplo, e existe um VOD de receitas, é mais seguro eu apostar no de receitas do que a Netflix”, argumenta.
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