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Histórias consagradas ganham nova vida em onda de live-actions

Rei Leão se une a Turma da Mônica, Aladdin e Barbie na releitura de clássicos: menos riscos com garantia de público e licenciamentos


17 de julho de 2019 - 6h51

Nesta quinta-feira, 18, estreia nos cinemas o live-action de O Rei Leão, versão da animação lançada primeiramente pela Walt Disney Company em 1994. O filme original arrecadou US$ 968 milhões, se tornando o longa-metragem de maior bilheteria naquele ano. Em cartaz na China desde a sexta-feira, 12, a nova produção ultrapassou Toy Story 4 em vendas e já acumula US$ 54 milhões. A expectativa é que a bilheteria global chegue a US$ 450 milhões até domingo, 21.

Confiando nesse sucesso e na evolução tecnológica, a Disney vem investindo intensamente em live-actions. Somente neste ano, são quatro: Dumbo, Aladdin, O Rei Leão e Malévola 2. Para 2020, a empresa já anunciou o remake de Mulan e especula-se que A Pequena Sereia também estreie em 2021.

 

O Rei Leão é o terceiro live-action lançado pela Disney este ano (Crédito: Divulgação/Walt Disney Studios)

A ideia de apostar na releitura de antigos clássicos da animação com atores reais se espalha para além da Disney. A Mauricio de Sousa Produções está exibindo o filme Laços, uma live-action da Turma da Mônica. Em agosto deste ano, a Paramount Pictures coloca em cartaz Dora e a Cidade Perdida, live-action do desenho Dora, a Aventureira. A Mattel e Warner Bros. anunciaram a produção de um filme da boneca Barbie, provavelmente com Margot Robbie como protagonista. “Essa prática de recontar histórias é muito comum e vem da literatura, com várias versões das mesmas histórias. Isso também acontece no cinema e na televisão”, diz Lyara Oliveira, professora na Faap e integrante do LabArteMídia, Laboratório de Arte, Mídia e Tecnologias Digitais da USP.

Também significa uma garantia a mais de retorno econômico. Lyara aponta que os grandes estúdios vivem uma crise de seus modelos de funcionamento e negócios e estão em uma busca “desenfreada” por manter uma estrutura de negócio que já não funciona tão bem como antigamente. “Apostar em algo inteiramente novo é também um risco, mas esse risco é minimizado quando se aposta em adaptações de histórias já conhecidas ou mesmo sequências e refilmagens. Então, no fim das contas, tal situação é muito mais uma conjuntura econômica do que propriamente ausência de criatividade”, afirma Francisco Russo, crítico e coordenador de redação do AdoroCinema.

Para José Carvalho, roteirista e sócio da Roteiraria, a grande quantidade dessas produções também é resultado de um processo histórico: uma fusão da linha de montagem da indústria cultural com seu papel de ser vanguarda, o que colaborou para uma busca incessante pelo novo. “O que me parece é que essa união de fatores sofreu um esgotamento de possibilidades narrativas e agora há um vácuo que, em parte, está sendo preenchido por uma incerteza que leva produtores e público em direção a um conteúdo que eles já conhecem”, opina.

Ainda sob o aspecto econômico, o estúdio pode aproveitar para relançar produtos licenciados e peças de merchandising. Adriana Cacace, diretora geral da Flix Media, diz que os anunciantes reagem positivamente quando há live-actions em cartaz. Porém, não há um tipo de cliente específico para o formato. Normalmente, são empresas do setor de informática, telecomunicações, entretenimento, educação, alimentos e bebidas. No mercado de cinema há 22 anos, Adriana não vê novidade em refilmagens. “Nasce uma estrela, por exemplo, teve quatro versões, sendo que a segunda foi feita em 1954, ou seja, desde lá é comum que os filmes sejam revisitados”. Ela considera que a prática é uma oportunidade das empresas de entretenimento atraírem um novo público que têm “a garantia de qualidade dos roteiros que já foram anteriormente aprovados”.

Reality-cinema
Para Lyara e Francisco, outra vantagem das produções é exibir os avanços tecnológicos em efeitos especiais que tornaram mais fácil e eficiente transformar objetos inanimados, animais e seres sobrenaturais em personagens mais realistas. A veracidade é o grande atrativo e tem relação com um desejo do consumidor ver mais a vida real. José Carvalho concorda: “Esta é uma tendência natural para onde a narrativa audiovisual migraria. Os teóricos chamam essa figura de veridicção, uma fusão do factual com o ficcional. O mercado une meios virtuais com a vontade do público ver a vida real. Nunca se esteve tão perto de ‘a vida como ela é'”.

No entanto, fãs fiéis às animações também podem não ver o novo produto com bons olhos. “Por ser uma história já conhecida e amada, o filme em questão nasce com boas chances de sucesso junto aos fãs. A desvantagem, ou melhor, o risco é que nem sempre possíveis mudanças são bem aceitas, o que pode gerar um burburinho negativo em torno do filme antes mesmo de seu lançamento”, diz Francisco. Isso começou a se materializar na live-action de Sonic, personagem de videogame da Sega. O público desaprovou a aparência do protagonista ao ser divulgado o primeiro trailer do longa e o estúdio decidiu recriar seu visual. O Rei Leão também recebeu críticas pela falta de expressão no rosto dos personagens.

O live-action traz novo propósito às animações, trazendo maior realismo aos personagens que antes existiam só em 2D e novas versões para uma identidade narrativa já existente. “Trata-se de uma estratégia de negócio que não é nova, nem inédita e não acredito que esteja relacionado a qualquer crise criativa do mercado de audiovisual”, afirma Lyara. “Tem a ver com fato de o mercado audiovisual estar cada vez maior e sempre ávido por boas histórias. É absolutamente normal, enquanto estratégia de negócio, que uma empresa que detenha os direitos de uma história famosa queira aproveitar o sucesso já estabelecido para relançar novas versões, conquistar novas gerações e, ao mesmo tempo, reacender o imaginário do público originalmente já cativo.”

**Crédito da imagem no topo: Divulgação/Disney

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