A união entre quadrinhos adultos e audiovisual
Diálogo crescente entre as duas indústrias abre espaço para produtos nacionais voltados para o público adulto, como o canal Sociedade da Virtude, de Ian SBF, e o filme Tungstênio, de Heitor Dhalia
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Karina Balan Julio
25 de maio de 2018 - 10h00
Foi-se o tempo de imaginar as graphic novels e filmes inspirados em quadrinhos como produtos amenos para uma audiência estritamente jovem. Hoje, o mercado já entende que o público adulto é um dos vetores de uma indústria editorial e audiovisual imensa que vai muito além das franquias de super-herói. Aos poucos, o Brasil começa a dar atenção a produções que dialogam com obras autorais e temas mais maduros, que vão de sexualidade até política.
Um dos exemplos desse momento é Tungstênio, filme que estreia no dia 21 de junho, uma adaptação da graphic novel de Marcello Quintanilha. O filme é dirigido por Heitor Dhalia (diretor de O cheiro do Ralo e Serra Pelada). A relação do diretor com os quadrinhos vem desde a infância, quando Heitor lia quadrinhos da Marvel. Na adolescência, passou a se interessar por quadrinhos autorais, o que mais tarde combinaria a seu interesse por cinema.
Dhalia vê essa aliança como uma tendência natural, já que ambas as linguagens têm um caráter de experimentação. “Quadrinhos e o cinema são duas artes que se desenvolveram durante o século 20, são artes que vêm da indústria de massa pois eram produtos mais reproduzíveis, diferente da arte mais tradicional que era representada pela música e pelos espetáculos”, explica.
Há um desafio em adaptar algo que já tem frames com intenções narrativas e dramáticas muito claras, o que ao mesmo tempo é uma ajuda e uma dificuldade porque acaba criando um parâmetro, diz Dhalia
Ele acredita que há muito espaço para misturar HQs mais populares com entretenimento e crítica, e vê em Tungstênio um demonstrativo do valor dos autores locais. “Essa graphic novel capta de forma muito viva as contradições e tensões do Brasil das periferias, o Brasil não-branco que está na linha de sobrevivência. Estamos vendo a greve dos caminhoneiros, um evento aparentemente aleatório, mas que está gerando o caos, e ao mesmo tempo a polarização política e o racismo estrutural que o Brasil vive. O filme captura tudo isso e traduz o Brasil atual”, avalia. Tungstênio é ambientado na Bahia e narra a história de quatro personagens, um ex-sargento saudosista, um policial, sua esposa e um traficante de drogas.
Outro exemplo de produto audiovisual para o público adulto, porém no digital, é o canal Sociedade da Virtude, idealizado por Ian SBF, sócio e roteirista do Porta dos Fundos e o quadrinista Thobias Daneluz. O canal traz uma releitura de personagens conhecidos do universo de HQs e toca em temas polêmicos em seus vídeos. Um dos personagens mais conhecidos é a Pantera Ruiva, que Ian descreve como uma espécie de “James Bond Trans”.
“Nosso público está na faixa entre 16 e 35 anos, então é mais adulto e entende uma linguagem mais rebuscada. Nunca quisemos fazer um produto family friendly. Trabalhamos com alguns temas mais cabeludos e ácidos. Uma das ideias era fazer uma brincadeira com personagens que as pessoas já conhecem, quase como uma paródia do que já existe, mas com um visual brasileiro e outras personalidades”, conta.
Com um mercado de animação incipiente no YouTube Brasileiro, Ian viu no canal a oportunidade de unir o útil ao agradável. “Sempre procurei fazer o que eu gostaria que alguém estivesse produzindo”, explica. Ativo há cinco meses, o canal já conta com 350 mil inscritos e em breve deve desenvolver minisséries, vídeos em live action e eventualmente até quadrinhos físicos. Os vídeos também estão sendo dublados para espanhol e inglês, e Ian projeta o envolvimento de marcas com breaks patrocinados e ações comerciais no canal.
Adaptação do quadro
“O Brasil é um case de quadrinhos no mundo”
A adaptação de quadrinhos para o audiovisual também exige atenção máxima a detalhes como dublagem, decupagem de cenas e roteiro. O tempo de produção também é bastante diferente em relação a um canal normal no Youtube, no caso de Sociedade da Virtude. Ian explica que uma animação para um único vídeo pode levar até 5 meses para ficar pronta. “Temos que ter um processo de organização muito rigoroso, para a cada semana produzir uma etapa diferente”, diz.
“Há um desafio em adaptar algo que já tem frames com intenções narrativas e dramáticas muito claras, o que ao mesmo tempo é uma ajuda e uma dificuldade porque acaba criando um parâmetro”, afirma Heitor Dhalia. Com apoio do autor da obra e dos roteiristas Marçal Aquino e Fernando Bonassi, ele tentou manter a estrutura e o ritmo da obra original.
Outro desafio para as produtoras é se aproximar dos autores de quadrinhos, que naturalmente já têm um uma ligação forte com o universo imagético. “HQs ainda sofrem algum preconceito, muita gente ainda não as vê como um arte apesar de serem muito sofisticadas”, finaliza o diretor.
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