Influência financeira se aproxima de público baixa renda
Mercado se distancia de conteúdo aspiracional e crise econômica causada pelo novo coronavírus acelera movimentação
Influência financeira se aproxima de público baixa renda
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Salvador Strano
12 de junho de 2020 - 6h00
Com a crise econômica causada pelo novo coronavírus, canais de orientação financeira que tratam de temas como desemprego, redução salarial e organização básica de orçamento familiar passaram a ocupar um espaço cada vez maior nas plataformas digitais.
Esses perfis apresentam um serviço ao seu público. Mas não só. Eles também apostam em um conteúdo da vida real, e não mais na narrativa aspiracional que dominou o segmento por muito tempo, falando de investimentos em bolsa, aquisição de imóveis e reservas de emergência de 12 meses de salário.
A movimentação ampliou, ainda, a força do segmento no relacionamento com as marcas. Um dos maiores expoentes entre os perfis desse segmento é o canal Nath Finanças, comandado por Nathália Rodrigues, que além dos perfis nas redes sociais é também colunista do Voz Da Comunidade e do jornal El País Brasil.
Mas ela não está sozinha. Nos últimos meses, perfis com apelo visual jovem e linguagem atraente ao público geral começaram a ganhar volume no cenário de influência nas redes sociais.
Um deles é o Grana Preta, feito por Amanda Dias, jornalista econômica que conversa com o público negro e de baixa renda sobre empreendedorismo em Salvador, na Bahia. Entretanto, agora, o o conteúdo precisou passar a ajudar o público a passar pelos trâmites burocráticos que dão acesso ao Auxílio Emergencial distribuído pelo Ministério da Cidadania a partir da Caixa Econômica Federal.
“A maioria das pessoas aqui de Salvador empreendem por necessidade”, afirma Dias. Segundo a jornalista, “sem acesso à educação empreendedora, elas empreendem de forma ainda muito desorganizada. Meu propósito é trazer um pouco desses insights para que as pessoas possam escalar seu negócio”.
Para ampliar esse modelo, o perfil tem atuado com a organizações que mantém iniciativas de empreendedorismo. Entre elas, figuram nomes como Fundação Telefônica Vivo, Pense Grande, Movimento Black Money, Desabafo Social, Mascavo Criativo, Afroempreendendo, Wakanda Warriors e Vale do Dendê.
https://www.instagram.com/p/B_qKABOnQjk/
Já o Graninhax, por outro lado, mistura orientação financeira com cultura pop. Um exemplo disso são publicações como “O que os videogames te ensinam sobre finanças” e “O rolê financeiro das divas do pop”.
O perfil foi criado pelo publicitário Michel Kalil, e é agenciado pela Brunch, mesma agência da Nath Finanças.
Segundo Kalil, a pandemia fez com que “todo o cronograma de março para cá fosse completamente alterado. Com a queda de renda e incerteza, as pessoas passaram a olhar muito mais para esses gastos de água, luz e aluguel e o conteúdo de investimentos está cada vez menos receptivo”, finaliza.
Para a Brunch, o investimento em perfis do gênero é estratégico. Só o Graninhax, por exemplo, já realizou parcerias com marcas do próprio segmento, como o Banco Next, por exemplo. Nath e Michel fazem parte de uma squad financeira dentro da agência, que conta também com os perfis Boletinhos, AfroRicas e a NoFront. Todos seguem a linha de economia da vida real, recorrentemente voltados para o público de baixa renda.
Segundo dados da própria agência, de janeiro para cá o time já faturou mais de R$ 1 milhão em contratos de publicidade.
“Há muita gente falando de investimento, mas dificilmente você terá pessoas, como esses cinco perfis, que produzem finanças da vida real”, afirma Ana Paula Passarelli, fundadora e COO da Brunch. “Essas pessoas conseguem manter conversas reais, e com pessoas que estão precisando de orientação financeira”.
Há, entretanto, uma dificuldade na comercialização dos contratos de publicidade por esse setor. E o racismo, que motivou manifestações no mundo inteiro após a morte de George Floyd, é um dos maiores.
“Seu mandar um orçamento de dois criadores, com o mesmo preço, mas uma é negra e outra é branca, pedem para negociar o valor da pessoa negra. Isso ficou acentuado no mercado de finanças principalmente com a Nath”, afirma Passarelli.
Essa equipe da agência foi responsável por trabalhos com instituições como Serasa, QueroBolsa, Universidade Estácio, Marisa, NeoEnergia, Spotify, Avon, Elpais, YouTube, Natura, Cielo.
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