Assinar

“Leitores não substituem o ombudsman”

Buscar

“Leitores não substituem o ombudsman”

Buscar
Publicidade
Mídia

“Leitores não substituem o ombudsman”

Para Carlos Eduardo Lins da Silva, NYT extingue o cargo em um momento de ataques à credibilidade da imprensa


5 de junho de 2017 - 9h40

O fim do cargo de “public editor”, equivalente ao ombudsman, no New York Times, anunciado na semana passada, foi recebido por críticas de profissionais que ocupam a função no Brasil e no mundo. O jornal alegou que o cargo não é mais necessário na medida em que “incorpora uma função que pode ser feita pelos leitores e o monitoramento de comentários nas redes sociais”.

“Os leitores que nos acompanham nas redes sociais contribuem de uma maneira moderada à fiscalização que se torna ineficiente baseada apenas em uma pessoa sozinha”, disse Arthur Sulzberger Jr, publisher do NYT ao anunciar a mudança. Em sua coluna deste domingo, 4, Paula Cesarino Costa, ombudsman da Folha de S.Paulo, escreveu que o jornal americano tratou a função “como um SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente)”.

Paula perguntou a outros profissionais que ocupam o cargo de ombudsman o que pensam sobre a decisão. Margaret Sullivan, ex-ombudsman do NYT e atual colunista de mídia do Washington Post disse à Folha que o public editor era capaz de fazer cumprir a pressão por “acuidade da informação de modo que comentaristas e críticos de fora da redação não podem fazê-lo”. Já Paul Chadwick, do Guardian, afirmou que o jornalismo que é examinado com a mesma minúcia com que examina outros poderes e instituições é mais forte e confiável.

Liz Spayd, ombudsman do NYT até semana passada (Crédito: Reprodução Facebook)

Em sua última coluna, Liz Spayd, agora ex-ombudsman do NYT, questionou se a direção do jornal estaria mesmo buscando um novo modelo “ou apenas cansado de ter a sabedoria do santuário interno desafiada. ”

Questionado sobre o fim do cargo na Folha de S.Paulo, Sérgio Dávila, editor executivo do jornal, disse que não há planos neste sentido. “É uma das marcas do jornal e parte importante de seu projeto editorial. Avaliada a distância, a decisão do NYT parece equivocada.”

Ao Meio & Mensagem, Carlos Eduardo Lins da Silva, ombudsman da Folha de S.Paulo de 2008 a 2010, durante dois períodos, afirma que a decisão do NYT é inoportuna em um momento que se discute a credibilidade da imprensa. “A imprensa precisa tanto resguardar e ampliar sua credibilidade diante dos ataques autoritários do governo Trump nos EUA e de outros em diversos países”, diz Lins da Silva.

A seguir os principais trechos da entrevista:

Carlos Eduardo Lins da Silva (Crédito: Reprodução/WikkiCommons)

Momento crucial para a imprensa
É lamentável que o New York Times tenha decidido extinguir a instituição do ombudsman (chamada por ele de “editor público”) no jornal, exatamente quando a imprensa precisa tanto resguardar e ampliar sua credibilidade diante dos ataques autoritários do governo Trump nos EUA e de outros em diversos países, e ainda no meio da grave crise estrutural que a abala desde meados da década de 1990.

O ombudsman no New York Times
O “Times” chegou atrasado ao conceito de ombudsman. Foi só em 2003 que a função começou a ser exercida naquele diário, depois de graves problemas que abalaram o seu prestígio, em especial as reportagens falsas ou plagiadas de Jayson Blair e da instrumentalização de sua correspondente Judith Miller, que endossava com seus textos as falsas alegações da administração George W. Bush de que o Iraque de Saddam Hussein detinha grandes quantidades de armas de destruição em massa.

 

O atual presidente Donald Trump criou um cerco contra a imprensa

Era Donald Trump
O editor público ajudou a restabelecer a boa reputação do “Times” nestes 14 anos. Mas talvez o seu sucesso recente e atual graças à combativa linha editorial anti-Trump tenha trazido de volta aos dirigentes do “Times” sua antiga soberba e os levados a eliminar a função.

“É lamentável que o NYT tenha decidido extinguir a instituição do ombudsman exatamente quando a imprensa precisa tanto resguardar sua credibilidade”

O papel dos leitores
A alegação de que a crítica ao jornal pode ser mais eficientemente realizada pelos próprios leitores é insustentável. É claro que o leitor é o árbitro definitivo de todos os veículos. Mas a crítica profissional, feita por alguém que entende a atividade e o jornal por dentro, com autoridade moral sobre a redação e poder de requisitar respostas convincentes a seus questionamentos, é insubstituível. O ombudsman é um extraordinário instrumento para melhorar a qualidade e ampliar o respeito público do veículo.

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • ANPD acusa TikTok de tratamento irregular de dados de menores

    ANPD acusa TikTok de tratamento irregular de dados de menores

    Autoridade Nacional de Proteção de Dados pede que rede encerre "feed sem cadastro" e fortaleça mecanismo de verificação de idade

  • Uncover leva marketing mix modeling para empresas de médio porte

    Uncover leva marketing mix modeling para empresas de médio porte

    Martech visa expansão de negócios com solução para clientes menores e estratégia de internacionalização