Licenciamento direto entre Spotify e artistas pode impactar mercado musical
Antes dependentes de gravadoras e agregadores, artistas agora podem negociar músicas diretamente com a plataforma
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Karina Balan Julio
27 de setembro de 2018 - 9h20
A indústria de streaming de música é responsável por movimentar cerca de US$90 milhões por ano, montante que tende a aumentar progressivamente à medida em que plataformas de música ganham maior penetração entre a população global. O Spotify, um dos principais players do meio, avaliado em US$ 34 bilhões, anunciou na semana passada um novo formato de licenciamento de músicas com potencial para alterar a cadeia de relacionamento entre artistas, gravadoras e streamings a longo prazo.
Até então, artistas dependiam de uma gravadora ou de um agregador musical pago para fazer o upload de suas músicas na plataforma, e agora passam a poder enviar suas obras diretamente à plataforma, em um modelo de licenciamento direto.
Historicamente, artistas de diversos portes precisaram do apoio de intermediários para se consolidar em diferentes canais de distribuição. No Streaming, no entanto, a adesão de formatos de negociação diretos pode alterar as dinâmicas da indústria musical em diferentes aspectos.
Autonomia aos artistas
Fátima Pissarra, diretora-geral da Music2, afirma que a principal inovação do modelo adotado pelo Spotify está em dar mais autonomia e controle aos artistas. “É uma grande evolução, uma vez que dá a opção de escolha para cada um. Os cantores precisam ter a opção de caminhar sozinhos ou com parceiros”, avalia. O novo formato do Spotify não impõe exclusividade aos artistas, o que significa que eles podem licenciar suas músicas também a outras companhias como Apple Music e Amazon.
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Segundo o site americano The Verge, com o novo modelo, a companhia vai oferecer aos artistas 50% da receita advinda da reprodução das músicas licenciadas e 100% dos royalties atrelados a elas. Para se ter uma ideia, de acordo com a revista Billboard, o acordo entre as gravadoras e o Spotify cede às gravadoras em torno de 52% e 55% da receita dos royalties, valor que posteriormente é diluído entre o time da gravadora, agentes e o artista.
Competição com players tradicionais
Apesar do movimento de aproximação com artistas, o Spotify não deve, pelo menos em um primeiro momento, em abocanhar o negócio das gravadoras. “Licenciar conteúdo diretamente não faz de nós uma gravadora, e tampouco temos interesse em nos tornar uma. Não possuímos os direitos para qualquer música e não estamos agindo como uma gravadora”, disse o CEO do Spotify, Daniel Ek durante um encontro com investidores em julho, conforme reportado em uma matéria do The New York Times.
Na avaliação de Fátima, da Music2, o movimento do Spotify não deve surtir grandes efeitos imediatos. Isto porque o licenciamento de músicas às plataformas de streaming é apenas um dos trabalhos executados por gravadoras e agregadores, e por isso o papel destes players continuará relevante.
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“São necessários muitos players para que uma música tenha capilaridade. Ter esse controle é trabalhoso e exige desde o trabalho com operadoras de celulares, streamings e o gerenciamento de cada uma das plataformas do artista”, argumenta.
Ela pondera, no entanto, que a mudança pode servir como um estímulo à inovação e ao aprimoramento dos serviços já oferecidos pelos agentes tradicionais. “A competitividade cresce e isso é positivo para o desenvolvimento da indústria musical como um todo”, opina.
Em comunicado ao Meio & Mensagem, o Spotify afirmou que o recurso está em fase de testes, por enquanto apenas nos Estados Unidos. A assessoria de imprensa do Deezer também afirmou que a plataforma trabalha em um modelo de licenciamento direto com artistas, ainda sem previsão de lançamento.
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