Medidas do YouTube geram debate sobre remuneração
Produtores de conteúdo alegam problemas com receita após novas ações da plataforma para proteger anunciantes
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Luiz Gustavo Pacete
2 de maio de 2017 - 11h06
O boicote feito por grandes anunciantes da Europa e Estados Unidos ao YouTube e, por consequência as mudanças da plataforma para garantir maior controle e segurança às marcas, conforme adiantada pelo presidente do Google Americas, Allan Thygesen, ao Meio & Mensagem, gerou uma onda de vídeos de youtubers brasileiros e estrangeiros alegando queda considerável na remuneração dos vídeos.
Youtubers como o sueco Felix Kjellberg, dono do canal PewDiePie, os brasileiros Luba, Felipe Neto, Cauê Moura e outros, publicaram vídeos explicando a situação e questionando o futuro do YouTube. Felipe Neto, por exemplo, chega a expor quanto já ganhou por seus vídeos. Alguns youtubers falam em queda de até 50% em seus rendimentos vinculados a anúncios após algumas medidas como, por exemplo, a classificação do conteúdo como “family friend”.
A discussão remete a um momento anterior ao boicote que a agência Havas iniciou em março, na Europa, após matérias de jornais britânicos mostrarem que anúncios de várias marcas apareciam em conteúdo extremista no YouTube. No mês de fevereiro, uma matéria do WSJ apontava que Felix Kjellberg havia publicado vídeos com conteúdo antissemita. Na ocasião, Kjellberg perdeu contratos com a Disney e com o próprio Google e publicou vídeos alegando que vivia “pressão” da mídia tradicional. “Eu ainda estou aqui e ainda estou fazendo vídeos. Boa tentativa, Wall Street Journal. Tentem outra vez!”, disse Kjellberg.
Em um vídeo com o título “O fim de muitos youtubers”, Felipe Neto, que, com frequência discute situações relacionadas ao universo dos youtubers, afirmou que a situação para os produtores de conteúdo passou a ser delicada. “O Wall Street Journal criou uma matéria mostrando anúncios vinculados a vídeos extremistas e várias empresas tiraram os investimentos do YouTube, o que prejudica a esmagadora maioria de produtores de conteúdo no mundo que se sustenta com essa receita”, disse Felipe Neto.
“Em sete anos, nunca vi nada igual ao que está acontecendo agora. Muitas marcas decidiram boicotar por que esses anúncios aparecem em conteúdo de ódio e racista. Quando essas marcas fazem isso, os criadores de conteúdo são prejudicados. Eu não culpo o YouTube por essa situação e não vejo que essas reclamações venham nem mesmo das marcas. As pessoas são inteligentes o suficiente para saberem que é um anúncio em um site”, disse Luba, do canal Luba TV.
Para Cauê Moura, a matéria do Wall Street Journal foi tendenciosa e isolada apontando que não existem provas suficientes para dizer que o problema do YouTube é generalizado. “Por aqui a coisa não refletiu como nos Estados Unidos. Por lá, vários produtores de conteúdo quebraram por causa dessa situação”, disse Moura. “Se analisarmos muitos dos produtores de conteúdo possuem estruturas e equipes que são prejudicadas”, diz Moura.
O que diz o YouTube
Em carta recente, direcionada aos produtores de conteúdo da plataforma, Marissa Morrill, gerente de comunidades do YouTube, explicou que, em função do movimento de anunciantes pressionando a plataforma sobre o destino de seus investimentos, novas medidas seriam necessárias. “Começamos a aplicar controles de segurança. Se você estiver vendo flutuações em sua receita durante as próximas semanas, talvez seja porque estamos ajustando nossos sistemas de anúncios para solucionar essas questões. Estamos trabalhando o mais rápido possível para que os anunciantes se sintam mais confiantes em nossa plataforma e as receitas continuem a fluir para os criadores a longo prazo”, escreveu Marissa em um texto direcionado aos youtubers.
Ariel Bardin, VP de produtos do YouTube, também em comunicado, reforçou as ações tomadas pela plataforma para garantir a segurança das marcas. “Depois de ouvir nossos anunciantes, tomamos uma série de ações e queremos explicar o que essas mudanças podem significar para você criador do YouTube.” Dentre as medidas anunciadas por Bardin está uma posição mais enfática sobre discurso de ódio “para proteger os meios de subsistência dos nossos criadores e para reforçar a confiança dos anunciantes, aplicamos políticas mais amplas de desmonetização em torno de vídeos que são vistos como inapropriados. Isso inclui remover anúncios de forma mais eficaz de conteúdo que é assediar ou atacar pessoas com base em sua raça, religião ou gênero”, escreveu Bardin.
Além disso, o YouTube também está reforçando os controles de anunciantes para anúncios de vídeo e de visualização. “Vamos adicionar novos controles de anunciantes que tornam mais fácil para as marcas excluir conteúdo de maior risco e definir onde pretendem que os seus anúncios sejam apresentados”, diz Bardin. “Queremos que o YouTube permaneça um lugar onde os criadores possam se expressar enquanto ganham receita, onde os fãs possam descobrir novas vozes e onde os anunciantes tenham um lugar para alcançar o público envolvido. Para manter essa dinâmica em andamento, os anunciantes precisam se sentir confiantes de que seus anúncios só estão aparecendo onde devem. Embora as restrições de anúncios possam parecer limitantes, elas são essenciais para proteger a subsistência dos criadores”, disse Bardin.
No início de abril, outra medida foi tomada para ampliar o controle da plataforma. A empresa anunciou que os criadores precisam alcançar 10 mil visualizações em um canal antes de poder vincular anúncios a seu conteúdo. “Este novo limite nos dá informação suficiente para determinar o valor de um canal. Isso também nos permite confirmar se um canal está seguindo nossas diretrizes e políticas e anúncios. Ao estipular o limite de 10 mil visualizações, também garantimos que o impacto será mínimo em aspirantes aos produtores de conteúdo”, disse Bardin.
Relação entre plataforma e comunidade
Toda essa discussão envolvendo o YouTube e influenciadores remete ao relacionamento da plataforma com os produtores de conteúdo e o quanto essa relação foi construída ao longo dos anos. Não é a primeira vez que youtubers se manifestam diretamente a questões relacionadas à plataforma. No início do ano, alguns youtubers influentes publicaram conteúdo discutindo os problemas que a plataforma vinha enfrentando com bugs que reduziam a quantidade de inscritos. Além de seus canais pessoais, muitos produtores de conteúdo utilizaram outras plataformas como o Twitter e o Facebook para levantar o caso.
“Desapontamos grandes anunciantes”
Na ocasião, Manuela Villela, gerente de parcerias do YouTube Brasil, ressaltou ao Meio & Mensagem que uma das premissas da plataforma era não só estar próxima dos produtores de conteúdo mas dar suporte e dialogar. “Existem algumas dinâmicas na plataforma relacionadas à limpeza de inscritos fakes e outras questões que acabaram gerando essas discussões sobre bugs, mas desde o início, estivemos em contato tanto para esclarecer qualquer dúvida como para auxiliar esses produtores. Essa proximidade foi fundamental na construção do relacionamento entre plataforma e comunidade”, disse Manuela. Na época, Bia Granja, do youPix, ressaltou que muitos dos desafios do YouTube são fruto de seu crescimento. “O aumento da concorrência entre as plataformas e os próprios youtubers demanda ainda mais estreitamento e profissionalização das relações. Da maneira como está configurada a coisa, os creators se tornaram muito dependentes das plataformas”, diz Bia.
Para Rafinha Bastos, humorista que produz conteúdo para a internet desde 1999, o tamanho do YouTube, em muitos casos, acaba sendo seu maior desafio. “São muitos os produtores de conteúdo. Não é fácil atender a todos. Tem um agravante nessa relação, uma boa parte das mudanças e da própria administração da tecnologia é feita em Los Angeles. Fica difícil. O YouTube é grande demais e as vezes nem os americanos tem resposta para algumas perguntas”, diz Rafinha que, por várias vezes, também produziu vídeos falando sobre os desafios da plataforma.
Oportunidade para a concorrência
Victor Azevedo, especialista digital do IBMEC, afirma que as mudanças de monetização do YouTube abriram espaço para outras plataformas como a Amazon. “A Amazon aproveitou toda a polêmica para trazer o PewDiePie para sua plataforma de streaming voltada para jogos e também está lançando um programa de afiliados voltado para influenciadores digitais com foco nos seus produtos”, diz Azevedo. Kjellberg anunciou, em 18 de abril, que fechou parceria com a Amazon passando a produzir um canal no Twitch, site de streaming e podcasts sobre videogame. Kjellberg justificou que o principal motivo de ter ido para a plataforma está associado aos prejuízos que ele está tendo desde fevereiro quando alguns de seus vídeos com conteúdo considerado ofensivo fizeram com que ele perdesse contrato com a Maker Studios, da Disney, e com o próprio Google.
Alguns dos vídeos que tratam do tema de remuneração dos youtubers:
https://www.youtube.com/watch?v=4ENTTcwtIkk
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