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Multiplicação de VODs colabora para aumento da pirataria

Estudo indica que quantidade de plataformas com conteúdos exclusivos e preço das assinaturas voltam a impulsionar consumo ilegal


7 de fevereiro de 2019 - 6h00

Barracas que vendem DVDs de filmes e séries piratas costumavam ser muito mais comuns em grandes centros urbanos brasileiros, assim como baixar conteúdo gratuitamente em portais ilegais na internet. Quando o modelo de streaming da Netflix começou a fazer sucesso, por volta de 2012, não só essas barracas diminuíram, como o tráfego pirata de modo geral também. Muitos dos sites ilegais, inclusive, foram retirados do ar. No entanto, isso não significa que a pirataria no consumo de entretenimento tenha diminuído.

 

A Disney prepara para este 2019 sua plataforma de VOD (Crédito: Reprodução)

O estudo Global Internet Phenomena Report, realizado pela Sandvine e divulgado no último trimestre de 2018, mostra que o volume de conteúdo enviado por ferramentas P2P como o BitTorrent — sistema de compartilhamento de pastas responsável por 97% dos envios globais de conteúdo pirateado —  voltou a crescer após uma grande queda que teve início na segunda década do século 21.

Em 2011, o uso do BitTorrent para envio representava 52% do tráfego de vídeo na internet nos Estados Unidos e 60% na Europa. Em 2015, as porcentagem chegaram a 27% e 21%, respectivamente. Os números se mantiveram caindo até 2018, quando houve uma nova alta: 32% no Oriente Médio, Europa e África. Nas Américas, o BitTorrent está em segundo lugar no envio de conteúdo pirata. Enquanto isso, a Netflix tem 15% do tráfego de consumo de conteúdo em vídeo de toda a internet mundial.

Em comunicado, a Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA) não atribui à Netflix a queda de pirataria: “Nas pesquisas das equipes técnicas da ABTA, o que temos observado é a Netflix também é vítima de pirataria, assim como as programadoras de TV por Assinatura. Não existe nenhuma informação que nos permita correlacionar a entrada da Netflix com a queda de acessos ilegais”.

Em um artigo publicado no blog da Sandvine, Cam Cullen, VP de marketing da empresa, lista alguns motivos para o crescimento dos números. Um deles seria o aumento de produção exclusiva e original dos players de VOD na busca por se diferenciar da grande multiplicação de serviços sob demanda lançados por programadoras e distribuidoras nos últimos três anos. Pelo fato de a maioria dos players ter sede nos Estados Unidos, há uma distribuição falha para o restante do globo e um desalinhamento de estreias, como os lançamentos dos episódios de Game of Thrones, por exemplo. “Já que estes números foram registrados em junho para esta edição do estudo, não houve nenhum episódio de Game of Thrones saindo. Então, considere estes números menores do que deveriam”, avalia o VP de marketing da Sandvine.

Looke foi lançado em 2015 (Crédito: Divulgação/Looke)

Luiz Bannitz, diretor de conteúdo e novos negócios do Looke, plataforma de conteúdo audiovisual brasileira, concorda com a posição do executivo. “Está se produzindo um volume muito grande de conteúdo original que estão tomando a verba de aquisição e o lugar nas plataformas de títulos mais conhecidos pelos usuários. Desta forma o consumidor passa a procurar pelo que ele já conhece e estes conteúdos estão normalmente disponíveis nos sites piratas e torrents”, explica.

Além disso, segundo ele, o aumento dos preços dos serviços de streaming e a demanda por lançamentos que acabaram de sair de cartaz contribui pela procura por torrents e outras formas ilícitas de consumo.

Enquanto a população não se dispõe ou tem condições de pagar pelas assinaturas, há um grande sistema capaz de fornecer isso gratuitamente que, na superfície, parece não ser nocivo. Edson Vismona, presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria (FNCP), afirma que não é bem assim: “Os sites ilegais são alimentadas por anúncios que trazem vírus para os aparelhos, coletam dados pessoais do usuário e promovem pedofilia, por exemplo. Trazemos essa questão nas CPIs e nos projetos de lei que planejamos com o governo. Mas não é fácil derrubar os portais ilícitos. Eles não são controlados por amadores e sim por máfias de outros países”, conta. Edson diz que, em 2018, a pirataria gerou uma perda de R$ 4,8 bilhões à TV por assinatura no Brasil.

Democracia, unicidade e multiformato
Para Alessandra Dorgan, gerente da Spcine Play, plataforma de video on demand da empresa municipal de cinema e audiovisual de São Paulo, a questão da acessibilidade do conteúdo pode ser incorporada à serviços que já estão no mercado. O Play disponibiliza cerca de 60% do seu portfólio gratuitamente e trabalha com valores “bastante democráticos”, como diz a executiva: R$ 3,99 por locação. Recentemente, a Spcine Play foi incorporada ao Looke para ampliar seu alcance e suporte tecnológico. O IMDb, database sobre filmes e séries da Amazon (que já possui o Prime Video), também anunciou o lançamento de um VOD em janeiro deste ano nos Estados Unidos. Seu diferencial é exibir publicidade, ao invés de cobrar uma mensalidade para que o usuário não veja anúncios durante a experiência. Ainda não há previsão de lançamento do player em demais países.

“Acreditamos que democratizando o acesso, contribuímos para a formação de público cinéfilo e estimulamos o consumo consciente de conteúdo, minimizando o impacto nocivo da pirataria em todo o mercado audiovisual”, declara Alessandra. A executiva ainda acredita no streaming como um facilitador: “Quando o consumidor comum — aquele que não domina ferramentas como o torrent — encontra com facilidade o título que procura, é mais fácil que ele consuma via streaming, pagando pouco, do que busque arquivo, legenda, sincronize e rode no computador“.

O Looke segue apostando na exclusividade de seu conteúdo para atrair os consumidores. De acordo com Luiz, há uma maior dedicação em colocar na plataforma produções audiovisuais que não estão nos concorrentes. “Se o conteúdo já estiver em quaisquer outros serviços, evitamos de comprá-lo, dando assim oportunidade a novos conteúdos, criando uma opção legal para nossos clientes”, explica.

Apesar dessa estratégia ser replicada por demais serviços, Edson concorda que é necessário contribuir com conteúdo que fidelize o consumidor do serviço, seja com narrativas ou formatos originais, citando o filme Bandersnatch, de Netflix, cuja participação do espectador gerou diversos finais possíveis, dificultando a replicação de forma ilegal.

**Crédito da imagem no topo: Charles/Unsplash

 

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