O destaque feminino no mercado da música
Conheça as profissionais de importante relevãncia em empresas como Vevo e Spotify, além de eventos como o Lollapalozza
Conheça as profissionais de importante relevãncia em empresas como Vevo e Spotify, além de eventos como o Lollapalozza
Karina Balan Julio
8 de março de 2017 - 8h18
A presença da mulher no mercado musical é frequentemente abordada sob a ótica dos artistas e produtores de conteúdo. No Brasil, essa faceta é exposta nas discussões sobre a ascensão do sertanejo feminino e artistas “empoderadas” como Karol Conká e Anitta, que ganharam a atenção do público e do mercado. Nos bastidores e nas áreas que fazem a engrenagem funcionar, no entanto, elas ocupam espaços de grande relevância, embora nem sempre apareçam de forma tão explícita.
Meio & Mensagem conversou com mulheres do mercado para entender os principais desafios para o setor de música no Brasil e sobre a presença das mulheres na indústria.
Leca Guimarães, diretora de festivais da C3, controladora do Lollapalozza para a América Latina
Leca já foi gerente na Geoeventos e na Vice Brasil, e hoje comanda os festivais da americana C3 na América Latina. Ela vê no país um mercado maduro em termos de público, mas ainda engatinhando em leis e processos de suporte a eventos culturais e entretenimento. “O Brasil é um dos lugares mais caros para se realizar um festival. No Brasil, um festival só sobrevive com grandes marcas/patrocinadores por trás, enquanto em outros lugares do mundo um festival consegue se sustentar com venda de ingressos, comida e bebidas, licenciados, etc. Ou seja, a verticalização do festival com foco nos fãs não acontece muito no Brasil. Quando se tem um sócio internacional, é preciso deixar muito claro as dificuldades de se promover no país para que ele ajude no crescimento da marca.”, diz Leca.
Aqui nos EUA e na Europa, vejo mulheres ocupando cargos de liderança. No Brasil, estamos um pouco atrás na questão de mulheres ocupando cargos de liderança, mas há mulheres ocupando posições muito importantes e são referência no mercado. Já quando entramos no universo da produção dos festivais em si, que é um mundo super masculino, há bem menos mulheres embora também seja algo que está mudando: hoje já vejo mulheres ocupando cargos na diretoria de produção de um festival, coisa que não acontecia no passado.
Fabiana Batistela, diretora da Agência Inker e da Semana Internacional de Música de São Paulo
Fundadora da Inker, empresa especializada em assessoria de comunicação para artistas, e diretora geral da SIM (Semana Internacional de Música de São Paulo), Fabiana acredita que ainda há espaço para o mercado privado e possibilidades de startups no Brasil. “É um mercado que tem o costume de usar editais públicos ou leis de incentivo para realizar as coisas. A verba pública vai para o final da cadeia de produção e ignora o processo que veio antes, desde a capacitação, o estúdio, a casa de show que formou aquele artista, a formação de fornecedores, etc. Paralelamente a isso, temos um mercado mainstream que funciona bem, com suas regras e processos. O mercado independente sempre trabalhou em um ambiente desfavorável e começou a crescer há três ou quatro anos, com o boom trazido por Spotify, Pandora, Apple Music, etc. O Brasil pode evoluir com startups, apps e platafomas, é em mercado de crise onde novas ideias surgem, porque a cartilha não funciona mais”, analiza.
Para ela, a discussão sobre as mulheres no setor envolve uma questão cultural. Para a SIM, foi estipulado que 50% da programação deve ter palestrantes mulheres.”Não faltam profissionais qualificadas na área, mas estamos viciados, inclusive nós mulheres, a pensar no homem logo de cara. Existem algumas funções ou setores considerados mais masculinos, como a parte técnica e de som, e alguns mais femininos como a comunicação. Mas não existe nada disso, é uma questão geral de entender o que elas podem fazer e espaços que podem tomar sem achar que estão fazendo algo estranho”, opina.
Fátima Pissara, CEO da Vevo Brasil
Fátima passou por empresas com Claro, Nokia e Terra antes de comandar a Vevo. Ela acredita que a expansão do mercado independente e reinvenção dos formatos gerou oportunidades, mas que o mercado ainda precisa evoluir na maneira de trabalhá-las. “O trabalho de marcas com música ainda é muito embrionário, tanto para as marcas como para os músicos. As marcas estão acostumadas a trabalhar com celebridades que já são atores, mas o universo de cantores é muito diferente: eles possuem suas carreiras com shows lotados em todo o país e suas criações independentes, e as marcas ainda não se adaptaram a não ter 100% do controle. Para elas, abrir mão do comando é muito difícil”, avalia.
Sobre a presença feminina, ela acredita que é ainda muito tímida no universo da música. “Talvez com um mercado mais ‘boêmio’ de anteriormente, havia mais homens. A maioria ainda é homem, mas procuro ver isso de forma positiva pois temos muito espaço para crescer. A entrada de mulheres nos comandos e nos microfones é um caminho sem volta. Na Vevo no Brasil somos praticamente 70% mulheres. Não propositalmente, mas foi algo que aconteceu”.
Roberta Pate, responsável pela área de artistas e gravadoras do Spotify
A executiva do Spotify conta que a companhia tem uma política de inclusão e tratamento igualitário em escala global, e que grande parte da diretoria no Brasil é composta por mulheres. “Há muita participação feminina no mundo da música, tanto pelo lado de artistas como na parte de negócios. Como em todo setor, a diversidade das pessoas que atuam nele é essencial para manter uma experiência rica em criatividade. É muito interessante, por exemplo, ver a ascensão no topo das paradas de mulheres no sertanejo ou das meninas do hip-hop ganhando mais força”, afirma.
Na plataforma, o Spotify tenta abarcar a temática da equidade de gêneros em seu conteúdo. “Como sabemos que esse tema é cada vez mais importante na sociedade, buscamos representar o empoderamento em nosso conteúdo editorial, criando playlists que homenageiam artistas mulheres ou listas com músicas que refletem o poder das mulheres. Em março, para celebrar o mês das mulheres, teremos uma categoria apenas com playlists destacando artistas mulheres representando diversos gêneros musicais”, antecipa.
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