O Doutrinador: como transformar heróis e vilões em marcas
Luciano Cunha, autor da série em quadrinhos que virou filme, reforça a conexão entre política, universo geek e produção nacional
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Luiz Gustavo Pacete
11 de setembro de 2018 - 13h23
Publicitário, jornalista, designer, empreendedor. O quadrinista Luciano Cunha é multidisciplinar, ainda que não se apresente oficialmente por meio dessas funções, em sua trajetória ele precisou reunir qualidades presentes em cada uma delas. Após o início de carreira como designer gráfico, trabalhando em obras de Ziraldo, Cunha criou, em 2010, o personagem O Doutrinador, um agente federal que se propõe a fazer justiça com as próprias mãos quando o assunto é corrupção. Em 2013, durantes as manifestações no Brasil e a efervescência políticas nas redes sociais, seu trabalho ganhou grande repercussão.
“O Brasil é um case de quadrinhos no mundo”
O desejo de Cunha, de dar vida ao personagem era antigo, mas por muito tempo ficou engavetado em função do desafio de conseguir o aceite de uma editora. Em 2016, ele fundou a Guará Entretenimento, em parceria com o produtor Gabriel Wainer, com o objetivo de transformar O Doutrinador no centro de um universo de personagens e um ecossistema que reúne licenciamentos, audiovisual e outras plataformas em torno do personagem principal.
O objetivo da Guará, segundo Cunha, é ser um misto de editora, agência e núcleo criativo. Sua pretensão: desenvolver a “Marvel brasileira”. Segundo ele, um grande desafio em um país com problemas sérios de distribuição de quadrinhos e outras questões de negócios. Atualmente, a Guará possui 13 personagens e oito universos. “Nosso objetivo, é, além de expandir esse universo, ampliar a produção de quadrinhos pelo Brasil contando com talentos e ideias descentralizadas”, afirma.
O novo marco para Cunha será a estreia, em novembro, de O Doutrinador nos cinemas com distribuição da Downtown/Paris Filmes. O próximo passo será a estreia da série derivada no canal Space em 2019. Ao Meio & Mensagem, em uma conversa iniciada no Hack Town, evento de inovação que ocorreu na última semana em Santa Rita o Sapucaí (MG), Cunha fala sobre seu processo criativo e o caminho em transformar um super-herói brasileiro em marca. “Marvel e DC não vivem de quadrinhos, vivem de licenciamentos e produções cinematográficas e o nosso objetivo é criar esse ecossistema tendo o filme como o pontapé inicial”.
Meio & Mensagem – Você tem uma trajetória profissional multidisciplinar, passando, inclusive, pela publicidade, como isso lhe ajudou no processo criativo de O Doutrinador?
Luciano Cunha – Foi importantíssimo. Por exemplo, todas as edições até hoje, até essa mais nova que estamos reimprimindo, foi editada, diagramada e escrita por mim, já que sou designer gráfico antes de ser quadrinista. Foi muito importante a questão da sensibilidade estética para colocar no papel tudo que eu preciso expressar junto com uma arte final profissional. Até mesmo para apresentar o projeto, para um editor ou investidor, foram necessárias habilidades que herdei da publicidade, por exemplo.
Como é produzir uma série para a Amazon?
M&M – Parte da sua trajetória inclui o trabalho em jornais diários, de onde vem um pulso importante para O Doutrinador, como essa proximidade com a notícia influenciou seu trabalho?
Cunha – Sempre estive muito ligado e fui muito politizado, atento a tudo que saia em jornal e internet. Ou seja, a imprensa, apesar de todos os problemas, as vezes super partidarizada, foi uma referência importantíssima nesse processo de dar vida ao O Doutrinador.
M&M – Como foi trabalhar com o Ziraldo?
Cunha – Foi um começo que me emociona e me orgulha. Eu tinha dezesseis anos quando comecei a trabalhar com quadrinhos. Foi meu primeiro emprego, na agência Zapping. Fazíamos tudo relativo a obra do Ziraldo, desde o quadrinho mensal ao gibi do Menino Maluquinho. Isso foi em 1988. Foi muito importante aquela vivência.
M&M – Qual sua avaliação sobre a cena atual de quadrinhos no Brasil?
Cunha – O quadrinho brasileiro nunca esteve tão forte e interessante com tanta gente talentosa em uma mesma geração. Em relação aos profissionais envolvidos, nunca estivemos tão bem. Agora, é um problema quando falamos de mercado, ele não existe, é muito mais uma cena mesmo. As pessoas não conseguem viver de quadrinhos. Posso contar na ponta dos dedos quem consegue. Um ou outro que é agenciado para trabalhar com a Marvel, DC e outras editoras menores. Temos também problemas de distribuição. Mas com essa geração que eu mencionei, acho que é possível trabalhar para tornar o quadrinho como é lá fora. Ser visto como mais uma parte de mídia de algo maior. É o que estamos tentando fazer com a Guará. É, a partir de O Doutrinador, ter uma marca forte que gere outros tipos de negócios. Por exemplo, lá fora, Marvel e DC não vivem mais de quadrinhos. Elas vivem de licenciamento e das produções cinematográficas.
M&M – Quais os cuidados, limites e concessões para levar uma obra autoral como O Doutrinador para a TV e o cinema?
Cunha – Teve muita preocupação desde o início. Como a gente sabia do ineditismo do projeto, teve muita preocupação em fazer esse filme da melhor maneira possível e todo cuidado para que existisse pegada pop que inaugurasse essa nova caminhada que a gente quer para o audiovisual brasileiro. Desde as escolas de adaptação do quadrinho de rejuvenescer o personagem e até a parte de figurino de fotografia tudo foi pensado para que o filme fosse um marco para o universo geek brasileiro.
M&M – Chegamos a uma situação política e social delicada no Brasil, o quanto a realidade superou a ficção?
Cunha – Foi um desafio durante todo o processo de roteiro. Enquanto estávamos na sala de roteiro escrevendo a série e o filme era incrível como aconteciam coisas bem piores do que imaginávamos na política. Estamos vivendo dias complicados, um clima de nós contra eles desde 2014, então temos que tomar muito cuidado nessas narrativas.
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