O meio é a mensagem: o legado de Marshall McLuhan

Sergio Damasceno Silva
16 de outubro de 2024 - 16h07

O nome de M&M é inspirado na expressão criada pelo pensador canadense; Andrew McLuhan, fundador do Instituto McLuhan e neto de McLuhan, esteve recentemente na redação (Crédito: Rafael Barreto)

McLuhan e Meio & Mensagem, uma relação de longa data.

De fato, em 2011, na edição de 18 de julho, Meio & Mensagem publicou o “Centenário de McLuhan”, reportagem especial de sete páginas para comemorar os cem anos de nascimento de Marshal McLuhan.

McLuhan: legado para comunicação e publicidade

O pensador canadense deixou um grande legado que tem muito a ver com comunicação e publicidade.

Assim, ficou conhecido pela criação de aforismos, entre os quais “o meio é a mensagem”, que foi a inspiração para o nome de Meio & Mensagem.

McLuhan cunhou, ainda, frases e elaborações como: “Toda publicidade anuncia publicidade”, “um meio de comunicação modifica outro, assim com um idioma é alterado por seu contato com outro”, “o negócio do mundo dos negócios é criar novos negócios” e “Nosso tempo é um mundo novo em folha do tudo ao mesmo tempo agora. O tempo cessou, o espaço desapareceu. Vivemos agora em uma aldeia global.”

De fato, McLuhan está mais atual do que nunca como se percebe por seus enunciados. Notadamente, para a indústria de comunicação, marketing e mídia.

Ainda, seu legado e sobrenome continuam a ser disseminados. Andrew McLuhan, especializado em estudos de comunicação e mídia, é fundador do Instituto McLuhan e neto de Marshall McLuhan.

Que, a propósito, nasceu no mesmo ano do lançamento de Meio & Mensagem, com a diferença de poucos meses.

Relação com Meio & Mensagem

Ambos, McLuhan e Meio & Mensagem, tiveram a oportunidade de se encontrar recentemente.

Assim, McLuhan esteve no Brasil para a turnê de lançamento do livro Brand Publishing na Prática, organizado por Paulo Henrique Ferreira, o PH, que é diretor-executivo da Barões Brand Publishing, que reúne a expertise de 18 profissionais das áreas de comunicação e gestão de grandes marcas.

Andrew McLuhan escreveu o prefácio do livro Brand Publishing na Prática, organizado por Paulo Henrique Ferreira, diretor-executivo da Barões Brand Publishing (Crédito: Rafael Barreto)

De fato, a obra, da editora Robecca & Co, tem prefácio escrito por Andrew McLuhan. “O livro oferece modelos práticos de como transformar marcas em legítimas publicadoras de conteúdo relevante, que fortalecem sua presença no mercado e ampliam seu impacto na sociedade”, afirma PH.

Dessa forma, para o lançamento, PH e McLuhan passaram por Belo Horizonte (3/10), Rio de Janeiro (8/10) e São Paulo (10/10), com debate entre os coautores.

Andrew McLuhan no M&M

Na visita a Meio & Mensagem, McLuhan concedeu a entrevista a seguir:

Meio & Mensagem – Quais são os objetivos do Instituto McLuhan e qual é o seu papel na liderança da instituição?

Andrew McLuhan – O instituto é, principalmente, familiar, criado para preservar o trabalho do meu avô, Marshal McLuhan, e do meu pai, Eric McLuhan. Herdei a filosofia, a teoria, mas também os objetos físicos, arquivos, obras de arte e escritos e livros. Meu objetivo específico é usar o trabalho que eles fizeram para nos ajudar a entender a tecnologia e o que faz conosco hoje em dia. Meu pai era o filho mais velho de Marshall McLuhan e trabalhou com ele de 1965 a 1980 (quando Marshall faleceu) e continuou até sua própria morte em 2018.

M&M – Qual é o principal legado deixado pelo seu avô Marshall McLuhan?

McLuhan – O principal legado pode ser colocado nessa frase: “O meio é a mensagem”. A ideia de que as pessoas e a sociedades são modificadas mais pela forma e estrutura da tecnologia do que pelo conteúdo. E sobre as novas tecnologias como inteligência artificial (IA) e machine learning.

Machine learning e IA

M&M – E qual é a abordagem do instituto em relação à machine learning e IA?

McLuhan – É a mesma abordagem que Marshall e meu pai Eric usaram, que é olhar para a natureza da tecnologia. E seguir sua estrutura para entender o efeito nas pessoas, que tipo de mundo criará e qual será seu impacto no mundo que temos hoje. Essas são as duas principais preocupações. Toda nova tecnologia, não importa o que seja, tem certas coisas em comum e, quando sabemos disso, nos dá um lugar para começar a entender quais serão seus efeitos.

M&M – Há conceitos, ideias e expressões que foram criados por Marshall como “aldeia global” e “o meio é a mensagem”. Como você avalia a aldeia global e o meio como mensagem na perspectiva do mundo digital atual?

Aldeia global

McLuhan – A aldeia global foi um termo que surgiu com a introdução da eletricidade no século 19. Era uma maneira de descrever o efeito do telégrafo e do telefone em encolher o mundo nos termos de uma aldeia. É muito fácil se comunicar com alguém no Brasil quanto com alguém do outro lado da rua por meio da eletricidade. Quanto mais você avança no desenvolvimento de tecnologias elétricas, eletrônicas e digitais, mais as coisas se aproximam. Portanto, agora, a aldeia encolheu até ficar do tamanho de uma sala.

M&M – Você pode falar sobre o livro Brand Publishing na Prática no qual você é autor do prefácio?

McLuhan – O livro é uma resposta às mudanças no mundo, na comunicação, nas pessoas e empresas. E a maneira como as empresas tradicionalmente se comunicam com as pessoas por meio de publicidade é muito unidirecional e limitado. A Brand Publishing oferece uma maneira de comunicação mais bidirecional e significativa. Não apenas pela publicidade e vendas, mas por informação confiável. E essa é uma grande mudança.

Meio e a mensagem para todos

M&M – Você tem planos de intensificar o papel do Instituto McLuhan no Brasil?

McLuhan – Foi realmente incrível a forma como fui recebido no Brasil. As pessoas estão muito interessadas. Elas se lembram de quem foi Marshall McLuhan. Meu objetivo é levar o meio e a mensagem para o mundo. Porque acho que estamos em um momento em que a mudança acontece tão rápido, quando novas tecnologias são tão poderosas, que precisamos entender o que estão fazendo conosco. Mas ainda não tivemos conversas sobre expansão no Brasil, não ainda. É um passo de cada vez.

M&M – E como tudo isso se relaciona à publicidade e às agências?

McLuhan – Todas as coisas humanas podem ser mídia. É por onde começam as mensagens. Procure a mensagem na luz elétrica. A mensagem é o que ela torna possível, certo? A mensagem da luz elétrica são cidades 24 horas que produzem, que são capazes de permitir que as pessoas leiam à noite. Mas não é uma mensagem a menos que você a use para soletrar com uma mensagem, como por meio do neon ou algo assim. É sempre mais fácil ajudar as pessoas a entenderem o significado da frase quando você usa uma tecnologia inesperada como luz, roupa ou ar-condicionado. Com o ar-condicionado, você pode ficar confortável no Rio de Janeiro no meio do verão quando está 45 graus lá fora. É por isso que é mídia. Essa é a mensagem.