Demissões e reavaliação de metas: o que acontece com as big techs?
Fatores econômicos globais e particularidades de negócios de cada companhia pesam para o momento de readequação de empresas como Meta, Twitter, TikTok e outras plataformas
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Bárbara Sacchitiello
11 de novembro de 2022 - 14h31
“Tomei a decisão de reduzir o tamanho da nossa equipe em cerca de 13%, mais de 11 mil postos de nossa talentosa força de trabalho.” Com essa frase, Mark Zuckerberg anunciou aos funcionários da Meta na quarta-feira, 9, o mais drástico corte de pessoal da história da companhia, fundada em 2004, com o nome de Facebook.
Alguns dias antes, os mais de 7 mil colaboradores do Twitter em todo o mundo foram avisados via e-mail ou Slack se seguiriam na empresa, agora liderada pelo bilionário Elon Musk.
Embora não tenha anunciado demissões, a ByteDance, controladora do TikTok, anunciou na quarta-feira, 9, uma nova projeção de receita para este ano. A plataforma, que inicialmente havia previsto angariar US$ 12 bilhões com publicidade em 2022, reduziu a projeção para US$ 10 bilhões.
Meta demite 11 mil funcionários no mundo
Outras gigantes do segmento de tecnologia, como Apple, Amazon e Alphabet (a proprietária do Google) não cortaram colaboradores, mas já deram um sinal de alerta de possíveis turbulências ao comunicarem que as contratações estão congeladas até os primeiros meses de 2023.
Para compreender o atual cenário que atravessam as empresas de tecnologia, sobretudo as plataformas de redes sociais, é preciso considerar dois cenários distintos: a situação político-econômica global, que deixa todas as companhias vulneráveis às mesmas – e incontroláveis – intempéries, e a situação particular de cada uma dessas empresas.
“Não é possível, necessariamente, colocar todas essas companhias na mesma situação para tentar avaliar o que está causando esse cenário de demissões e revisão de negócios”, pontua Eric Messa, professor e coordenador do núcleo de inovação em mídia digital da Faculdade Armando Álvares Penteado (Faap). Ele destaca que o caso do Twitter, por exemplo, é diferente por se tratar de uma companhia no início de uma nova gestão e que a Meta também tem suas particularidades de ter direcionados os investimentos para a inovação no último ano.
Messa pondera, contudo, que plataformas como Facebook, Instagram, Twitter, Snapchat e até mesmo o TikTok atravessam o que ele classifica como uma fase de acomodação, algo bem diferente do ocorrido nos últimos anos, quando as redes sociais tiveram um crescimento vertiginoso.
“Tivemos uns 10 anos de grande crescimento, mas agora essas empresas começam a sentir a chegada de outras plataformas concorrentes. Essa situação obriga as empresas a olharem seu próprio tamanho e buscarem uma otimização, revendo a quantidade de funcionários e a estrutura”, explica Messa.
O coordenador do núcleo da Faap argumenta também que esse movimento, de certa forma, é um dos efeitos do pós-pandemia, que abriu os caminhos para a consolidação de modelos de trabalho remotos ou híbridos, que fez com que grandes companhias deixassem de precisar de estruturas físicas tão amplas.
A Meta, inclusive, comunicou que já está revisando sua estrutura física em vários locais e São Paulo é um deles. A comunicação da plataforma disse à reportagem de Meio & Mensagem que a empresa, em outubro, já havia tomado a decisão de fechar o Infinity, um dos escritórios que mantinha na capital paulista, e concentrar a operação brasileira apenas no B32, outro local que a Meta passou a ocupar desde janeiro deste ano.
“Dentro do nosso compromisso com uma experiência de força de trabalho distribuída, reconhecemos que temos novos perfis de trabalho, incluindo remoto, híbrido e com a presença no escritório durante toda a semana. Para apoiar essa evolução, anunciamos em outubro que estamos implementando o compartilhamento de mesas de trabalho, permitindo que as pessoas tenham mais flexibilidade, ao mesmo tempo em que revigoramos nosso ambiente de trabalho”, disse um porta-voz da companhia à reportagem.
A Meta não respondeu quantos profissionais da operação brasileira foram desligados. Um documento, no entanto, começou a circular nesta semana entre os profissionais de marketing e de tecnologia, listando os profissionais que eram da empresa e que, agora, estariam em busca de uma recolocação. A lista conta com mais de 70 nomes.
Outros fatores que não podem ser deixados de lado na avaliação do atual momento das big techs é a situação econômica global e, principalmente dos Estados Unidos, onde praticamente todas essas empresas têm sua sede.
“Houve a situação da pandemia, em que algumas empresas investiram muito e não performaram como imaginavam, a inflação sem precedentes nos Estados Unidos e, ainda, a Guerra na Ucrânia, que gerou uma temeridade global e fez com que as companhias repensassem seus investimentos”, descreve Eduardo Maróstica, professor de MBA da Fundação Getúlio Vargas.
Apesar de considerar tais fatores macroeconômicos como responsáveis pela situação atual das big techs, Maróstica não deixa de pesar a responsabilidade das próprias plataformas para sua atual conjuntura econômica e de negócios. Na opinião do professor, investimentos mal direcionados e uma postura acomodada também podem explicar as medidas de retenção de custo.
“As redes sociais e plataformas, de modo geral, não inovam mais. A Meta, por exemplo, fez uma grande aposta de investimento no metaverso, que é algo que ainda não se justificou. Embora elas tenham apresentado alguns recursos diferentes, se olharmos as redes sociais nos últimos anos, seus lançamentos foram mais do mesmo. Além das questões globais de economia, atrelo à falta de inovação essa situação atual”, analisa.
Uma observação importante a ser feita na atual situação das empresas de tecnologia é que esses cortes e reavaliações de metas acontecem pouco tempo depois dessas empresas vivenciaram um crescimento substancial, impulsionado pela pandemia de Covid-19. Como muitos consumidores foram obrigados a passar um longo tempo em casa e tinham o digital como seu principal – e as vezes único – canal para compras e consumo de entretenimento, as plataformas, de forma geral, registraram recordes de acessos nos anos de 2020 e também em 2021.
Essa situação, contudo, acabou trazendo um erro de cálculo na avaliação do professor da FGV. “A pandemia trouxe dois fenômenos digitais: quem já estava presente nas redes e no ambiente da internet consumiu mais e quem não estava, entrou. Mas acredito que houve um erro de análise em acreditar que aquele consumido reprimido, gerado por pessoas que foram às redes sociais para buscar entretenimento e consumo naquele tempo, continuaria com a mesma força na linha do tempo. As pessoas retomaram o consumo, de forma geral, de outras maneiras quando a vida voltou à normalidade”, pontua Maróstica.
Eric Massa observa também que a publicidade digital foi impulsionada durante o período mais crítico da Covid-19 mas não atribui a ela a razão principal das medidas de contenção das plataformas. Na opinião dele, a publicidade no ambiente online ainda tende a crescer, uma vez que as barreiras que algumas pessoas tinham em relação ao uso da internet para compras vem caindo. A questão, segundo ele, é um pouco diferente.
“O que vem diminuindo é o uso das redes sociais. Somos, hoje, uma sociedade menos deslumbrada com as plataformas, diferentemente de alguns anos, quando era normal termos quatro, cinco redes sociais e sermos ativos em todas. Hoje parte da sociedade já tem um olhar mais crítico para essas plataformas e começa a utilizá-las com mais parcimônia. Isso impacta bastante no crescimento dessas empresas, sobretudo aquelas que tinham uma estrutura mais inflada”, analisa Messa.
O coordenador do núcleo digital da Faap acredita que não apenas as plataformas digitais, mas também as empresas de tecnologia e até de outros segmentos econômicos entrem em uma fase de revisão de sua estrutura física e de pessoal, o que pode significar em redução de quadro de funcionários e otimização de gastos. “Isso não é uma questão exclusiva das big techs, mas talvez elas sofram de forma mais drástica por terem crescido rápido demais e, com isso, terem estruturas maiores”, analisa Messa.
Na opinião de Maróstica, da FGV, as startups, por suas estruturas menores, tendem a sair melhor da atual conjuntura econômica e devem absorver, inclusive, parte da mão de obra dos profissionais dispensados pelas bit techs. O professor acredita que muitas demissões ainda podem acontecer e vê 2023 como um período ainda de readequação para essas plataformas. “O normal para essas empresas será ficar com cerca de ¾ do tamanho que elas tinham durante a pandemia. Então, estimo que cerca de 25% dos colaboradores dessas plataformas, em média, devam ser cortados nesse processo de readequação de dimensões, que deve seguir no processo ano, para que essas operações retomem seu ritmo normal a partir de 2024”, projeta.
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