O que explica a atual onda de remakes das novelas?
Profissionais do audiovisual destacam o apelo nostálgico e uma suposta segurança de retorno como as razões para a criação de novas versões de histórias já conhecidas
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Bárbara Sacchitiello
4 de abril de 2024 - 8h00
Embora a Globo não tenha confirmado, até o momento, que fará um remake da novela Vale Tudo, quase diariamente a imprensa especializada em entretenimento – e também o público nas redes sociais – faz especulações sobre quem interpretaria os icônicos personagens em uma versão modernizada do clássico de 1989.
Essa expectativa das pessoas confirma que a onda dos remakes parece ter força para durar mais. Por mais que recontar histórias seja algo comum no cinema, teatro, na televisão e no streaming, nos últimos anos o passado passou a ocupar posição de mais destaque nas estratégicas dos grupos de mídia.
O melhor exemplo dessa aposta é a Globo, que atualmente exibe dois remakes em suas faixas de novelas: Renascer, o segundo produzido para o horário nobre, a parte mais valiosa e rentável de sua programação, e Elas por Elas, que termina nesta sexta-feira, 5.
Alguns anos atrás, os remakes foram responsáveis pelo resgate da fase de sucesso de novelas do SBT. Em 2012, a emissora levou ao ar a versão brasileira da novela Carrossel, sucesso que foi reprisado diversas vezes e rendeu produções para o cinema, musical além de uma série.
Na sequência, o mesmo aconteceu com Chiquititas, produção originalmente exibida nos anos 1990 e que ganhou nova roupagem, com outro elenco e histórias.
Há, pelo menos, dois fatores que podem explicar o forte apelo dos remakes, segundo profissionais de produção ouvidos pela reportagem: a familiaridade do público em relação à enredos já conhecidos e a expectativa de retorno financeiro mais certo.
“É uma tendência de conteúdo nos últimos anos se aproveitar do elemento ‘nostalgia’ em produtos audiovisuais”, diz Allan Lico, vice-presidente de produção e conteúdo da Endemol Shine Brasil.
Como exemplo, o profissional cita séries como Wandinha, da Netflix, e a reunião do elenco de Friends, ambas produções baseadas em sucessos do passado.
Além disso, Lico aponta o lado financeiro. “A pressão pelo retorno, pela otimização de recursos e a competição pela audiência estão maiores e, apostas em algo que já deu certo no passado, é mais seguro do que apostar em novos títulos”, avalia.
Assim como a TV aberta vem aproveitando a onda de remakes de novelas, o streaming também começa a seguir a mesma receita.
O primeiro projeto de novela da Max, streaming da Warner Bros. Discovery, é o remake de Dona Beja, trama de época exibida em 1986 pela TV Manchete. Ainda não há data definida para a estreia da produção.
A Floresta foi a produtora escolhida para realizar o projeto, que tem a atriz Grazi Massafera como protagonista. “É um grande desafio, não apenas pelo volume de horas e o grande número de profissionais comprometidos todos os dias durante o período de gravação, mas também pela responsabilidade de trazer temas de dois séculos atrás, que ainda repercutem e afetam a sociedade contemporânea”, conta Thiago Teitelroit, diretor criativo de ficção da Floresta.
A respeito da atual onda de remakes, o diretor aponta que existem marcos da narrativa humana que são intrínsecos ao desenvolvimento da sociedade. Isso, somado ao contexto do atual período pós-pandêmico, faz com que o resgate de temas e lembranças do passado sejam bem recebidos.
“A partir desse panorama, shows que despertam memórias afetivas possibilitam pontes e o diálogo entre familiares de diferentes idades, valorizando ainda algo já conhecido capaz de transmitir segurança aos espectadores e seus interlocutores, tendem a ser uma escolha assertiva”, analisa.
Sobre o futuro, Teitelroit acredita que sempre haverá espaços para contar, de forma diferente, histórias já conhecidas do público. “Assim como nossa existência, as histórias sempre serão cíclicas”, resume.
Lico, da Endemol Shine Brasil, também vê continuidade na onda dos remakes, já que as produções têm se mostrado eficientes e obtido sucesso perante a audiência.
“A nostalgia está na moda e temos muita oportunidade com essas escolhas”, finaliza.
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