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Olimpíada de 2012 tem sua primeira “medalha”

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Mídia

Olimpíada de 2012 tem sua primeira “medalha”

Jogos de Londres serão os primeiros nos quais as pessoas compartilharão o evento, no mesmo instante, com milhões de outras. Saiba quais são as expectativas e consequências de a mídia social desempenhar esse papel de destaque. Por Tim Lucas (*)


1 de janeiro de 2011 - 12h00

Duas notícias recentes dos próximos Jogos Olímpicos chamaram atenção. A primeira é que o prefeito de Londres, Boris Johnson, anunciou o lançamento de um centro de imprensa perto do Parlamento para milhares de jornalistas, vindos de todas as partes do mundo, que não obtiveram credenciais. Desse modo, eles poderão fazer a cobertura do evento. Esses profissionais trabalharão lado a lado com muitos colegas da capital britânica. Já a segunda dizia que repórteres de jornais locais e regionais (da própria cidade inclusive) ficaram abismados ao descobrir que não teriam acesso à permissão oficial para atuar nos jogos. Em vez disso, terão de recorrer a material fornecido pela Press Association (Associação de Imprensa).

De várias maneiras, a exclusão desses jornalistas reflete o sucesso do evento nos dias atuais e o interesse que se tem por ele no mundo. As formas pelas quais os Jogos são acessados, cobertos pela imprensa e consumidos mudam de uma edição para a outra. Da mesma forma, as Olimpíadas tornaram-se mais do que uma festa do esporte, da cultura e das artes, um evento de mídia.

Os Jogos de 2012 terão uma dinâmica singular de comunicações, com oportunidades e desafios para os atletas, organizadores, canais de mídia tradicionais e inovadores, bem como para as marcas, profissionais de marketing e os consumidores que eles buscam envolver. Para este artigo, conversei com algumas pessoas relacionadas à comunicação de caráter cultural e esportivo envolvida na preparação dos Jogos de 2012. O objetivo foi conhecer as expectativas e consequências das primeiras Olimpíadas em que a mídia social realmente desempenha um papel de destaque.

Para obter informações sobre a cobertura da mídia de importantes eventos esportivos a partir de uma perspectiva histórica, recorri a Flávio Gomes, que, atualmente na ESPN, é um dos jornalistas esportivos com maior experiência no Brasil, já tendo trabalhado para muitos veículos em todas as plataformas, tais como jornais, rádio, TV, além de ter escrito para blogs a respeito de grandes eventos, como os Jogos de Pequim, em 2008. 

Ainda que o acesso a eventos desse tipo esteja se tornando cada vez mais difícil, sobretudo para os profissionais da mídia impressa, Gomes vê com bons olhos a evolução da mídia, que, segundo acredita, está fortalecendo a relação entre os jornalistas e o público em última análise. “Quando comecei, a gente ainda recebia cartas alguns dias após a matéria já ter sido impressa se alguém quisesse fazer comentários sobre o trabalho. Agora, o contato se dá em minutos.”

Gomes também crê que a simples quantidade de informações geradas nesses eventos levou a um aumento da ansiedade de uma parte do público esportivo. “As pessoas não têm tempo de absorver toda essa informação e ficam se preocupando se perderam alguma coisa.” Durante os Jogos de Pequim, o blog de Gomes tinha até 40 mil visitas todo dia. Para ele, muitas dessas pessoas estavam, de forma mais seletiva, buscando um número mais restrito de fontes mais interessantes e confiáveis.

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A variedade cada vez maior de plataformas de mídia e comentaristas também resultou em mudanças na relação dos jornalistas com a criação de conteúdo, uma vez que esses profissionais se sentem estimulados não só a levar mais o leitor em consideração e conferir mais utilidade para sua produção, mas também se tornaram mais abertos e enfáticos em suas opiniões. Eles procuram ter uma voz que se destaque em meio à concorrência cada vez mais acirrada.

Contadores de histórias
Dados da Comscore sobre o uso da internet em 2010 no mundo continuam a demonstrar que o Brasil é o país em que mais se utilizam blogs. A Olimpíada de 2012 terá seu legado nesse sentido graças a uma nova iniciativa da empresa britânica BT. No âmbito de seu patrocínio para os Jogos, ela lançou o programa “Contadores de Histórias da BT”. Após anunciar a novidade em mídias sociais em março deste ano, o serviço de comunicação dos Jogos Olímpicos de 2012 selecionou cem representantes oficiais do evento que serão encarregados de desenvolver conteúdo relatando a história das Olimpíadas de sua própria perspectiva. O grupo inclui celebridades (por exemplo, integrantes da banda Duran Duran), artistas de vários tipos e membros do público geral.

Um dos contadores é um inglês radicado no Brasil. Mark Hillary é diretor-presidente da IT Decisions, uma consultoria de TI, além de blogueiro experiente que cobrirá os Jogos tanto para a BT quanto para a Reuters Sport. Seu objetivo é usar sua experiência com essa mídia na cobertura da Olimpíada, na esperança de aproximar o Reino Unido e o Brasil, país-sede da edição de 2016. Hillary acredita que os blogs esportivos, bem como os outros em geral, mudaram de maneira profunda nos últimos dez anos, deixando de ser ferramentas utilizadas por nerds e fãs do esporte e chegando a um ponto em que o blogueiro “amador” produz conteúdo e design do mesmo nível do blog de muitos veículos tradicionais e estabelecidos.

Quando perguntei sobre o valor do programa para a marca da BT, Hillary respondeu que ele “permite que a empresa, que não se direciona a nenhum estilo de vida em particular e, em grande medida, não é voltada ao consumidor final fora do Reino Unido, crie um conteúdo interessante, de alcance global, que associe os profissionais a um evento de grande sucesso, além de possibilitar que a BT influencie gente de importância em toda a sua rede mundial de negócios.”

#media2012

Além dos blogueiros oficiais dos Jogos, que terão acesso aos atletas, há uma série de pessoas para as quais a Olimpíada será uma oportunidade de mostrar as experiências do público e seu efeito em nossa relação com o movimento olímpico e a mídia em geral. A rede de mídia dos cidadãos (#media2012) é um projeto que reúne um grupo de acadêmicos e ativistas do campo da mídia de todo o mundo. Como organizadora das atividades no Reino Unido, Jennifer Jones explicou que o Media 2012 representará um ponto central para milhões de participantes dos Jogos, com a expressão de suas opiniões nas mídias sociais durante o evento.

A organização gostaria que o COI fosse mais aberto ao trabalho com as ferramentas e valores expostos nas mídias sociais para ter um novo legado de mídia para os Jogos de 2012. Durante a Olimpíada de Londres, veremos uma evolução das atividades que se iniciaram nos Jogos de Inverno de 2010, em Vancouver, nos quais muitos pontos de mídia acessíveis a todos foram criados para oferecer a jornalistas estrangeiros não credenciados uma base a partir da qual pudessem não só cobrir os Jogos, mas também compreender tanto o ponto de vista da população local como as mensagens oficiais dos organizadores e patrocinadores.

O Media 2012 vai concentrar as opiniões dos cidadãos do Reino Unido e possibilitar que se desenvolva um ponto de vista mais crítico dos Jogos. Porém, como Jennifer também salientou, um dos maiores sucessos do programa é a construção de uma ponte entre a mídia tradicional e a não profissional, com alguns participantes desta, posteriormente, passando a trabalhar como jornalistas nas grandes empresas do setor.

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Atletas fazem o “direto da fonte”

Uma das maiores novidades dos últimos anos foi o advento do atleta blogueiro e microblogueiro. Em uma parceria única nas mídias sociais, o Esporte Interativo anunciou recentemente que trabalhará, antes e durante os Jogos Olímpicos, com 25 atletas brasileiros, incluindo Fabiana Beltrame e Maurren Maggi, que farão postagens no Facebook e Twitter de fora da Vila Olímpica (as regras do COI proíbem postagens direto desse local), utilizando os iPod Touch fornecidos pela empresa.

Esse projeto singular de cogeração de conteúdo estava programado para começar no sábado 1º. Ele prosseguirá durante os meses de treinamento, inclusive nos Jogos Pan-Americanos, e permitirá ao Esporte Interativo traçar o perfil dos atletas brasileiros antes dos jogos, bem como desenvolver um conteúdo único para os diversos canais da empresa. Sérgio Lopes, vice-presidente comercial do canal, explicou que a empresa reconheceu que 2012 será a Olimpíada da mídia social e, mais do que nunca, os fãs querem ter acesso direto a seus ídolos. Além dos ganhos financeiros, provindos do patrocínio do programa, os atletas também se beneficiarão da experiência do Esporte Interativo no trabalho com esses profissionais nas mídias sociais e sua compreensão sobre o conteúdo e o público esportivo na cena digital em evolução.

Experiências compartilhadas

É provável que a atividade em torno dos Jogos venha a se voltar mais para os telespectadores e a interação em tempo real, mas também para o aprimoramento da experiência de assistir aos esportes dentro do estádio e para o aproveitamento das informações e imagens geradas pelo público que acompanha ao vivo, no local, grandes momentos olímpicos, como a final dos cem metros livre.

Será a primeira Olimpíada na qual as pessoas compartilharão o evento, no mesmo instante, com milhões de outras. Como ressaltou Fabio Kadow, da agência 9ine e do blog Jogos de Negócios, há hoje uma série de casos, sobretudo nos EUA (NFL e Nascar), nos quais os espectadores no estádio utilizam dispositivos móveis para personalizar experiências que podem compartilhar posteriormente. Isso, combinado com a presença esperada de grandes números de espectadores no Reino Unido, cria muitas oportunidades para as marcas e mídias se tornarem os fornecedores das ferramentas pelas quais o público possa interagir e compartilhar suas experiências durante a Olimpíada. Seja como for, os Jogos de Londres gerarão uma quantidade maior de textos, imagens, opiniões e compartilhamentos do que qualquer outro evento esportivo antes deles.

No verão londrino, que promete ser agitado, o que é preciso fazer para ser ouvido? Voltando à sabedoria de Flávio Gomes, acostumamo-nos, como ele afirmou, a descrever os leitores ou visualizadores como “seguidores”, mas, na verdade, os bons comunicadores, sejam blogueiros, jornalistas ou marcas, sempre buscaram a relevância, a confiança e a utilidade no conteúdo que oferecem a seu público. As novas ferramentas de mídia apenas forneceram mais possibilidades de interação a esses comunicadores e mais escolhas aos consumidores com relação ao momento no qual esse conteúdo é acessado e compartilhado e a maneira pela qual isso é feito.
O London Calling tem sua própria página no Facebook, na qual publicamos conteúdos e comentários vindos do Brasil e do Reino Unido diariamente. Você está convidado a nos visitar em www.facebook.com/LDNCalling2012.

*Tim Lucas é sócio diretor da The Listening Agency – tim@thelisteningagency.com.

A íntegra desta reportagem foi publicada na seção London Calling da edição 1478 de Meio & Mensagem.

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