Os fatos que marcaram a Mídia em 2019
Mudanças na Ancine e consolidação da Globo em uma única empresa estão entre os destaques da indústria no ano
Mudanças na Ancine e consolidação da Globo em uma única empresa estão entre os destaques da indústria no ano
Meio & Mensagem
17 de dezembro de 2019 - 6h00
Como um desdobramento dos processos históricos que encerraram o ano anterior, 2019 foi repleto de fatos que transformaram o horizonte social, político e econômico, com impactos para a indústria da comunicação.
Confira abaixo os assuntos de Mídia que foram destaque nas plataformas de conteúdo de Meio & Mensagem ao longo do ano. A lista foi definida pela redação, sob critérios editoriais:
Ancine: nova gestão, congelamentos e denúncias
Uma série de mudanças afetou o funcionamento da Agência Nacional de Cinema (Ancine) ao longo de 2019, refletindo diretamente no mercado audiovisual brasileiro. O ano começou com a agência sendo questionada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) a respeito da prestação de contas dos projetos incentivados. O imbróglio levou a Ancine a paralisar os investimentos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), ato que gerou uma mobilização de entidades do setor, como Bravi, Sicav e Siaesp. Com um planejamento em curso para se ajustar demandas do órgão, as atividades da instituição foram retomadas. Ainda assim, a agência esteve no foco do Governo Federal ao longo do ano. Em novembro, Christian de Castro, então diretor-presidente, foi afastado por denúncias de irregularidade na gestão. Após afirmações do presidente Jair Bolsonaro de que a Ancine poderia ser transferida do Rio de Janeiro para Brasília, passou a ter como presidente interino Alex Braga, que se envolveu em recente polêmica quando exigiu a retirada de todos os pôsteres de produções do cinema brasileiro das paredes da sede da agência, assim como de seu site.
Globo unifica operações em conglomerado de mídia
“A experiência digital mudou muito a maneira como o público consome mídia, conteúdos e serviços, e nós mudamos junto.” A frase de Jorge Nóbrega, presidente executivo da Globo, sintetiza o propósito da reestruturação da maior companhia de mídia da América Latina. A partir de 2020, parte das operações da Globo (TV aberta, TV paga, digital, streaming e música) estarão abrigadas em uma mesma companhia, sob uma nova configuração de gestão – que terá em Paulo Marinho, Carlos Henrique Schroder, Eduardo Schaeffer e Erick Brêtas algumas das principais lideranças. O processo de transformação, iniciado em 2018 com a contratação da consultoria da Accenture, tornou-se ainda mais iminente em agosto, quando o grupo apresentou o MG4, novo complexo de estúdios que abrigará produções para todas as janelas e marcas da casa. O ano de 2019, coroado com o reconhecimento no Caboré na categoria Produtor de Conteúdo, também termina com a garantia da negociação dos patrocínios dos principais projetos comerciais da TV aberta (futebol, Fórmula 1 e Carnaval) para 2020.
Chegada da CNN agita jornalismo brasileiro
Em janeiro deste ano, Douglas Tavolaro, então vice-presidente de jornalismo da Record, anunciou sua saída da emissora para encabeçar um novo projeto: a construção da CNN Brasil, canal licenciado da tradicional marca jornalística, com apoio financeiro de Rubens Menin, fundador da MRV Investimentos. Embora a promessa de lançar a emissora ainda em 2019 não tenha se cumprido, já são visíveis os impactos gerados pelo novo veículo no mercado jornalístico, sobretudo na contratação de executivos e jornalistas de empresas concorrentes — como Anthony Doyle (ex-Turner); Marcus Vinicius Chisco (exRecord); Monalisa Perrone (ex-Globo) e Daniela Lima (ex-Folha e TV Cultura). Tanto a sede do canal, localizada na Avenida Paulista, em São Paulo, como os escritórios do Rio de Janeiro e de Brasília, já estão prontos, com a equipe trabalhando na produção do conteúdo que irá ao ar em março de 2020, novo prazo para a estreia do canal. Além do sinal em TV paga (já acordado com a Claro), a CNN também promete conteúdo em plataformas digitais.
TV experimenta novos formatos com marcas
A fronteira que divide entretenimento e comercial ficou ainda mais porosa na TV em 2019. Pela primeira vez, a Globo permitiu que um personagem de novela fosse protagonista de uma campanha publicitária. O feito aconteceu com Vivi Guedes, interpretada por Paolla Oliveira em A Dona do Pedaço. A influenciadora digital da ficção tornou-se uma grande fonte de receitas para a casa ao protagonizar ações de merchandising para Fiat, Avon, Duty Cosméticos e outras marcas. A novela de Walcyr Carrasco, aliás, foi um laboratório para novas concepções de formatos publicitários, nos quais cenas da trama emendavam com breaks comerciais, amarrando narrativa, atores e contexto. A emissora também passou a comercializar inserções de seis, dez e 15 segundos em todas as suas praças, além dos clássicos 30 segundos. Além da dramaturgia, essa flexibilidade se refletiu na área esportiva, com a participação de narradores e comentaristas em ações de merchandising e em uma inédita negociação e naming rights com a Coca-Cola, que batizou o especial de Natal da Globo com seu slogan “Juntos a Magia Acontece”.
E-sports entram de vez na era dos negócios
A expectativa é de que a indústria global de e-sports feche 2019 em mais de US$ 1 bilhão em receitas, segundo a consultoria NewZoo. Em retrospecto, o ano brasileiro é prova dessa força. Em janeiro, o Grupo Globo anunciou uma parceria com a dinamarquesa RFRSH Entertainment para a realização do torneio internacional de Counter-Strike, o Blast Pro Series. Posteriormente, o grupo investiu em torneios universitários e novas ligas, na Game XP, e na realização de mais uma edição do Prêmio eSports Brasil. Por fim, reuniu em sua plataforma Player1 a possibilidade de que jogadores amadores e semiprofissionais se encontrem em ligas e torneios. Os anunciantes acompanharam o ritmo. A Unilever criou a Unilever Esports, área que busca oportunidades no ecossistema gamer e já produziu cases com Clear e Ben & Jerry’s, por exemplo. A Claro lançou uma plataforma com serviços customizados para gamers e a Cheil investiu na contratação de um game specialist. Além disso, outras marcas passaram a direcionar estratégias ao mundo dos games, como BMW, Louis Vuitton e Adidas.
Tensões governamentais: BV e publicidade legal
No início de seu mandato, o presidente Jair Bolsonaro declarou que era contra a prática da bonificação por volume (BV) — bônus pago pelos veículos às agências de publicidade, contemplada nas regras de autorregulamentação do Conselho Executivo das Normas-Padrão (Cenp). Rapidamente, a Associação Brasileira de Publicidade (Abap) reagiu, prometendo dialogar com o Governo Federal para detalhar as regras que regem a compra de mídia no Brasil. Em setembro, Bolsonaro voltou a tocar no assunto, dizendo que poderia criar uma Medida Provisória (MP) para alterar a distribuição de verbas publicitárias. Não foi apenas nesse caso que o Governo Federal voltou sua atenção para a remuneração comercial dos veículos. Em agosto, o presidente editou uma MP desobrigando as empresas de capital aberto a publicar balanços financeiros nos jornais impressos. Criticada pela Associação Nacional de Jornais pelo impacto negativo que causaria nas finanças das publicações, a medida foi, posteriormente, rejeitada por uma comissão da Câmara dos Deputados.
Desacordo leva IAB a romper com Cenp
Em julho deste ano, o Interactive Advertising Bureau (IAB Brasil) enviou uma carta ao Conselho Executivo de Normas-Padrão (Cenp), comunicando sua desassociação da entidade. No documento, assinado pela presidente do IAB, Ana Moisés, a razão alegada foi o fato de a entidade não ter direito a voto no Conselho do Cenp, o que limitaria a participação dos players de publicidade digital em importantes decisões do mercado, segundo a executiva. A saída do IAB foi formalizada dias depois de o Cenp aprovar uma nova resolução que considerada como veículo de comunicação “todo e qualquer ente jurídico individual que tenha auferido receitas decorrentes da sua capacidade de transmissão de mensagens de publicidade”, o que engloba empresas como Google, Facebook e Twitter. Em tese, a definição faria com que esses players fossem subordinados às mesmas medidas estabelecidas pelo Cenp a outros veículos associados. No vácuo da tensão com o IAB, outra entidade represente do segmento, a Associação Brasileira dos Agentes Digitais (Abradi) procurou o Cenp, em novembro, para associar-se.
Publishers e marcas investem em podcasts
Política, cultura pop, saúde, cinema, novelas, feminismo, negócios. Não faltaram assuntos para serem explorados pelos podcasts em 2019. O áudio digital, que já vinha numa crescente, foi impulsionado ainda mais, em grande parte a partir do investimento de grandes players de mídia, que descobriram nos fones de ouvido da audiência um novo canal para passar sua mensagem e ampliar o engajamento. Globo, HBO, TV Cultura, Netflix, UOL, Estadão e até marcas, como Natura, Bradesco, Itaú e Volkswagen passaram a produzir podcasts. Além de ser uma nova fonte de entretenimento e informação, o formato fomenta o mercado de produtoras de áudio, o segmento de streamings musicais (como Spotify) e a receita publicitária. Vem provocando também novos hábitos na audiência: em maio, uma pesquisa realizada pelo Ibope mostrou que 40% dos usuários de internet no Brasil (cerca de 50 milhões de pessoas) já haviam escutado algum podcast. E sinalizou o horizonte promissor, uma vez que 39 milhões de pessoas ainda não ouviram falar desse formato de áudio.
Os likes no debate sobre saúde mental
Em julho deste ano, o Instagram anunciou que daria início a testes para ocultar os números de curtidas nas fotos dos usuários. Utilizado como parâmetro de influência — e, muitas vezes, como valor de mercado — de personalidades e de marcas no Instagram, o like começou a ser analisado sob diferentes ângulos em 2019. De acordo com o Facebook, a decisão tinha a proposta de fazer os usuários focarem menos nos números e mais no conteúdo postado. A medida suscitou debates sobre o papel das redes sociais para a saúde mental da população, sobretudo dos jovens, que veem nas curtidas, compartilhamentos e engajamentos uma espécie de termômetro de aprovação perante a sociedade. O Facebook já anunciou que vem fazendo estudos para também ocultar de sua timeline as informações de interação. Já para os influenciadores e marcas, a eliminação da visualização das curtidas trouxe a discussão a respeito de novas formas de engajamento e de como os creators podem, com o apoio das marcas, manter uma conexão mais próxima e saudavel com a sua audiência.
Leis de proteção de dados pressionam players digitais
O uso indevido de dados pessoais cobrou um preço alto de grandes players de tecnologia em 2019. Em julho, a Comissão Federal de Comércio, órgão de defesa do consumidor nos Estados Unidos, fez um acordo com o Facebook valendo uma multa de US$ 5 bilhões — a maior já aplicada a uma empresa naquele país. A punição foi dada após um ano de investigações, que mostraram que a rede social repassou indevidamente informações de seus usuários à consultoria Cambridge Analytica. Em março, o Google também foi punido pela União Europeia por práticas ilegais na venda de anúncios publicitários. Foi a terceira vez que a gigante recebeu uma punição financeira da UE, em multas que somaram US$ 9 bilhões. A fiscalização sobre a proteção de dados e informações das empresas deve ganhar mais destaque em 2020 já que, em agosto, entra em vigor a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, sancionada em 2018. Neste ano, o governo federal anunciou a criação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), órgão que irá editar e fiscalizar o cumprimento das normas da legislação do setor no País.
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