Os rumos do Twitter sob as pressões do megainvestidor
Aumento da participação do fundo Elliot, questionamentos quanto à gestão do CEO Jack Dorsey e ano eleitoral nos EUA agitam a cúpula da plataforma
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Luiz Gustavo Pacete
3 de março de 2020 - 6h51
O futuro do Twitter voltou a ganhar destaque nos últimos dias após o Elliott Management assumir participação considerável nas ações da plataforma. De acordo com a Reuters, o fundo, com sede em Nova York e US$ 40 bilhões em ativos, passou a ter quatro integrantes no conselho da empresa. O fundo, conduzido pelo bilionário republicano Paul Singer, possui algumas demandas em relação à cúpula do Twitter sendo a principal delas a substituição do CEO Jack Dorsey.
A movimentação é emblemática e ocorre em um momento importante do Twitter. Avaliada em aproximadamente US$ 30 bilhões, no último trimestre de 2019, a companhia alcançou seu primeiro bilhão de dólares. Além disso, se tornou um meio de comunicação vital e crítico para as eleições americanas que ocorrem este ano. Apesar de sua relevância, no entanto, a empresa ainda fica atrás em termos de inovação, segundo os investidores que exigem a saída de Dorsey. Além disso, o fato de o cofundador conduzir duas empresas ao mesmo tempo – ele também é CEO da Square – aparece como preocupação por parte dos investidores.
Em dezembro do ano passado, Scott Galloway, professor da Universidade de Nova York, redigiu uma carta sobre as preocupações relacionadas ao futuro da plataforma, o que incluía a corrida pela inovação e desafios políticos. É a segunda vez que Dorsey assume o comando da plataforma. Em 2008, ele foi substituído por Evan Williams, cofundador, que, na ocasião, apontou que “Dorsey não estaria focado na rentabilidade da empresa”. Williams acabaria por ser substituído na liderança do Twitter anos depois. Criada em 2006, a empresa teve seu primeiro lucro apenas em 2018.
Eric Messa, coordenador do Núcleo de Inovação em Mídia Digital da FAAP, explica que investidores ativistas como Paul Singer representam apenas um elemento do contexto complexo do ecossistema de investimentos. “O anúncio em novembro de que a plataforma não iria mais aceitar propaganda política é aparentemente um dos motivos que preocupa Singer, especialmente com a proximidade das eleições americanas. Singer sabe da importância que a plataforma teve (e continua tendo) para a promoção do presidente americano Donald Trump”, diz Messa.
“Do ponto de vista da Elliot, é difícil justificar que o CEO do Twitter seja também CEO de outra empresa (Square), que teve uma valorização de 390% no preço de suas ações nos últimos três anos, contra 110% das do Twitter. Dorsey tem U$ 4 bilhões em participação na Square, contra pouco mais de U$ 400 milhões no Twitter. É claro que isso sugere uma falta de foco, reforçada pelas comparações com os resultados do Facebook: crescimento muito mais lento e, principalmente, pouco mais da metade da receita por usuário”, pontua Marcelo Coutinho, coordenador do mestrado profissional em administração da FGV.
Uma eventual saída de Dorsey, segundo Coutinho, tem um impacto “intangível”, mas tudo depender do nome do sucessor escolhido. “Seja quem for, terá uma missão clara: ampliar a base de usuários e aumentar a receita por usuário de forma simultânea, confiando em que as diferenças entre as duas plataformas, principalmente no que se refere a sua credibilidade do ponto de vista de privacidade e responsabilidade com o debate público, sejam suficientemente claras para atrair mais usuários, por mais tempo, influenciando as decisões de investimento dos anunciantes”, afirma Coutinho.
Eduardo Tessler, jornalista e consultor, concorda que a ameaça do novo sócio majoritário do Twitter, Paul Singer, de demitir o cofundador e CEO Jack Dorsey está diretamente ligado ao contexto das eleições nos EUA. “Dorsey foi aquele que no ano passado recebeu elogios de Hillary Clinton ao dizer que não permitiria mais que o Twitter fosse utilizado como instrumento político – como foi nas eleições de Donald Trump. Só que Singer além de investir em empresas como o Twitter, também financia campanhas do Partido Republicano – o mesmo de Trump, o que torna a interferência estratégica-política no Twitter um problema.”
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