Para as marcas o Facebook já morreu?
Apesar das dúvidas sobre o futuro da plataforma, anunciantes mantêm frequência de publicação no Brasil; no exterior, empresas começam a abandonar a rede
Apesar das dúvidas sobre o futuro da plataforma, anunciantes mantêm frequência de publicação no Brasil; no exterior, empresas começam a abandonar a rede
Luiz Gustavo Pacete
26 de março de 2018 - 7h07
O escândalo do uso de dados dos usuários do Facebook para fins políticos já rendeu uma perda de US$ 74,6 bilhões em valor de mercado da plataforma. Na última semana, as ações da empresa caíram 13,89% segundo a Bloomberg News.
E os prejuízos do escândalo envolvendo a plataforma e a consultoria Cambridge Analytica vão além das cifras. Algumas marcas já começaram a sinalizar que podem deixar de investir em publicidade no Facebook. Outras, já o fizeram.
Ainda que o fundador da plataforma, Mark Zuckerberg, tenha se pronunciado na última semana sobre o caso e prometido iniciativas para melhorar a segurança de dados de usuários da plataforma, a desconfiança é generalizada.
Várias marcas já se pronunciaram anunciando que estão deixando de investir na plataforma. A Mozilla, dona do navegador homônimo, a fabricante de equipamentos inteligentes Sonos e o banco alemão Commerzbank tiraram o Facebook de suas estratégias de marketing digital.
A ISBA, entidade britânica que reúne agências de publicidade que atendem clientes como McDonald´s, Adidas, Unilever e outros, se reuniu com executivos do Facebook para pedir mudanças na plataforma.
Em meio a um dos piores momentos da história do Facebook, no entanto, as marcas que atuam no Brasil continuam tocando a vida e seguem com suas estratégias na plataforma.
O sinal de alerta traz algumas reflexões para quem trabalha com a estratégia digital de grandes anunciantes.
Segundo Lúcio Freitas, diretor de estratégia e interatividade da Talent Marcel, um dos motivos que permitiu o Facebook se consolidar como um parceiro estratégico junto às agências e marcas foi sua oferta ampla de soluções de mídia, capaz de conciliar grande alcance e altíssimo nível de segmentação.
“Isso não mudou. Portanto, dessa perspectiva, a plataforma continua sendo uma ferramenta importante para o atingimento dos KPIs de comunicação das marcas”, afirma Freitas. No entanto, ele ressalta que a Talent “e todo o mercado observa atento às movimentações em torno da empresa, uma vez que, variáveis como transparência e segurança são hoje tão essenciais quanto números audiência”.
A atenção das agências não ocorre somente em função das crises recentes do Facebook, mas das novas mudanças de algoritmo da plataforma aplicadas no início deste ano e que privilegia conteúdo de amigos em detrimento de marcas e publishers. Para Henrique Russowsky , sócio e diretor de mídia da Jüssi, o Facebook representa uma parcela significativa dos investimentos, já que a plataforma ainda apresenta alto consumo e penetração.
“A princípio, não esperava uma oscilação em alcance, pelo menos no curto prazo, a qual realmente não ocorreu. Por outro lado, esperava, sim, um aumento do CPC (custo por clique) devido a uma potencial redução do inventário: uma vez que o Facebook reduz o alcance de conteúdo de notícias. Analisando os resultados iniciais, vemos um aumento do CPC de janeiro a março. No entanto, esse aumento também foi observado nos anos anteriores. Portanto, não há nenhuma conclusão sobre mudanças efetivas pós mudanças no algoritmo”, afirma Russowsky.
De acordo com Rodrigo Soriano, CEO da Airfluencers, as marcas terão um desafio após a crise no Facebook em aumentar a qualidade do conteúdo. “Houve um investimento muito grande de mídia ao longo dos anos para criar base de fãs e audiência. A partir do momento que você tem o questionamento de credibilidade de plataforma, acaba se tendo uma retração de usuários, porém não acredito que isso venha acontecer de imediato. O que será muito cobrado é a qualidade das informações que as páginas das marcas produzem”, afirma.
Rafael Grostein, sócio-fundador e diretor de conteúdo do canal Desimpedidos, afirma que, na estratégia recente do Facebook de estimular produtores de conteúdo a estarem mais presentes na plataforma, sobretudo em vídeo, houve um aumento de importância da rede na estratégia, no entanto, ele tende a ser cada vez mais reduzido em função de todos os fatos recentes.
Facebook: descurtir?
“Desde o lançamento da nossa empreitada escolhemos o YouTube como principal plataforma. É bem verdade que entre 2014 e 2016 com todo esforço para estimular que seus usuários passassem a produzir criações originais em vídeo o Facebook ganhou espaço em nossa estratégia de construção de audiência. Porém, nos últimos 18 meses, com todos os problemas de reputação que a empresa enfrentou e também com as repetidas mudanças realizadas nos algoritmos, a rede perdeu espaço principalmente para o Instagram. A mensagem é clara: não dá para depender de apenas uma plataforma.”
*A pedido de Meio & Mensagem, a Airfluencers mapeou os perfis de marca no Facebook com maior número de seguidores e a atividade desses perfis nos últimos noventa dias. Algumas marcas como o McDonald´s, por exemplo, segue a atividade em ritmo acelerado. Já outras como a Adidas e Nike mantêm uma atividade reduzida.
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