Para seguir em frente, Anima Mundi realiza crowdfunding
Após perda de patrocínio da Petrobras, festival faz crowdfunding internacional para colocar próxima edição de pé
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Teresa Levin
20 de maio de 2019 - 7h48
O Anima Mundi é um dos marcos da animação brasileira, fomentador de projetos, criador de audiências e principal plataforma da exibição de produções desta técnica no País. Mas, faltando menos de dois meses para sua 27a edição, o festival está em um dos momentos mais adversos de sua trajetória. Contando com mais de 20 anos de patrocínio da Petrobras, que chegou a envolver cotas de até R$ 1,4 milhão, o evento perdeu este aporte em 2019 e busca formas alternativas para continuar.
Um projeto que envolvia uma busca de verbas além do patrocínio de estatais já estava em curso, explica Fernanda Cintra, diretora executiva do Anima Mundi. Apesar dessa reestruturação, o corte de seu principal patrocinador colocou o Anima Mundi em posição delicada e movimentou a equipe a tentar um crowdfunding internacional para que colocá-lo de pé, em uma parceria com o Benfeitoria. Confira a seguir trechos de entrevista com Fernanda na qual ela detalha o que vem sendo feito para que o festival continue seu trabalho como principal plataforma da animação no Brasil.
Meio&Mensagem – Como a retirada do patrocínio da Petrobras impactou o Anima Mundi?
Sabíamos que este risco existia mas foi repentino, estávamos em negociação com eles até o final do ano passado e com isso tivemos que acelerar o passo. Já tínhamos o plano de fazer um financiamento coletivo recorrente, mas ele virou pontual para colocar o festival de pé. Fomos para o tudo ou nada em 45 dias. Não há como um festival pular uma edição, falamos sobre tendências, recebemos 1.800 filmes, temos responsabilidade de apresentar esta obra. O Anima Mundi integra um circuito internacional, não acontecer impacta todo este circuito. Ele foi criado em 1993 justamente em um momento difícil do audiovisual, por quatro animadores. Deu espaço para que a linguagem da animação fosse apresentada de maneira mais ampla para o público brasileiro.
Qual o impacto que ele teve no fortalecimento da animação brasileira?
Ele ganhou muita representatividade por ser algo novo, esteve a frente da formação de plateia. Com isso os criadores do evento começaram a buscar outras atividades dentro do festival, para que o público até entendesse o que estava vendo. Já no segundo ano chegaram as oficinas, com técnicas como massinha, areia, desenho etc. Elas deram a oportunidade a jovens talentos, delas saíram vários animadores. O Carlos Saldanha conta que tem 25 anos de animador e 26 de Anima Mundi, ele foi apresentado à animação no festival.
Com este movimento, o Anima Mundi extrapolou o festival, certo?
Outras atividades foram surgindo, diferentes vertentes foram sendo criadas fora do Festival. Ele se tornou uma plataforma com a missão de integrar a animação na sociedade. Temos projetos, por exemplo, como o Anime Escola, que capacita professores de escolas públicas para trabalharem com animação dentro da sala de aula. Em 17 anos, ele já capacitou mais de 2.500 professores e atendeu mais de 15 mil alunos. Já o Anima Fórum é um encontro de mercado, e hoje um dos principais agentes da indústria, discute tendências e é onde novas parcerias são formadas, é uma oportunidade para o desenvolvimento do mercado brasileiro. Tanto que este ano divulgaremos os resultados do primeiro mapeamento do setor de animação no Brasil. Ele vem em um crescimento acelerado, nos últimos dez anos cresceu mais de 100%, é importante mapear e entender, para termos uma cadeia de ações e organização consistente para lidar com este crescimento, entendendo as lacunas e oportunidades.
Estão procurando formas alternativas de manter o Anima Mundi, além do patrocínio estatal?
O Anima Mundi foi absolutamente movido pela paixão de quatro animadores. Desde 2017, eles começaram a pensar em caminhos para continuidade. Tendo em vista mudanças do cenário, com o desenvolvimento da animação, muitas das funções do Anima Mundi começaram a ser repensadas. Minha entrada no começo de 2018 tem a ver com isso. Pensamos em como reestruturar internamente para reposicionar o Anima Mundi, hoje um instituto com diversas funções, e não só um festival. Entendemos que precisaria uma reestruturação interna e uma gestão profissionalizada para abrir outras formas e caminhos de expansão. Foi feito um planejamento estratégico para os próximos três anos e nele já tínhamos apontado que o instituto precisaria de outras formas de seguir, mesmo sem uma política pública consistente e estruturada no Brasil, teria que encontrar como se auto sustentar. O financiamento coletivo estava no nosso plano porque o Anima Mundi é um movimento, rede, tanto de profissionais da indústria, quanto de fãs. Pensamos em um financiamento coletivo recorrente como se fosse um Netflix, o público poderia assinar um valor por mês e ter uma troca mais de perto. Também pesquisamos para criar fundos de financiamento e endowment, procurar patrocínios privados. Começamos tatear outras possibilidades em 2018 sabendo que processo de reestruturação interno demora dois a três anos. Agora partimos para o financiamento pontual, tudo ou nada. Só a Petrobras respondia por 35% do orçamento do festival, não do instituto. Paralelamente a este processo, continuamos com a área de gestão de parcerias falando com empresas, principalmente privadas, sobre a importância do Anima Mundi, estamos investindo em diversas estratégias. Estúdios parceiros, festivais internacionais, e outros parceiros na indústria nacional e internacional estão fazendo doações para o festival. Também temos parcerias com embaixadas como a da França, que esta ajudando a trazer convidados internacionais.
Está no horizonte recuperar linhas perdidas de financiamento do instituto e do evento?
É importante dizer que não podemos isentar o poder público de responsabilidades, até as que temos como sociedade. Estamos vivendo um dia após o outro e a ideia é dar continuidade ao financiamento recorrente, para que isso vire um movimento, uma rede. E que ela faça o festival com a gente nos próximos anos. Temos que ser um agente de transformação, de maneira mais ativa. Também estamos vendo a possibilidade de endowment a médio prazo, temos conversado com o BNDES. E procuramos oportunidades e parcerias privadas. O Brasil tem uma característica de se reinventar e os que trabalham com cultura e educação entendem que precisam continuar. Não podemos deixar de fazer o que fazemos há tantos anos. Temos consciência da importância que temos na cadeia e vamos achar caminhos para continuar.
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