Paywall no Facebook é demanda antiga dos veículos
A possibilidade de a plataforma implantar o conteúdo pago no Instant Articles mostra uma mudança de estratégia em como ela lida com os publishers
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Luiz Gustavo Pacete
21 de julho de 2017 - 8h18
A notícia de que o Facebook estaria estudando o desenvolvimento de um modelo de paywall para publishers no Instant Articles ventilou com bastante desinformação. Após Campbell Brown, head de novos negócios da empresa, contar ao site de notícias TheStreet que estava nos planos a cobrança no Instant Articles, muitos sites deram que o Facebook cobraria por qualquer notícia. Apesar dos desencontros que ela causou, a informação é importante já que sinaliza um novo posicionamento da plataforma em relação à monetização de conteúdo.
A medida, segundo Campbell, é uma das respostas do Facebook às reclamações sobre a falta de sensibilidade da empresa com as receitas de veículos. Recentemente, a News Media Alliance encaminhou ao congresso americano um pedido de revisão de suas leis antitruste de forma que a entidade possa representar centenas de jornais na negociação com plataformas. Meio & Mensagem apurou que a iniciativa do Facebook é uma demanda antiga dos veículos que pediram à plataforma um modelo de negócios de cobrança. Em nota, o Facebook Brasil afirma que está em conversas iniciais com diversas organizações de mídia sobre como pode dar melhor suporte aos modelos de negócio por assinatura. A previsão é que, até outubro, sejam iniciados os testes e, até 2018, o modelo comece a vigorar.
“Sem paywall, a gente não abre nosso conteúdo no Facebook”, diz Sérgio Davila
Em comunicado divulgado na noite desta quinta-feira, 20, o Facebook anunciou um balanço sobre os seis primeiros meses do projeto Facebook para Jornalismo. A empresa informou que o Instant Article paga mais de US$1 milhão por dia para os veículos de mídia via Facebook Audience Network e, nos últimos 6 meses, a receita por cada mil visualizações a partir do Facebook Audience Network em Instant Articles aumentou mais de 50%. “Estamos entusiasmados com esse momento e continuaremos a investir no Instant Articles: mais de 10 mil veículos em todo o mundo usam o formato, com um crescimento de 25% apenas nos últimos seis meses. Hoje, mais de um terço de todos os cliques para artigos no Facebook são para Instant Articles”, informa a empresa.
Sérgio Dávila, editor-executivo da Folha de S.Paulo, explica que o jornal não estava no Instant Articles justamente pela ausência do paywall. “Sem essa possibilidade, a gente não abre nosso conteúdo. Apesar de as informações serem incipientes parece que, de fato, eles vão passar a aceitar”, diz Dávila.
Luciana Bazanella, profissional com passagens pela AG2 Nurun e atualmente consultora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que com tal atitude o Facebook sinaliza que enxerga o conteúdo jornalístico como forma de adicionar novas receitas.
“Facebook está dando uma colher de chá aos veículos que usam paywall”, diz Caio Túlio Costa.
“Parece que o ‘it’s free and will always be’ do Facebook não resistiu aos novos tempos. A implementação do paywall no Facebook consolida a plataforma como um uber veículo de comunicação da nova era, um hub para audiência acessar publishers a partir da lógica do seu algoritmo. A polêmica medida certamente enfrentará resistência do público, mas o que mais podemos depreender deste movimento? ”, diz Luciana.
“Jogo no Facebook é complemento”
Segundo Luciana, já se sabia que a restrição do inventário do Facebook iria pressionar a companhia a buscar fontes de receitas nas plataformas (messenger, instagram, whatssapp), mas a movimentação no sentido do modelo de assinaturas certamente tem a ver com a pressão de diversas áreas da sociedade com a disseminação de notícias falsas. “Fala-se abertamente sobre como a eleição de Trump foi influenciada pelas fake news e entidades como a Associated Press estão trabalhando em coletivos para melhorar a qualidade da informação que circula na rede. O Facebook agora tenta achar uma forma de dividir com os publishers o bolo da exploração deste conteúdo através da criação de novas receitas, e assim não ter que mexer no bolso. Resta saber se a audiência vai comprar essa ideia”, completa Luciana.
“Leitores não substituem o ombudsman”
Carlos Eduardo Lins da Silva, ombudsman da Folha de S.Paulo de 2008 a 2010, reforça que a notícia é um passo na direção certa na medida em que valoriza o conteúdo jornalístico outrora desvalorizado no mundo digital. Caio Túlio Costa, fundador da empresa Torabit, acredita que, apesar da desinformação envolvendo a notícia de que o Facebook iria cobrar por qualquer conteúdo jornalístico, a incorporação do paywall dos publishers na plataforma vai permitir que os jornais cobrem. “O Facebook está dando uma colher de chá aos veículos que usam paywall”, diz Túlio Costa.
Para Ana Brambilla, especialista em conteúdo digital, paywall já não faz sentido em site jornalístico e não fará dentro da plataforma. “Em rede social, então, é ainda pior, pois o público não está ali pra ver notícia; elas aparecem por acaso. Esse consumo casual de notícias no newsfeed é algo que a pesquisa da Reuters indica já há alguns anos. E mais: há dúvidas importantes aí, por exemplo: qual vai ser o revenue share do Facebook? Quem terá acesso aos dados desse assinante?”, provoca.
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