Assinar

Por que o Instagram recuou nas mudanças da plataforma?

Buscar

Por que o Instagram recuou nas mudanças da plataforma?

Buscar
Publicidade
Mídia

Por que o Instagram recuou nas mudanças da plataforma?

Após críticas, a rede social da Meta recua nas versões testes do feed em tela cheia e diminui posts recomendados no feed, mas mantém foco no Reels


29 de julho de 2022 - 11h33

Depois de muitas reclamações, o Instagram anunciou nesta quinta-feira, 28, que vai voltar atrás em algumas atualizações que estavam deixando os usuários insatisfeitos nas últimas semanas. A versão teste que estava sendo feita com alguns usuários desde maio, que deixava o feed do aplicativo em tela cheia, como no TikTok, será desativada nas próximas semanas. A rede social também irá diminuir temporariamente o número de postagens recomendadas no feed principal, ou seja, aquelas de perfis que os usuários não estão seguindo.

O anúncio do recuo nas mudanças da plataforma foi feito por Adam Mosseri, CEO do Instagram, em entrevista à newsletter Platformer. Ao Meio & Mensagem, um porta-voz da Meta, proprietária do Instagram afirmou: “Entendemos que as alterações no aplicativo demandam adaptação e, embora acreditemos que o Instagram precisa evoluir à medida que o mundo também se transforma, queremos tomar o tempo necessário para garantir que isso seja feito da melhor forma possível”.

O recuo acontece em meio à crescente frustração dos usuários em relação às mudanças da plataforma para se tornar cada vez mais parecida com a sua principal concorrente do momento, o TikTok, que vem crescendo cada vez mais. De acordo com relatório do Business of Apps, em 2021 o faturamento do TikTok subiu 142% em relação ao ano anterior, alcançando US$ 4,6 bilhões.

Porém, não são só os usuários casuais que estão insatisfeitos com a plataforma. Os criadores de conteúdo, que trabalham com as redes sociais, também têm manifestado o seu descontentamento publicamente.

 

https://twitter.com/samiraclose/status/1545568975228125185?t=0_A5Ls3mRL09VUpITKiNIw&s=08

Além das mudanças do formato do feed e das recomendações, nos últimos tempos o algoritmo do Instagram tem priorizado o alcance dos Reels, outro formato inspirado nos vídeos curtos do TikTok. A plataforma tem deixado de ser uma rede social de fotos, que era a sua essência, e está se tornando cada vez mais uma rede social de vídeo.

Essa mudança de fotos para vídeos também tem gerado a insatisfação dos criadores não só no Brasil, como no mundo. Na última segunda-feira, 25, as irmãs influencers, Kylie Jenner e Kim Kardashian compartilharam uma postagem que tinha um link para uma petição para fazer a rede social voltar a ser o que era antes. “Faça o Instagram ser o Instagram de novo. Pare de tentar ser o TikTok, eu só quero ver fotos fofas dos meus amigos. Sinceramente, todo mundo”, dizia o post. Vale lembrar que Kim tem 326 milhões de seguidores na plataforma, e Kylie, 361 milhões.

 

https://twitter.com/nathfinancas/status/1544117071931482112?ref_src=twsrc%5Etfw

Como uma resposta às reclamações, o próprio CEO do Instagram, Adam Mosseri, veio à público comentar sobre as mudanças. Apesar de enfatizar que a rede social continuará apoiando as fotos, ele disse que acredita que “cada vez mais o conteúdo no Instagram irá se tornar vídeo ao longo do tempo”. Segundo Mosseri, isso está acontecendo, porque as pessoas estão compartilhando, curtindo e consumindo mais vídeos de forma geral na plataforma.

Na mesma postagem, na terça, 26, o CEO falou que o feed em tela cheia estava sendo testado com uma pequena porcentagem dos usuários, mas que a nova interface ainda não estava boa o suficiente. “Também quero ser claro, ainda não chegamos lá, e vamos precisar chegar a um bom resultado se quisermos lançar essa experiência para o resto da comunidade do Instagram”, disse.

Por fim, na publicação, Mosseri também comentou a respeito das recomendações no Feed. Segundo ele, a ideia das recomendações é ajudar os usuários a descobrir coisas novas e interessantes no Instagram. “Agora, se você está vendo em seu Feed recomendações que não te interessam, isso significa que estamos fazendo um trabalho ruim na classificação e precisamos melhorar”, completou.

Nos primeiros meses deste ano, a plataforma ainda criou outras duas opções de feed, além desse que conta com recomendações: o feed Favoritos, que permite a seleção de até 50 perfis como favoritos que são vistos na ordem cronológico, e o feed Seguindo, que retoma o esquema dos primeiros anos do Instagram, cujas postagens aparecem na ordem cronológica e somente de pessoas que o usuário está seguindo.

 

Vale lembrar que dias depois, nesta quinta-feira, 28, a plataforma voltou atrás na implementação dessas mudanças. “Estou feliz por termos arriscado – se não falhamos de vez em quando, não estamos pensando grande o suficiente ou ousados o suficiente”, disse o CEO o sobre o teste do feed em tela cheia, em entrevista à newsletter Platformer. “Mas definitivamente precisamos dar um grande passo atrás e nos reagrupar”, salientou.

Em relação aos vídeos, Mosseri disse essa mudança de foco pode ser observada há bastante tempo, mesmo antes do crescimento do TikTok, seu atual concorrente. Apesar disso, o CEO admitiu que os testes do Instagram nessa direção ainda não deram certo. Ao Meio & Mensagem, um porta-voz da Meta reforçou que o Reels é o formato que mais cresce no Instagram, sendo responsável hoje por 20% do tempo que as pessoas passam na plataforma. “Isso não significa que outros formatos, como fotos, não sejam mais relevantes ou que não estarão mais integrados ao aplicativo, mas mostra que o Instagram hoje é uma plataforma diferente de quando foi lançada e evoluiu ao longo do tempo com as mais diversas possibilidades e formatos”, completou.

Impacto nos creators

Todas essas mudanças na plataforma, que ocorrem quase que diariamente, acabam impactando de forma direta o trabalho dos criadores de conteúdo. Ana Paula Passarelli, fundadora e COO da Brunch, explica que isso ocorre porque o modelo de negócios dos criadores de conteúdo mudou, passou do blog, um lugar controlado pelo próprio “blogueiro”, para a plataforma social, um lugar controlado por uma empresa de tecnologia.

“O conteúdo não é mais seu. Logo, você também abre mão do modelo de controle, porque esse controle é dado pelo algoritmo”, pontua. Ainda segundo ela, não existe um arranjo comercial que consiga ser eficiente para ambas as partes: criadores e plataforma, por isso acontece esse descontentamento por parte dos creators.

Nathan Araújo, fundador da página Nana Rude, perfil entretenimento do Instagram, que integra o casting de agenciados da Banca Digital, que sente que essas mudanças do algoritmo a bastante tampo, concorda com Ana Paula. “Como usamos uma plataforma que não é nossa, sempre estamos sujeitos a esses testes que eles fazem. É uma busca tão grande pela melhora, que em algum momento fica muito ruim”, completa.

Tanto Ana Paula, quanto o Flávio Santos, CEO da MField, entendem que a mudança do Instagram para se tornar uma rede social mais de vídeo está em linha com o que é mais consumido hoje em dia. “O Instagram percebeu, talvez, nesse momento de isolamento social que as pessoas estavam exigindo que a plataforma fosse uma plataforma de entretenimento, muito mais do que um álbum de foto. E para ser uma plataforma de entretenimento, você precisa reter aquelas pessoas e não há nada melhor para a retenção do que vídeo”, salienta o CEO.

“Temos sido cada vez mais impactados por conteúdos fragmentados, por exemplo, os cortes de podcast”, destaca a COO da Brunch. Entretanto, Ana Paula alerta que é preciso tomar cuidado, tanto como criador quanto como marca para não se comunicar apenas através de fragmentos, porque assim o seu público acaba não entendendo a sua construção de marca.

Para Thiago Cavalcante, especialista em marketing de influência, fundador e CSO da Inflr, essa mudança, que passou a mostrar mais recomendações no feed no início deste ano limitou um espaço que já era muito concorrido, acaba diminuindo o engajamento e o alcance dos creators. Por outro lado, ele enfatiza que as redes sociais precisam de atualização e que os criadores têm que se reinventar para continuarem relevantes. “A pessoa precisa começar a decifrar dentro daquele universo o que funciona ou não”, completa. “É normal, tem que se adaptar”.

A COO da Brunch concorda que é preciso de atualizações, mas reforça que a grande causa desse descontentamento com as mudanças não são as mudanças de fato, mas, sim, a falta de informação sobre elas. “A ausência dessa informação por parte das plataformas com os criadores é o que acaba gerando o descontentamento”, ressalta. “Você deixa o criador refém dentro de uma negociação”.

Toda essa situação de adaptação tem gerado um desgaste na saúde mental dos influenciadores, que têm cada vez mais enfrentado crises de ansiedade e estresse. No ano passado, a Brunch fez uma pesquisa em parceria com a YouPix que mostrou que os influenciadores brasileiros são “Dependentes Algorítmicos”, ou seja, eles não têm casa própria, dependem dos algoritmos das plataformas sociais. “Essa ausência do controle é exatamente o que está construindo esses níveis de ansiedade no criador”, frisa Ana Paula.

O fundador da página Nana Rude, que entende essa realidade, dá dicas de como não sofrer tanto com os números na plataforma. “Se especialize em alguma coisa e acredite no seu conteúdo e, dentro do seu conteúdo, tente procurar soluções para driblar esse algoritmo”, ressalta. “Tem que acreditar no seu conteúdo e saber que os números não te definem”. Santos, CEO da MField reforça esse pensamento. “Sempre falo que não podemos ser reféns do algoritmo. A plataforma vai entender o seu volume e formato de conteúdo e vai entregar na qualidade certa. É muito sobre entender que todo mundo tem o seu momento, formato e conversa com a sua comunidade”, complementa.

Não é o fim

Apesar de todas as críticas à plataforma, de acordo com os especialistas esse, definitivamente, não é o fim do Instagram, até porque segundo dados de um levantamento da Comscore, a rede social ainda é líder em engajamento entre plataformas digitais. “É muito difícil as pessoas se desprenderem. Todo mundo reclama, entende que é um vício, mas eu entendo que as plataformas em ciclos, elas vão se adaptando”, pontua Santos.

Cavalcante, especialista em marketing de influência, fundador e CSO da Inflr, acredita que o Instagram vai continuar por um bom tempo ainda como líder em engajamento entre as plataformas, muito por conta do pensamento inovador de Mark Zuckerberg. Inclusive, nesta semana, quando a Meta anunciou seus resultados trimestrais, que apontam uma ligeira queda na receita geral e de publicidade em comparação com o segundo trimestre de 2021, Zuckerberg defendeu as grandes mudanças da Meta nos últimos anos, como o pivô para o metaverso e a reorganização de seus aplicativos de mídias sociais para competir com o TikTok. “Estamos confiantes de que o Reels aumentará o engajamento geral e, eventualmente, monetizará como o Feed”, explicou Zuckerberg, em conversa com analistas.

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • ANPD acusa TikTok de tratamento irregular de dados de menores

    ANPD acusa TikTok de tratamento irregular de dados de menores

    Autoridade Nacional de Proteção de Dados pede que rede encerre "feed sem cadastro" e fortaleça mecanismo de verificação de idade

  • Uncover leva marketing mix modeling para empresas de médio porte

    Uncover leva marketing mix modeling para empresas de médio porte

    Martech visa expansão de negócios com solução para clientes menores e estratégia de internacionalização