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Mídia

“Pós-verdade parou glamour das redes sociais”

Frase de Marcelo Rech deu o tom do fórum da Aner sobre mídia e pós-verdade, que reuniu especialistas para debater este e outros temas


4 de abril de 2017 - 16h25

Nesta terça-feira, 4, a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner), reuniu profissionais do setor para discutir pós-verdade, alternativas para a alfabetização midiática e o papel de empresas digitais na questão.

Marcelo Rech. (Crédito: Rafael Renzo).

Marcelo Rech. (Crédito: Rafael Renzo).

“Notícias falsas sempre existiram, mas criou-se uma indústria da pós-verdade com as mídias sociais, que utilizam recursos de geolocalização de anúncios e remuneram quem tem mais compartilhamentos”, avaliou Carlos Eduardo Lins da Silva, jornalista e ex-ombudsman da Folha de S.Paulo, ao mencionar empresas criadas para a divulgação de notícias falsas criadas com fins econômicos ou ideológicos. Exemplo mais conhecido do impacto desse fenômeno, a eleição de Trump envolveu, por exemplo, adolescentes da Macedônia em busca de dinheiro.

Mais recentemente, anúncios no Google veiculados em páginas com discursos de ódio e violência causaram alvoroço entre grandes anunciantes. “Pela primeira vez após anos, houve uma interrupção no processo de glamourização das redes sociais, e empresas como Google e Facebook passaram a dar explicação sobre o efeito colateral e não-planejado de seus algorítimos”, disse Marcelo Rech, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ).

De acordo com Carlos Eduardo Lins, o descrédito da imprensa vem também da crise de credibilidade de todas as instituições tradicionais, como igreja, governos, publicidade e institutos de pesquisa. A falta de pesquisas, especialmente no contexto brasileiro, torna ainda mais difícil entender o que leva as pessoas a compartilhar notícias falsas. O motivo, na opinião do filósofo Luiz Felipe Pondé, são as bolhas ideológicas.

“As pessoas consomem e compartilham informações falsas, conscientes ou não, porque vão de encontro à opinião que elas têm. A melhor coisa para o jornalismo foi o Trump ter ganhado as eleições, para finalmente falarmos sobre isso. Com sua figura ressentida e intolerante, ele foi o primeiro a usar o termo. Se a frase tivesse sido dita pela Hillary ou outra pessoa, não teria elencado tantos professores em torno do tema”, opinou.

Em um mercado regido cada vez mais pelo entretenimento, o desejo por diversão passa a orientar o consumo de notícias, de acordo com a avaliação do jornalista e professor Eugênio Bucci. Ele acredita que o consumo é segmentado em interesses, e as pessoas consomem notícias da mesma forma com que consomem games, filmes e música. “Somos uma sociedade que consome notícias pela emoção e prazer, e não pela razão. Isto acaba orientando o mercado”, disse.  

Paulo Tonet Camargo, presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), afirmou que o trunfo dos veículos tradicionais está no posicionamento, já que leitores sabem a quem cobrar em caso de erros e informações equivocadas. “É diferente das redes sociais, onde não há auditoria ou regulamentação de natureza jurídica ou de conteúdo. As redes sociais se dividem entre o mercado vegano e o açougue, que naturalmente não se conversam. O nosso posicionamento tem que ser o do supermercado, que irrita os dois lados”, brincou.

Regulamentação e alfabetização midiática

Ensinar as pessoas a questionarem as narrativas e distinguirem notícias verdadeiras de falsas foi considerado um dos principais desafios da atualidade. Poucos dias após a celebração do primeiro dia internacional de fact-checking (em 2 de abril), a verificação de dados também foi pontuada como um dos pilares para a preservação do jornalismo.

“Mesmo nos seus melhores momentos em termos financeiros e de negócios, empresas de mídia dedicaram recursos mínimos para a alfabetização midiática. Cobrar isso hoje é utópico, porque os veículos mal conseguem sobreviver no modelo de negócios atual, mas sempre foi necessário que eles de alguma forma ajudassem escolas e institutos de pesquisa a fazer com que a sociedade seja mais bem treinada nesse sentido”, pontuou Carlos Eduardo.

E se por um lado as plataformas e empresas digitais tentam criar barreiras de contenção para a pós-verdade, governos também tentam chegar em uma alternativa sólida. No brasil por exemplo, o Projeto de Lei 6812/2017 prevê multa e até cumprimento de pena prisão para quem produzir e disseminar notícias falsas.

“Esse tipo de projeto é um perigo, pois quem vai definir o que é notícia falsa? Para Trump, tudo o que o NYT e a CNN publicam é falso. Se uma lei dessa for aprovada, um colunista ou organização pode ser punida com base na opinião de um presidente, promotor ou juiz.  Não é conveniente procurar abrigo em governo e justiça, pois é um problema social e cultural que deve ser resolvido culturalmente”, diz ele, argumentando que as punições existentes por injúria e difamação já são o suficiente para arcar com abusos da liberdade de expressão.

Marcelo Rech, da ANJ, acredita que a sociedade e o mercado já observam um processo de reversão, ainda que muito embrionário. Ele afirma que, aos poucos, as pessoas vão passar a checar informações para não “se passarem por tolas”. Já as marcas terão cautela para não colocar reputação em jogo.

 

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