Barbie e Turma da Mônica: qual é o apelo das live-actions?
Produções nesse formato encaram o desafio de atender às expectativas de fãs de obras já existentes e, ao mesmo tempo, fomentam novas obras
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Giovana Oréfice
27 de abril de 2023 - 6h03
Há algum tempo, as redes sociais vêm sendo inundadas com manifestações dos usuários sobre anúncios de produções live-action. Um dos casos mais recentes é o filme Barbie, inspirado na boneca da Mattel, dirigido por Greta Gerwig e distribuído pela Warner Bros. Discovery. O longa, estrelado por Margot Robbie como Barbie e Ryan Goslin no papel de Ken, tem estreia marcada para 20 de julho.
Outras empresas de mídia também vem apostando em peso em produções do tipo. Nas últimas semanas, as mídias sociais vem assistindo à especulações sobre o elenco escolhido para a produção do live-action da animação Lilo & Stitch, lançada em 2002. No Brasil, inclusive, o Globoplay apostou nos quadrinhos de Maurício de Souza para dar vida aos personagens da Turma da Mônica.
Para Fernando Fraiha, diretor e roteirista sócio da Biônica Filmes – produtora responsável pelos projetos de Turma da Mônica – Laços, de 2019, e Turma da Mônica – Lições, de 2021 -, as adaptações para live action de obras já literárias e comics tem um lugar importante no mercado. Os números dizem por si só: o longa-metragem Turma da Mônica – Laços arrecadou R$ 1 milhão em bilheteria e levou mais de 1,5 milhão de espectadores para frente das telonas. As informações são do AdoroCinema.
“O público quer ver os ícones que permearam a vida de alguma forma no cinema. As adaptações para live-action que partem de obras literárias de sucesso têm fãs antes mesmo de acontecer”, diz Fraiha. “A adaptação para o audiovisual a partir de PIs (propriedades intelectuais) já ativadas gera enorme reconhecimento do projeto mesmo antes de ser feito. O projeto já habita o imaginário de um nicho ou, em alguns casos, de todo o país. O interesse do financiador é infinitamente maior”, afirma. O diretor está à frente do novo filme da franquia da Turma da Mônica, Chico Bento e a Goiabeira.
De fato, há investimento significativo nessas produções. A Rubi Produtora está trabalhando ao lado da Urca Filmes no projeto do filme Authentic Games: No Império dos Sem WiFi. A produção foca em história fictícia envolvendo o criador de conteúdo gamer Marco Túlio, à frente do canal no YouTube Authentic Games. A Disney, coautora da obra, já investiu R$ 3 milhões, enquanto o UOL foi responsável por R$ 2 milhões.
Apesar do fato de não existirem fórmulas prontas e certeiras para o sucesso de uma produção cinematográfica, um fator é levado em consideração, sobretudo, em live-actions: a sensibilidade do diretor e do roteirista. O senso aliado à estratégias de adaptações claras são determinantes.
Para além desses pontos, indicados pelo diretor e roteirista-sócio da Biônica Filmes, o primeiro passo é a escolha do roteiro – se será baseado em história específica que já foi contada ou se será criado um novo roteiro a partir de ideia original. Na sequência, vem a busca do elenco e locação, seguidas da linguagem, escolhas narrativas e caracterização dos personagens.
Já Patrícia Chamon, produtora na Rubi, diz que o papel “admite tudo”. A atenção e os desafios aparecem na adaptação de embocadura, aparência do elenco, bem como tons de personagens e, claro, fãs cheios de expectativas. Outro fator que contribui positivamente é o acompanhamento dos criadores das obras originais, como é o caso de Maurício de Souza, que conhece o elenco escolhido para a produção, por exemplo.
O que é necessário para que a produção se mantenha fiel à obra original? Quando a Disney comunicou a escalação de Halle Berry como Ariel, personagem de A Pequena Sereia, diversas críticas surgiram pelo fato da atriz, negra, interpretar personagem branca e ruiva, como representada na animação.
A produtora da Rubi alerta: “O termo fiel é muito forte, ele engessa o processo. Ao tornar humano um personagem tudo passa a ter tom mais intenso, o que comprova que nem sempre se pode ser fiel”. Ela salienta também que outro ponto importante é a questão do tempo, dos hábitos e costumes que carecem de ajuste na medida em que se adapta uma obra.
Contudo, deve haver reconhecimento da responsabilidade e humildade, conforme aponta a produtora, de se curvar diante da criação pré-existente de maneira respeitosa e sem perder a criatividade. “Escolher que obra trabalhar leva muito em consideração a base de fãs, seu engajamento e o público que a obra derivada vai comunicar, visto que a transferência de público não é algo líquido e certo”, finaliza.
A percepção do público é algo que vem recebendo mais cuidado por parte das empresas. A Disney, por exemplo, realizou o recast de Kahiau Machado, ator que interpretaria o personagem David na live-action de Lilo & Stitch. De acordo com informações do The Hollywood Reporter, a decisão ocorreu após a descoberta de postagens racistas por parte do ator. Ao que tudo indica, Machado foi substituído por Kaipo Dudoit. O elenco oficial ainda não havia sido anunciado.
Ademais, a mescla da arte com a vida real pode ser um indicativo da expectativa e aceitação do público. Quando o primeiro trailer de Barbie foi lançado, no início do mês, usuários das redes utilizaram a inteligência artificial para criar pôsteres personalizados do filme. A divulgação da arte contou com figuras conhecidas, como a cantora Dua Lipa:
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