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Quais são os possíveis rumos da IA sob o governo Trump?

Especialistas detalham impacto global de investimentos dos EUA destinados à IA e do poder concentrado em big techs, bem como possíveis implicações para o Brasil


5 de fevereiro de 2025 - 6h02

Na mesma semana em que assumiu a presidência dos Estados Unidos, Donald Trump anunciou o Stargate, uma iniciativa privada que prevê injetar US$ 500 bilhões em infraestrutura de inteligência artificial nos próximos quatro anos.

O projeto será financiado pelo SoftBank – cujo CEO, Masayoshi Son, será o líder –, e OpenAI, que entram como parceiros oficiais. Já Oracle, MGX, Nvidia, Arm e Microsoft são os parceiros de tecnologias iniciais. Datacenters já estão em construção no Texas, e a previsão é de construir dez deles inicialmente.

trump IA

(Crédito: Pixels Hunter/Shutterstock)

O intuito, de acordo com Trump e com os CEOs envolvidos no Stargate, é garantir a liderança no que diz respeito à tecnologia, apoiar a reindustrialização dos Estados Unidos e proporcionar capacidade de proteção da segurança nacional do país e de seus aliados.

Marcos Facó, diretor de comunicação e marketing da Fundação Getúlio Vargas (FGV), faz alusão à disputa entre países pela liderança em armas nucleares, antes bastante decisivos para o desenvolvimento progressivo das superpotências – e que, agora, dá lugar ao domínio da tecnologia. “O que se prenuncia é uma corrida, em vez de armamentista, tecnológica, em busca de uma capacidade de IA cada vez maior”, afirma o diretor.

Ainda que se trate de uma iniciativa financiada por um grupo de big techs, há um governo inteiro dando relevância à temática, atenta Eric Messa, coordenador dos cursos de graduação em Publicidade e Relações Públicas da FAAP. Os líderes das gigantes de tecnologia, como Google, Meta, Microsoft e Amazon, estiveram presentes com destaque na cerimônia de posse de Trump – um sinal da aproximação com o novo governo. Cada uma doou US$ 1 milhão para a ocasião.

“Veremos uma aceleração na evolução dessa tecnologia. Entendo que não só, claro, nos Estados Unidos, mas em demais países e empresas específicas, porque temos também as big techs, em que muitas delas têm um poderio financeiro maior que muitos governos”, reforça.

Desenvolvimento e regulamentação

Os especialistas alertam para o fato de que, neste novo curso, a aplicação da inteligência artificial não anda na mesma velocidade com a qual se desenvolve. Trump revogou uma ordem executiva assinada por Joe Biden em 2023, que impunha limites éticos para o desenvolvimento de ferramentas do tipo no país a fim de reduzir riscos potenciais da IA para a sociedade.

“Trump está realizando sua processa de revogar a perigosa ordem executiva do Biden que retarda a AI e coloca controle caro e desnecessário sobre o seu desenvolvimento. Isso vem dizer algo muito grave. Se olharmos o que chamam de perigoso, é simplesmente colocar limites éticos”, opina Leandro Tessler, professor da Unicamp e gestor científico de educação e difusão do conhecimento no Centro de Pesquisa em Inteligência Artificial – Brazilian Institute of Data Science (BI0S). “Trump vem em um segundo mandato com muito mais respaldo político que tinha antes”.

Para Tessler, a movimentação mira, além de colocar os EUA na vanguarda da tecnologia, criar uma mobilização também entre seus seguidores e eleitores.

A determinação de Biden exigia que os desenvolvedores de sistemas de IA que eventualmente pudessem oferecer riscos à segurança nacional, economia ou saúde pública, por exemplo, deveriam compartilhar resultados dos testes com o Governo.

Um dos caminhos, segundo Messa, seria a adoção de medidas de contenção, importantes para determinar que a evolução das soluções seja desenvolvida e acompanhada de entidades, áreas, governos e empresas preocupadas. “A contenção não significa o interesse em interromper o avanço dessa tecnologia, mas sim uma preocupação em evitar que ela caia em mãos de pessoas não adequadas a lidar com isso”, diz o coordenador.

EUA versus China

Na última semana, a ascensão da DeepSeek repercutiu globalmente, sobretudo, nos Estados Unidos. Uma das grandes questões que surpreendeu os usuários e o mercado foi a capacidade tecnológica da ferramenta frente aos concorrentes, com um custo de desenvolvimento e treinamento significativamente menor – menos de US$ 6 milhões.

A relação diplomática entre os países já tem sido estremecida. Apesar do adiamento da determinação de suspensão do TikTok, da chinesa ByteDance, Trump assinou na última segunda-feira, 3, a ordem de criação de um fundo soberano que poderia ser utilizado para adquirir a plataforma. Além disso, as relações comerciais estão sendo marcadas pela tarifa de 10% imposta às importações do país. Uma das formas de retaliação foi a abertura de uma investigação antitruste sobre o Google.

“É muito possível que o governo Trump construa uma narrativa de promover uma certa insegurança das pessoas com o uso de tecnologias que venham da China. É possível que eles reforcem isso com relação à inteligência artificial para diminuir o impacto que o DeepSeek e outras que venham na sequência causem ao redor do mundo e afetem os Estados Unidos diretamente”, alerta Messa.

O professor da Unicamp relembra, ainda, que o governo Biden vinha buscando restabelecer a liderança na capacidade de produção de semicondutores – bastante utilizados na indústria de alta tecnologia – e reduzir a dependência de importações. A atual líder global, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co (TSMC), chegou a ser impedida pelos EUA de enviar chips a clientes da China para aplicação em sistemas de IA e processamento gráfico (GPU).

Mas, mais importante do que a performance do modelo da DeepSeek, aponta Tessler, é o fato de que a tecnologia opera sob uma licença de código aberto, ou seja, qualquer um pode ter acesso ao código fonte e treiná-la para fins de uso comercial. “Isso vai trazer muitas mudanças dentro da IA”, declara. Entre as possíveis implicações está a IA nas mãos de pequenas empresas ou até mesmo pessoas físicas eventualmente mal intencionadas, complementa Messa.

Nova configuração de mercado

De maneira geral, Trump tem pautado suas ações sobre a desregulamentação da economia em busca da primazia dos EUA sobre o restante do mundo. Aliado ao poder concentrado nas big techs, o cenário se intensifica. De acordo com Facó, da FGV, quanto mais poder concentrado nas gigantes da tecnologia, e não apenas as norte-americanas, mais o se elevará à disputa de escolha do consumidor.

O coordenador defende que, a partir da potencialização dos agentes de IA, cada vez mais solicitações pessoais serão feitas. Assim, a Internet nos moldes atuais poderá sofrer alterações. “Não serão webpages nos conceitos em que buscamos por palavras, será uma busca por agentes artificiais falando com outros agentes enviesados”, diz. “Esses vieses de algoritmos vão ser a grande questão e problema que teremos. É uma caixa preta”, alega Facó.

Frente a esse cenário, detalha, a tendência é de que o mercado de agências se consolide cada vez mais em torno de empresas multinacionais e agências multidisciplinares que têm condições de investimento em tecnologia maior, uma vez que marcas deverão vender diretamente para os agentes, em vez de consumidores.

Brasil em questão

Em setembro do ano passado, o financiamento à IA no Brasil já havia passado de R$ 2 bilhões, conforme indicado pela Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) ao Globo. Além disso, o País deverá destinar R$ 23 bilhões a investimentos relacionados à agenda tecnológica até 2028.

Partindo do pressuposto da desregulamentação apontada por Facó, ele indica que o Brasil toma um papel político forte no relacionamento entre governos. Caso parcerias com empresas norte-americanas não sejam tão favoráveis, argumenta o coordenador, a opção brasileira será se aliar cada vez mais com a China via BRICS. “É uma previsão muito difícil de se fazer. Acredito que isso não será uma questão generalizada brasileira, mas muito mais pontual e empresarial, entre grandes empresas e bancos, de que tecnologias deverão fazer uso e se aliar”, comenta.

Contudo, existem algumas ressalvas no que diz respeito ao montante investido frente a outros países, como Estados Unidos e a própria China, de acordo com Tessler. “A impressão que tem é de uma percepção nacionalista que não entendeu muito bem ainda como funciona e o que é a IA”, aponta. Uma alternativa, segundo ele, seria aproveitar grandes modelos de linguagem e outras plataformas de software aberto para desenvolver soluções para problemas relevantes do País.

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