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Rodrigo Teixeira: “Cinema nacional ainda é visto como gênero”

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Rodrigo Teixeira: “Cinema nacional ainda é visto como gênero”

Produtor de obras como Me Chame Pelo Seu Nome e A Bruxa conta sobre o trabalho no Brasil e em Hollywood


13 de maio de 2019 - 7h00

Rodrigo Teixeira. Foto: Divulgação

Enquanto a maioria dos títulos do cinema mundial são categorizados em gêneros como aventura, comédia ou terror, por exemplo, o cinema brasileiro ainda é visto como gênero único pelo espectador local, na opinião do produtor Rodrigo Teixeira, fundador da RT Features. Ele esteve na equipe de produção de longas brasileiros como O Cheiro do Ralo e Tim Maia e no mercado internacional com filmes como Frances Ha, A Bruxa e Me Chame Pelo Seu Nome — vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em 2018.

Para ele, o desafio do mercado brasileiro é formar público que vá além dos blockbusters americanos e grandes comédias brasileiras. “É uma barreira que precisamos vencer”, afirma Rodrigo, que tem a agenda cheia em 2019. Na semana passada, por exemplo, anunciou um curso online de produção criativa para cinema em parceria com a startup de ensino à distância Navega.

No próximo mês, levará três projetos ao Festival de Cannes: Port Authority, produzido junto a Martin Scorsese e dirigido por Danielle Lessovitz; A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, dirigido pelo brasileiro Karim Aïnouz; e The Lighthouse, com direção de Robert Eggers (mesmo diretor de A Bruxa) e estrelado por Robert Pattinson e Willem Dafoe. Também produziu, este ano, o thriller de ficção científica Ad Astra, com Brad Pitt e Tommy Lee Jones no elenco, que está em finalização.

Em entrevista ao Meio & Mensagem, Rodrigo falou do momento atual do cinema brasileiro e das particularidades de se trabalhar com filmes considerados “cult”.

Meio & Mensagem – Como é seu processo para selecionar projetos, incluindo formato de produção, diretores e locação de um filme?
Rodrigo Teixeira –
Quando faço filmes no Brasil, eu mesmo faço a produção toda. Já projetos fora do País exigem uma escolha estratégica na hora de escolher os parceiros. A escolha de diretores e locação varia muito de acordo com o projeto. Primeiro penso quais vão ser os objetivos do filme, para que tipo de público, e só então avalio se vou chamar um diretor estreante ou alguém consagrado. O trabalho do produtor é justamente esse, de estabelecer relações específicas de acordo com cada projeto.

O governo precisa dialogar com a cultura. Cultura não é política, é um bem do País e de expressão do povo, e quando se usa o tema cultura como plataforma política, cria-se um problema

Você já produziu desde filmes com orçamento menor, como Frances Ha, até longas com grandes estrelas e diretores, como os projetos recentes que fez com Martin Scorsese. Qual é a principal diferença entre estas duas dinâmicas?
Em filmes de baixo orçamento você tem mais controle e eventualmente pode até produzir sozinho, enquanto em projetos com orçamento mais parrudo você pode ter parceiros com mais poder financeiro, mas ao mesmo tempo eles vão impor regras e o desafio é se adaptar a estas regras.

Alguns filmes que produziu são considerados “cinema de arte” e ficam restritos a circuitos de nicho, enquanto algumas de suas produções internacionais, mesmo que independentes, chegaram ao mainstream. Por isso acontece?
O cinema americano domina a cinematografia do mundo e tem uma capacidade comercial muito superior, e, por isso, mesmo os filmes de arte e os chamados cult já nascem muito maiores. Infelizmente o cinema brasileiro é visto como um gênero e não deveria ser, é uma barreira que precisamos vencer. Temos um problema de formação de plateia, e nos últimos anos perdemos ainda mais público nos cinemas. Até algum tempo atrás tínhamos cinemas de rua que atraiam uma plateia mais simples, e hoje em dia isso desapareceu. Ir ao cinema é caro e o tipo de cinema mais acessível é o comercial americano ou as comédias brasileiras, o que significa que outras cinematografias não estão sendo vistas.

Vê algum desafio específico em trabalhar com filmes de arte?
O que queremos sempre é fazer filmes que sejam vistos. Na produtora, fizemos filmes de arte que tiveram resultados comparáveis a filmes maiores. A Bruxa, por exemplo, é um filme de arte e que teve resultado fabuloso de vendas. Às vezes, o que consideramos filme de arte tem uma capacidade de acessar lugares que nem imaginamos.

O cinema nacional costuma depender de linhas de fomento público. Como vê o impacto das mudanças recentes na Lei Rouanet e da paralisação da Ancine sobre a área?
Sobre a Lei Rouanet, acho que cortar o teto de valor de projetos de R$ 60 milhões para R$ 1 milhão é muito drástico. Podemos até pensar que os valores podem ser revistos, mas acho que deveria haver um processo gradativo e com diálogo. O governo precisa dialogar com a cultura. Cultura não é política, é um bem do País e de expressão do povo, e quando se usa o tema cultura como plataforma política, cria-se um problema. Do outro lado, temos subsídios do FSA que não facilitam a produção, e a Ancine tem uma série de normas que precisam ser cumpridas. Agora existe uma questão entre a Ancine e o TCU que precisa ser resolvida, mas através do diálogo. É um problema esta falta de conversa e a agressividade do governo atual com a classe cultural, como se ela fosse inimiga do Estado.

Enquanto produtor, como vê a ascensão da figura do showrunner no audiovisual? Pensa em assumir este papel na produção de séries, por exemplo?
O showrunner nada mais é do que um produtor criativo, um cara que consegue montar times criativos e tocar a entrega de um projeto, sendo que algum deles também roteirizam. De certa forma, me tornei um produtor criativo e reconhecido nesta posição. Teria o maior interesse em fazer séries como showrunner, acho que é só uma questão de bloquear a agenda e fazer com que este trabalho não atrapalhe outros projetos.

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